linha do norte
terça-feira, julho 31, 2007
segunda-feira, julho 30, 2007
Pequena rota pela direita
Sai cedo antes que o sol te deite no saco-cama a apanhar o seu olhar. Veste-te de fresco e leva fruta e água para o caminho. Apenas por meu desejo, veste os calções de Valladolid e a t’shirt de Hong Kong. Passa a cancela de madeira e segue pela direita a estrada de terra batida. De vez em quando surgem mimosas e uma das nossas fotografias ainda por revelar. Logo abaixo, do lado direito, um pequeno carvalhal ainda resiste como uma ilha no oceano. Continua a descer. Passa a ponte sobre o rio. Bebe na ponta da ponte uma mão cheia de água. A capela aparece logo a seguir à sombra do cipreste. Entra. Reza uma ladainha a nosso favor à Sra. do Círculo. Logo após a capela, uma bifurcação. Vai pela direita baixa até à aldeia. Entra na taberna do Adaíl, fala-lhe em francês, bebe um copo de branco fresco, come azeitonas, uma talhada de queijo da mãe (pede, em francês de emigrante, que ele arranja!), molha um pouco de pão no azeite e leva-o aos lábios. Segue o desenho que deixei esculpido a navalha na mesa do canto e, outra vez pela direita, entra na estrada de calçada. Roda pela tua direita até à sombra dos plátanos. Ouve a música que escrevi apenas para ti, que só se ouve de olhos fechados, depois de comeres o primeiro cacho de Cardinal na cepa ao cimo do carreiro. Contorna a vinha e o olival. Entra no caminho de areia e segue as pegadas dos animais. À esquerda estão uns chinelos que deixei para te suavizar o andar e um mapa do caminho recortado na casca de uma laranja. Debaixo da nogueira deixei também a nossa fotografia de quando fizemos isto juntos. Guarda-a para ti! Estende na sombra o saco-cama e espera-me. Pode ser que te apareça e nesse lugar colocaremos a nossa cruz! Nunca faças isto pela esquerda, porque por aí nunca darás com o caminho. Se o fizeres, não terás as fotografias por revelar, a água do rio, o momento de rezar, o copo de branco do Adaíl, o sabor do azeite, o queijo da mãe, a música que escrevi, a sensação das uvas entre os dentes, os chinelos para te suavizar o andar e o mapa perfumado. Se fores pela esquerda, ficas presa na cancela onde da outra vez, debaixo de uma pedra, mulher ao sol, corpo ao sal, pela sua luz perdeste todos estes sabores e o meu coração. sábado, julho 28, 2007
é assim:
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sexta-feira, julho 27, 2007
Disse
O que te tinha para dizer já disse!Ouviste?
Não ouviste!
Tu, que andas tão dispersa à procura de sol
lá nos confins das dunas, onde até o gato preto
te começa a importunar o andar.
Os peixes morrem pela boca.
Os gatos pela falta de sombra que já não fazes.
Os teus homens pelos ouvidos, porque não me ouves
o que te tinha para dizer e já disse!
Os outros homens na ponta de uma bala.
Assim somas incertezas.
Ouviste?
Não ouviste!
Tu, que andas tão imersa à procura de água
lá onde os santuários recriam nascentes, onde até o cão branco
muda de fonte para saciar de ternura o contorno dos lábios.
Os eremitas morrem pelo tédio que criam.
Os cães pela falta do assobio que não assobias.
As tuas mulheres pelos vestidos, porque queres ser
rainha vestida no último templo onde não me restam dúvidas.
As outras mulheres no gume de uma espada.
Assim subtrais números como estrelas.
Ouviste?
Não ouviste!
quinta-feira, julho 26, 2007
amigos II
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amigos I
Etiquetas: amizade
A liberdade da vagabundice
quarta-feira, julho 25, 2007
não gostei
terça-feira, julho 24, 2007
Aferição
segunda-feira, julho 23, 2007
domingo, julho 22, 2007
Coimbra B erão
Coimbra, como todas as cidades com insuficiência de mar, está asséptica. Os comboios fazem o sacrifício de abrandar. O verão levou-lhe a vida para o litoral. Doutores, quase-doutores, nenhuns-doutores fizeram-se à estrada no caminho do iodo. Resta a sua identidade de cidade de serviços, os mínimos, que no verão se sublimam como cristais: os hospitais, a velha universidade dos exames, a função pública e os vendedores de apartamentos vazios à espera da baixa do “spread” de Setembro. O Mondego juntou todas as suas águas e anda às costas com os barcos na Figueira. Esta é a Coimbra real. Esta é a cidade em que nem o contrariado médico de urgência lhe encontra temperatura, aqui acamada pelo último arrumador em busca da derradeira moeda antes de partir.As rotundas estão cheias de outdoor’s a anunciar festas fora daqui. Para quem se não está cá ninguém?
da noite
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prova de vida

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sábado, julho 21, 2007
oferenda
"um livro para todos os dias"

comecei por lê-lo aos filhotes mas depois, à socapa, roubei-o e li-o só para mim. e fiquei a pensar: será que a Isabel queria mesmo, mesmo, escrever só para os pequenos? e tive quase a certeza que não.

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sexta-feira, julho 20, 2007
O arquipélago
Contavam-me hoje ao balcão do café, que um amigo comum passa os dias isolado no seu ofício, vivendo tão isolado, que nem um rádio tem por companhia. Não é compenetração pelo que faz, é isolamento mesmo.
Contei que aprendi com o tempo que o meu local de trabalho é um arquipélago. Somos vários, mas cada gabinete uma ilha. Fazemos do almoço e do copo do fim de tarde a parte comum, mas muitas vezes cada um tem o seu terreno, hino, bandeira, governo e mar, sem sabermos a que porto iremos aportar.
quarta-feira, julho 18, 2007
Saleiro
As tuas tentações (esse desejo de constante desafio, que me obrigam a ir por ti a novos sítios) são nos meus ombros pesados sacos de sal. Na arte dos marenotos, junto-os em pirâmide como os egípcios fizeram dos seus momentos felizes, o sol a pique na pele, o corpo nas suas sombras. Cada fractura desse caminho é um novo desafio percorrido no tempo do sal, onde antes correu um rio, que eram as tuas primeiras palavras demolhadas.O nosso mar, que é também um delta das distâncias, acolherá junto ao porto de abrigo o teu sorriso como um barco de velejar. Dois, três sopros de vento decisivos e o desejo que guardo entre a boca e as cigarrilhas do teu beijo, sempre contrariado como um peixe pescado do mar, que quando aportar será um ruído, som de roca como as sirenes dos navios, a saliva expulsa do sal de que te saberei, quase beijada, falar como pimenta da Índia, lá onde os teus lábios finos saboreiam o colorau sobre os meus lábios, tempero das almas saciadas.
Abre a porta. Cose pão fresco. Põe azeite e ervas aromáticas na taça das azeitonas. Escolhe o melhor vinho que guardaste para esta circunstância de saberes que iria ter contigo a esse novo lugar. Chega o corpo ao avental. Começa. Recria. Escolhe as músicas que ouvimos quando fomos no barco para Marrocos. Poisa na mesa o livro que andas a ler para eu apenas saber, deixando-me salivar o desafio. Acende o fogo. Grelha as palavras ao sal como mariscos. Põe sobre elas o sal grosso dos grelhados com a mesma densidade de cristal dos teus olhos atentos, quando te convenço a ouvir outra vez o nosso tempo na esplanada em que foste sempre senhora de ti.
Queres mais sal?
terça-feira, julho 17, 2007
conversas
Uma boa conversa tem sabor encorpado, consistência quente e é de fácil trago.
O tempo de uma boa conversa é um tempo fecundo. Quente. Um verão inventado.
Uma boa conversa é um eficaz arado na terra que nos semeia a alma e o corpo. Semeia-a - nos.
Mas é mesmo de conversa que falo. Não de tertúlia em torno de um qualquer assunto, que nessas, eu mulher que acho quase nada com convicção, sou mais ouvinte que interveniente. Digamos que este é-me um prazer mais cinéfilo, mais visual, mais a preto e branco na beleza. É conversa, mesmo. Vagarosa. Aleatória. Crua. Feliz ou sofrível. Entediante ou exaltante. Conversa com ou sem fundo, com ou sem mundo.
Apreendo a reconhecer o prazer fecundante dessa saliva, a maturidade deste gosto.
Como novo gosto adquirido, trato de o fomentar. Com o pretexto do meu aniversário, organizei, um mês depois, um jantar de mulheres com mais de quarenta anos. Éramos sete e encostamo-nos num restaurante perto da escarpa do mar que deixou, com a noite, de se ver mas se pressentiu sempre. Endossei o convite com a promessa de uma noite de conversa salgada e o desafio de a acabarmos a dançar. As mulheres maduras tem saudades de dançar, suspeito sempre.(Para facilitar, se necessário fosse, prometi aos maridos que para o ano jantaria só com todos eles). E a noite foi cumprida mas a dança adiada. Certa de que as mulheres maduras tem saudades de dançar.
Fico dias com o sal dessas conversas soltas e destemidas, cruéis e lúcidas, enganadoras e desafiantes. Levo-as comigo carro dentro, estrada fora e vão interiormente a falar comigo as conversas que com outros tive. Estimulante forma de saber a vida esta a de engolir, como água ou vinho tinto, as palavras dos outros e com elas novas sedes matar.
Amanhã organizei jantar de “duas mulheres com maridos em Madrid”, porque me apetece uma conversa e dar-lhe nome como título de romance. Assim será cumprida mais uma noite insuspeitamente vulgar. São estes prazeres pequenos que me salgam a vida.
gaivotas
Etiquetas: blogs, quotidiano
segunda-feira, julho 16, 2007
ainda a história de Amos Oz
acabei ontem à noite o livro de Amos Oz: um livro grosso e pesado, de capa macia, que pude saborear com gula, sem medo que acabasse depressa demais. uma paixão demorada que me agarrou, me envolveu e me fez 640 páginas de sensual companhia. acabei-o ontem: embargada, angustiada e lavada em lágrimas porque só mesmo nas últimas linhas Amos Oz decide escrever que não foi só raiva que sentiu quando a mãe morreu, foi sobretudo desespero remorso impotência saudade e uma dor que o amordaçou durante décadas, até ser capaz de escrever este livro.Etiquetas: Amos Oz, Inês Pedrosa, livros, país de cristal
domingo, julho 15, 2007
A Ibéria: jogada de pedra
A entrevista do Sr. Saramago, publicada no DN, é uma jogada de pedra, um arremesso de sobranceria. Sabemos da sua querela com Lara e Santana; sabemos da sua arte cristalina para a escrita; sabemos da sua crescente arrogância enquanto pessoa e sabemos dos seus «apontamentos», quando em director adjunto do mesmo DN, no ido PREC.O Sr. Saramago é hoje Dom Saramago na ilha de Lanzarote. Se olhasse desse terreiro para os outros pontos cardeais, teria por inspiração a Madeira e os Açores, toda a constelação PALOP e o Altântico que, a par da língua em que tão bem se expressa, dão ainda identidade e grandeza à “sua” Lusitânia.
Como português, velho sem Restelo, dali olha apenas o Oriente, pousando na primeira pedra que encontra, Sidi Ifni, na costa marroquina e por aí se inspira nas “bravas” conquista de Espanha.
Quem passa o zipp fronteiriço entre Portugal e Espanha, entende que, geograficamente, os espanhóis só pararam o seu caminho de conquista para o mar, porque pedras se puseram, primeiro escolho, depois lusitanas, no meio do caminho.
Para contrariar Dom Saramago, Uderzo ainda há-de publicar um «Astérix na Lusitânia» e estou certo, que se o fizer, não esquecerá touradas, Viriato, os leitões para o Obélix e Fernando Pessoa. O nobel, logo se verá, mas do Brasil constará:
“No meio do caminho tinha uma pedra
Carlos Drummond de Andrade
Contra a Ibéria, «hasta la victoria siempre!»
Negócios
Bin Laden tem um preço agora fixado pelo Senado dos EUA em US$ 50 milhões.
David Beckham foi adquirido pelos La Galaxy por US$ 180 milhões.
A Gestifute, de Jorge Mendes, vendeu ao mercado do futebol US$ 320 milhões em jogadores, óptimos, médios, maus e pernas-de-pau.
Na América, a iniciativa privada continua de vento em popa e nós, com outro vento, continuamos os velhos mercadores com a argúcia e o tacto dos costumes. Quanto tempo faltará para a Gestifute adquirir o passe de Bin Laden ao Senado dos EUA?
sábado, julho 14, 2007
música fora da casa
e as harpas, o seu dedilhar vindo directamente do mundo dos sonhos e das fadas. depois do "João e o pé de feijão" foi o mais perto que já estive de uma harpa.
Etiquetas: Casa da Música, música, Orquestra Nacional do Porto
noite verão
Os dias de verão têm duas distinções: os dias de trabalho e os fins-de-semana. Andar na rua, em dia de trabalho, com calor é um arfar pesado, um movimento custoso, um respirar desesperado. Andar na rua, em dia de descanso, é um prazer opressivo mas contornável na procura da sombra do lado da rua, no tacto da cal, na invenção da água. Nos dias quentes nada é mais gratificante que a sombra do quarto e o frio dos lençóis brancos e lavados, misturados com o ruído dos grilos ou do mundo a estalar de calor.
Mesmo quando incómodo, suporto o calor a pensar no começo das noites de verão azul e na luz derramada. Deixamos o mundo entrar nas casas e abrimos as janelas abertas para que se instale no espaço o conforto quente que exala do mundo. É fácil ser feliz, no verão.
Hoje, determinara o dia para arrumar uma dispensa da casa, montar uma cama no quarto das crianças e pendurar as fotografias na parede. Não fiz nada. Nada, nada. Andei na rua a esquinar o calor, tratei de dois ou três pormenores da vida e acabei deitada em cima da cama, janela aberta a ouvir o mundo a estalar e adormeci. Decidi-me ao prazer de não fazer nada, nada. Ao vagar quente de gozar o verão. Ao poder ser feliz sem qualquer importância. Ao ser plena sem qualquer metafísica.
Varia com o vento ou as marés, mas de vez enquanto, dou com o cheio a maresia e iodo quando abro a porta de casa para o mundo. Aconteceu também hoje. Felicidade com cheiro a mar, é Julho!
E aqui estou, a escrever como quem está a caiar, à espera da noite. Noite de verão. Para me sentar numa varanda em cima do mar, escolher o vinho, e continuar a conversa que a vida interrompe.
Jogos sem Fronteiras
Eram bons esses verões. Depois de infrutíferas caçadas aos pássaros pela sombra e pelo calor dos olivais, onde só se ouviam as cigarras e um ou outro galho a mexer-se nas muitas camas da sesta, tomávamos banho na pia dos bois, comíamos na cozinha que dava para a nespereira, esperávamos ansiosos que a avó Beatriz devorasse o seu telejornal e, depois, éramos os meninos felizes que fomos.Era a época dos Jogos sem Fronteiras. Imperdível. A preto-e-branco primeiro, mais tarde com outras cores. Conhecíamos os árbitros como amigos de sempre, o Guido Pancaldi e o Gennaro Olivieri, que falavam um pouco mal todas as línguas dos participantes.
A meio do serão chegava uma prima nossa, que constantemente adormecia a fazer renda e acordava, sobressaltada, sempre que o apito do Guido ou do Gennaro dava início a mais um jogo. Uma noite sobressaltou-se mesmo, porque um crocodilo tinha entrado na piscina do jogo atrás de um par de concorrentes, crendo que era verdadeiro.
A inocência. A emoção das apostas do Joker. As somas finais. No fim uma grande caneca de leite e tudo para a cama menos a prima que já tinha dormido tudo e falava, falava, (ouvíamos da cama!) noite dentro sobre cabras e os horários de água para regar. Na manhã seguinte haveria pássaros e caminhos. E carinhos. Eram bons esses verões.
sexta-feira, julho 13, 2007
Sentidos
Quando as coisas da vida presas nos bolsos começam a beijar o contorno de um vagar que há pouco guardaste comigo, porque não ouves a música do Verão que nos sobra das mãos, a frescura da sombra que cresce entre os nossos passos, na pele da nossa pele, e te recolhes à caixa das cartas, e tiras uma ao acaso - uma do nosso maço! e desejas que as palavras que há pouco te deixei no ouvido sejam as mesmas que relês, e que tudo isso fosse apenas um avivar de memória de quem sabe de um vinho antigo a que sabem os nossos lábios.quinta-feira, julho 12, 2007
Partidas
Deixei-os hoje ir carregadinhos de luz como pilhas novas, roubada à cal branca da igreja da praça velha. Uns finos, as últimas assinaturas nos documentos urgentes, as velhas piadas, a consciência de que voltaremos lá por Agosto à luta dos costumes.Quem me escuta, eles, eu sei, com as orelhas abertas no nosso ninho do trabalho, algumas vezes amargo por asneira – nem é amargo, é o meu modo de dizer prioridade «podíamos fazer melhor todos os dias!» - sabem que criaram, absorção dos costumes, asas para viajar. RB diz-me que vai voar para o ali perto de mim com jeitos de ficar três semanas, quase vidro fosco, vitral cardíaco, no meu outro achamento do Brasil (Santos e São Vicente, a nossa caipirinha na praça Tom Jobim) e RC, que levanta outras asas para os Açores, perto das sombras do Simas, que lhe terei de explicar, quando voltar, sobre a nossa velha história de uma ilha que pulsa, íntima de azul e sol a destilar hortênsias.
Ficar pausado, aqui, entre os voos, é energia mínima. Vão, ambos, pelos merecidos fenómenos do ar. As almas fora dos corpos. Uma imprecisão de indecisos. Um porque discute consigo a volta da não volta, outro porque leva ordens para voltar. Quando chegarem, estarei à mesa do PSI 20 de Lisboa, dizendo-lhes que o jogo da vida é o mesmo da bolsa, a distracção de um beijo que perdeu o viajar, como o teu, que avalio, contido, nos índices do PSI Geral.
terça-feira, julho 10, 2007
Sabores nocturnos
Leio cada vez com mais frequência nos meus autores preferidos, que o néctar do prazer é um irish whiskey «bushmills». A última referência encontrei-a no Francisco José Viegas, no livro «as duas águas do mar», versão malte, de rótulo verde-vivo, entre charutos Cohiba e conversas sobre o argentino Che. É uma tentação única, cúmplice que me é nos gostos da boca enquanto vivo nocturno a vida.Um bushmills, um charuto, um livro e uma boa música são um losango mágico como os que povoam os meios-campos das boas equipas de futebol. Uma mulher bonita a ponta-de-lança desse losango, que transforme o prazer em golo, é o desejo ideal. Disseram-me na Irlanda que Deus inventou o wiskey para que os irlandeses não fossem os donos do mundo. São donos do «bushmills», não chega? E, ó meu Deus! O Teu paraíso não tem bar?
domingo, julho 08, 2007
festas de anos III
festas de anos II
é frequente à chegada já não vislumbrarmos o aniversariante, que não resistiu à espera e desapareceu no barco dos piratas ou na nave espacial com participantes de outras festas. os pais muitas vezes não conhecem os nossos filhos, colegas dos seus, muito menos nos conhecem a nós e nós a eles. no meio do barulho e demais confusão que reina nesses espaços, tentamos por vezes que tudo se assemelhe a uma chegada a uma festa, e não a uma entrega de um embrulho: "é a mãe do Pedrinho? eu sou a mãe da Paulinha. então é às 5 horas que acaba, não é?", mas é quase sempre muito difícil. no fim vêm suados e felizes mas sem histórias para contar.
festas de anos I
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Conímbriga e Coimbra
Dois castelos, três mosteiros, um palácio e uma torre, são?... as novas sete maravilhas de Portugal. Confesso que não assisti ao espectáculo e duvido muito que essa hierarquia seja reconhecida pelo comum dos portugueses, passe o interesse mediático de alguns.Feitas as contas, a estação arqueológica de Conímbriga e a Universidade de Coimbra são dois arquétipos que ruíram na mente lusitana. Sucessivas gerações foram educadas na tradicional visita de estudo a Conímbriga e ali lhes diziam junto às termas da casa de Cantaber, que bem perto estava o seu futuro, a Universidade dos sonhos, a Coimbra dos doutores.
A escolha de ontem prova que Coimbra é um mito apenas e campus como Aveiro, Vila Real, Beira Interior, Évora, entre outros, atraem cada vez mais os mais novos às sebentas do saber, fugindo do umbigo de Coimbra que tem hoje demasiados olhares antigos e pouca estratégia.
Conímbriga é-me mais querida, porque ao meu trabalho pertence. A culpa não é do Director nem da sua equipa, mas da Administração Central que lhe rouba as receitas, mantendo-a como um velho num lar de idosos.
As 7 maravilhas provaram que Coimbra deixou de ser desejo e comprovaram as sucessivas baixas de visitantes a Conímbriga.
Coimbra tem massa encefálica suficiente para dar a volta. Conímbriga precisa urgentemente do processo de regionalização que defendo. Quando a estação arqueológica não depender do Terreiro do Paço, o seu terreiro terá orçamento para realizar o que andamos todos a pôr no papel e, quem sabe, terá os instrumentos que alimentarão a imaginação e a animação que merece, porque gente competente tem lá em abundância.
Padrinho
Mesmo por obrigação, nunca fui padrinho de ninguém. Baptizado que sou – uma manhã fria que me deixou testa abaixo uma eterna constipação! – fez-me renunciar desde esse dia, caso a caso, sucessivos convites. Poderia ter exercido essa investidura com uma sobrinha de que sou tio-mais-que-padrinho, coisas de que nos sabemos merecer pela vida que nos corre no peito. O Baptismo
Exeat de vobis spiritus malignus.
Ritual.
Baptizais: arrancais dum anjo um Satanás.
Desinfectais Ariel banhando-o em aguarrás
De igreja e no latim que um malandro expectora.
Dizeis à noite: - limpa a túnica da aurora,
E ao rouxinol dizeis: - pede a benção da c’ruja.
Dais os lírios em flor ao rol da roupa suja,
Representais a farsa estúpida e sombria
Dum cónego a lavar um astro numa pia,
Finalmente extraís da inocência o pecado,
Que é o mesmo que extrair duma rosa um cevado,
E tudo isto porquê?
- Porque na bíblia um mono
Devora uma maçã sem licença do dono!
cadeia de livros 2 a 5
O que diz Molero, de Dinis Machado (Bertrand, 13ª edição 1984), para mim ainda o Livro dos livros. já deu uma peça de teatro que esgotou bilheteiras sem que eu conguisse assistir mas, inexplicavelmente, nunca deu o filme que inevitavelmente passa na cabeça de quem o lê.
A vida material, de Marguerite Duras (Difel, 1987). MD no seu mais lúcido. escolhi este mas na verdade poderia pôr aqui muitos outros: o amante, claro, uma barragem contra o pacífico, sempre, o marinheiro de Gibraltar, dez horas e meia numa noite de verão (se não o tivesse perdido).
A explicação dos pássaros, António Lobo Antunes (Vega, 1981). foi neste ALA, nesta escrita já triste mas ainda límpida, que me viciei aos 20 anos. e já tenho saudades.
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sábado, julho 07, 2007
cadeia de livros 1

o do momento é Uma história de amor e trevas, de Amos Oz (ASA). é um livro autobiográfico e é, simultaneamente, a história do povo judeu, da construção de Israel e do nó do problema israelo-árabe. não podia, portanto, tratar de um mundo (uma geografia, uma família, um património) mais diverso do meu e, no entanto... (que coisa vulgar!) é como se eu tivesse sido aquela criança - que foi Amos Oz - um dia deitada ao entardecer a sentir-se uma migalha "num universo dentro de outro universo dentro de outro universo". mesmo quando o autor relembra a raiva que sentiu, aos 12 anos, por a mãe se ter suicidado ("foi-se embora, sem me avisar"), mesmo aí, sem conhecer essa dor, é como se eu já tivesse sabido exactamente onde ela me magoaria, insuportável, se me acontecesse. talvez todas as infâncias sejam amassadas assim: em partes iguais de luz e escuridão, de medo e de amor, de imensidão e pequenez.
Um dia depois
Todos os dias acontece. Levanta-se cedo com o rádio a assobiar Renascença, ouve o intercalar desportivo das 7:30 e toma o pequeno-almoço no café perto da pedreira.Todos os dias lê o jornal do dia anterior que sobre o balcão dormiu.
«Leio-o sempre de trás para a frente, porque assim chego a tempo à notícia do dia! Os que chegam, clientes das 8:00, que o leram no dia anterior pelo início, não tiveram tempo de o ler todo. Encontramo-nos, pois, pelas páginas do meio e esse é o assunto para conversar em cada manhã», disse-me P e eu acredito. Gente que, pelo ritual, morrerá sempre um dia depois.
sexta-feira, julho 06, 2007
Trojan Horse
H tinha razão na procura que fez por nós. Eu fui feito refém por um «trojan horse», bicho cobarde, que me aprisionou o passe para a linha.Preverso, soltou-me hoje, mas roubou-me todos os endereços dos amigos.
Para o contrariar faço um apelo a todos:
- mandem-me uma mensagem para voz guardar no vosso antigo lugar, 1ª classe, como sempre.
O mundo ou os próprios que respondam...
Não me deixem tão só que eu, não tarda, tenho de roubar romances para fazer linhas.
quinta-feira, julho 05, 2007
ciclo do tempo - II
O mundo morre pelo menos uma vez por mês, porque as mulheres quase morrem de tristeza profunda e dolorosa. Sentimento intensamente desesperante e destruidor. Irritável. Fecundante. As mulheres enrolam-se sobre si porque o mundo chove sobre elas em pedaços de tristeza e dor. Refeito o mundo com o passar do dias até à força da tempestade. Ao sangue.
O ciclo concavo dos dias.
terça-feira, julho 03, 2007
Falta ler o Zé...
segunda-feira, julho 02, 2007
celebrar julho
domingo, julho 01, 2007
a propósito de Erico Veríssimo

o meu "O tempo e o vento" são 670 páginas daquelas que era preciso rasgar uma a uma para poder avançar. é uma 3ª edição (da Livros do Brasil, pois claro), sem data inscrita, que a minha mãe rasgou pacientemente umas décadas antes de mim. 670 páginas de uma saga que, numa outra era, me foi possível ler de um fôlego só.
como me tinha esquecido de que este é o primeiro tomo de uma trilogia, na última feira do livro perdi uma oportunidade de explorar este filão, ao arrematar por 10 euros 3 títulos mas trazendo, em vez de "O retrato" e "O arquipélago", os que se seguem:
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