segunda-feira, dezembro 31, 2007

Desejo em Times Square 2008

Fica aqui um link para uma coisa nova. Pensar que cairá amanhã em Times Square um confetti com um desejo enviado pelo espaço. Já mandei o meu. Quem o apanhar que beba um bom copo à nossa saúde.




Ano que finda



O ano vai ficando como uma agenda que se fecha. Condensação. Roupa que não serve. Unha cortada. Herança depois de herdada. Todas as histórias de um marinheiro que morreu. Cinzas de belas árvores. Cascas de noz e de nós. O brinquedo do miúdo no fim de tarde do Natal. O pau do perna-de-pau, a maçã podre, a fonte que seca e todas estas palavras que amanhã já ficaram para trás como as contra-indicações de uma caixa de comprimidos. A errata lida. A linha do Tua. O soco do Zidane. O último Bond 007. A jubilação dos sábios. Não é carta, nem foto, nem música, nem livro, nem vinho, nem memória, nem aquilo que quero ainda fazer já ali, nem o teu sorriso, porque neste ano que finda nunca mais viveremos.

domingo, dezembro 30, 2007

sinais


há lugares, como este, repletos de sinais: coisas antigas destinadas a remexer-me sem apelo. um carvalho antiquíssimo debruçado sobre o vale do Douro. uma casa onde a vida de uma família me enche de paz. uma festa em que reencontro de surpresa um homem - um padre - que começou há 30 anos a mudar a minha vida. uma viagem de onde regresso com uma missão: viver, todos os dias, todas as coisas, até ao fim da verdade e da luz.

que tudo isto em mim persista e se espalhe, em 2008.

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acabar 2007



um imenso 2008



espreguiçadeira


Ando a preguiçar tudo pelo mundo. Rente ao mar. Quase a acreditar que a felicidade depende quase só da luz. Ando a preguiçar as horas uma a uma, a inércia até ao osso, o ócio até á virtude. É.me merecido este vagar, este bocejo essencial. Este nada, tão imenso, sublime e salgado.Do norte vou para sul. Podia ser em qualquer direcção que eu estou tão nada em qualquer lugar do mundo.

alinhamentos...




sexta-feira, dezembro 28, 2007

Alheiras Trasmontanas

Quando pensamos (em mim já desassombrado!) que a vida se discute nas mesas de jogo, vale nesse pano verde um jogo simples. Os amigos que se dedicam aos amigos.
Tenho-os e rego-os com gosto! Serão (tu sabes!) todos para mim, quando me descuido num verbo quase perfeito, perfeitas plantas com tempo para que nelas nasçam as suas melhores cores.
A amiga Ana chegou entre parênteses, qual parente que descuidada das coisas sérias, apenas me telefona e diz:
- Trago-te alheiras, cá de Trás-os-Montes.
Tragaremos esse sabor. Partilhou alheiras como o milagre das rosas, entre amigos que guarda no seu peito. Temos vinte anos de Natais, a pele que se gasta porque lá do longe sempre nos acontecemos. Temos vida vivida em reticências. Temos o tempo que se descuida à ordem dos poderosos. E temos tempo para dizer mal dos presunçosos. E ainda tempo para dizer que nos juntaremos à mesa a comer as alheiras, gozando alegremente com aqueles que já não têm tempo. O nosso tempo é as vidas que vamos fazendo. Cheiros, alheiras, olheiras. Vinho? Pode ser aquele EA manhoso do restaurante onde hoje nos divertimos. A estas horas ainda queres música? Mereces este tempo!

quinta-feira, dezembro 27, 2007

o despudor


mais uma façanha desta corporação a que sou obrigada a p€rt€nc€r: enviar aos seus involuntários sócios envelopes timbrados oficiais nos quais se inscreveram (como acima exposto) slogans da campanha eleitoral em curso (dentro não sei o que vinha). pelos meus cálculos, 90% do produto desta corporação é desta ordem - restando apenas 10% para aquilo que deveria ser o o seu umbigo e o seu norte: a defesa do bom exercício da Medicina.

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segunda-feira, dezembro 24, 2007

Cartão de Natal 2007

Aos passageiros regulares desejamos um bom solstício. A quem nos espreita ainda sem coragem de comprar bilhete, enviaremos o quarto rei mago com um bolo-rei cozido num antigo forno da Pérsia, feito de ouro, incenso e mirra, onde guardámos em brinde, num favo de mel, as nossas coordenadas secretas para que nos sigas.
A locomotiva continua com o mesmo desejo dos teus olhos. A Mónica faz na fornalha rabanadas, fala de colo de mãe e infância até ao tutano, desprendendo-se de prendas que lhe deixam, não raro, um travo nauseabundo.
A Helena anda lá na frente da locomotiva, espreitando entre o fumo dos cigarros o rasto do último avião que deixou suspenso por trabalho inacabado. Vem ao bar, deixa um porto na fornalha para a Mónica, bebe despreocupada um gin tónico com o maquinista.
O David parte nozes com o alicate dos bilhetes, espeta-as em passas e anda atarefado a montar uma estrela luminosa na última carruagem para que saibam que já partimos. Anda a vinho tinto, trouxe queijo para todos, azeite para a lanterna dos guarda-linhas e, pelos corredores, estende uma gambiarra para iluminar o caminho dos reis magos.
Sim, já partimos. Estamos a chegar. Viste a estrela luminosa? Vês o rasto do avião? Cheira-te a rabanadas? Então estás com sorte. É sinal que irás receber dos nossos corações um FELIZ NATAL 2007!

D H M

domingo, dezembro 23, 2007

velhos, velhos, velhos


vêm, pontuais, com o Inverno
quando já nos tínhamos esquecido como era
os champôs, os pentes finos, o cheiro a creolina ("quem não tem?")
são os piolhos, as lêndeas, as comichões
velhos, velhos, velhos
vêm com o Inverno

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sexta-feira, dezembro 21, 2007

o Inverno

Velho, velho, velho.
Chegou o Inverno.
Vem de sobretudo,
Vem de cachecol,
O chão onde passa
Parece um lençol.
Esqueceu as luvas
Perto do fogão:
Quando as procurou,
Roubara-as um cão.
Com medo do frio
Encosta-se a nós:
Dai-lhe café quente
Senão perde a voz.
Velho, velho, velho.
Chegou o Inverno.

Eugénio de Andrade


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sabem de mim ?

... nem eu.

quinta-feira, dezembro 20, 2007

Túnel

© João Moreno

Ai essa luz, minha vida.
Dois dentes de aço como a língua de uma cobra.
Um desliza o passado, outro far-me-á rei ou bobo da corte.

Ai esse escuro, minha amada.
Os meus lábios de vento na tua boca inanimada.
Um beija a corte para ser rei, outro o rei para ter sorte.

terça-feira, dezembro 18, 2007

Juan Gervas, ainda

coisas deliciosas se encontram numa pesquisa Google com o nome deste homem livre. coisas como esta:

"Hay médicos que (...) tienen cinco puntos cardinales de los que hablan todo el día: los pacientes, los profesionales auxiliares, la industria (farmacéutica, tecnológica y de gestión), los gerentes, y su ombligo. El tamaño del ombligo de algunos llega a ser gigantesco, sobre todo cuando adoptan la cultura de la queja y su llanto monótono y constante les nubla la vista para ver más allá de su sufrimiento profesional. Lo que es peor, su ombligo se convierte en su norte. Olvidamos así que el norte del médico debería ser el paciente."


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exercício de pensar

não resisto a deixar-vos aqui o caminho para um texto que é uma fonte de água pura no lago lodoso que tem sido a mediatização da vacina dita contra o cancro do colo do útero. publicado embora numa revista médica (e em castelhano!), a sua escrita é tão fluente, tão despudorada e descomprometida, que ilumina mesmo os leigos, empurra o mais lerdo para o exercício de pensar. abre uma clareira na selva densa da propaganda médica. faz um silêncio revelador no ruído infernal da demagogia.

o seu autor, Juan Gervas, é médico de família numa zona rural de Espanha. pensador e homem de ciência, fez da sua vida uma cruzada pelo posicionamento da inovação e da tecnologia médicas no seu devido lugar. dedicou-se a questionar a utilidade real (isto é, o benefício concreto para as pessoas e para os doentes) de atitudes e procedimentos médicos, nos quais, não raro, são investidos recursos avultados sem que haja evidência científica que o sustente. Juan Gervas é, além disso, um colosso vivo, um monstro da comunicação (a ponto de ter de me beliscar quando um dia me vi entre uma assembleia de congressistas perante a qual ele falou mais de meia hora, de pé, sem microfone, sem powerpoint, usando apenas, segundo as suas palavras, o meio audiovisual mais antigo do mundo: o teatro).

mas o que mais impressiona em Juan Gervas, o que nele marca o nosso pensamento - como um ferro em brasa - é a sua nítida e absoluta liberdade. pensa-se melhor depois de o conhecer: é-se mais inteiro, mais exigente; as verdades que nos vendem deixam-se radiografar, desmontar e conhecer (e, por vezes, transformam-se em falácias).

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Natal nas paredes

No EURO 2004 até percebi a bandeira nas varandas. Era cá, fomos segundos no torneio, mas primeiros nas convicções. Agora somos nos últimos tempos assaltados pela varanda por uns gajos de plástico vestidos de Pai Natal com escadinha de corda. Aí, no vosso mundo urbano, distraídos com outdoors e promessas de plasticina, não terão olhos para o nosso assaltante. Aqui vamos tendo. O meliante multiplica-se como os caracóis, sobe as paredes mais lento que eles e, quando nos apercebemos, já está no alto a sua figura de costas, presa como uma ventosa, viscosa, à parede dos vizinhos.
Nascido no mundo das árvores e dos presépios, tenho andado atento à minha parede, até porque, num rés-do-chão, os tipos têm mais facilidade em chegar ao topo. Ao meu topo. Ando a topá-los. O primeiro que tentar encostar-se à minha parede leva nos cornos com uma ovelha e um dos reis magos do meu presépio.

Desculpinhas

Pronto. Ando cheio de Planos de Actividades e Orçamentos e apanhadinho dessa doença do QREN até dia 27. Há pouco tempo para passar por aqui como gosto: com tempo e com gosto!
E as inscrições para o almoço de Janeiro? Aguardo...

segunda-feira, dezembro 17, 2007

"Se me comovesse o amor"

"Se me comovesse o amor como me comove
a morte dos que amei, eu viveria feliz. Observo
as figueiras, a sombra dos muros, o jasmineiro
em que ficou gravada a tua mão, e deixo o dia

caminhar por entre veredas, caminhos perto do rio.
Se me comvessem os teus passos entre os outros,
os que se perdem nas ruas, os que abandonam
a casa e seguem o seu destino, eu saberia reconhecer

o sinal que ninguém encontra, o medo que ninguém
comove. Vejo-te regressar do deserto, atravessar
os templos, iluminar as varandas, chegar tarde.

Por isso não me procures, não me encontres,
não me deixes, não me conheças. Dá-me apenas
o pão, a palavra, as coisas possíveis. De longe.
"

(Francisco José Viegas, Se me comovesse o amor, Quasi, 2007)

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um presente

ofereci a mim própria um presente de Natal antecipado: "Se me comovesse o amor", o último livro de poesia do Francisco José Viegas. li-o pelo dia fora: uma mão na luva e outra na manhã fria para desfiar as palavras, na rua, no metro, já de volta a casa.

poesia encorpada (mesmo se aflita, por vezes), com sangue de prosa. uma escrita do tempo que passa e, passando, nos aproxima, vindos de todos os cantos da vida, numa confluência estranha e impensável até aqui (impensável quando ainda não nos passavam os anos, os dias, as horas; inexistente mesmo, antes de perdermos alguém e percebermos onde leva).

[depois de ter seguido o filão da prosa de FJV e de conhecer do Aviz os textos soltos que, generoso, nos ia deixando (foi assim o deslumbramento de "A noite, o que é?"), nunca tinha experimentado segurar na mão a sua poesia. agora acho que tenho aqui mais um filão a seguir]

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quinta-feira, dezembro 13, 2007

Tratado em Lisboa

Ouvi hoje o Prof. Manuel Porto na TSF referir-se à não capacidade do «povo» europeu se poder expressar em referendo sobre o tratado de Lisboa, tal é a dificuldade da receita para a sua expressão num tacho popular. Habituou-me noutro quadrante a ser um homem sábio e sério. Com ele aprendi o que sei de base sobre as instituições europeias e o seu musgo legislativo, denso como o sangue nas veias próximo de um ABS, que todos tememos numa manhã por descuidada arte dos deuses.
E disse que os parlamentos europeus, incluindo o nosso, são ainda a sede onde o referendo deverá ter validade, corpo e compromisso.
Sarkosy corria sorridente para os braços de Sócrates sob o sol de Lisboa. Zapattero batia palmas ao hino da alegria. Gordon atrasou-se num gin político de Londres. Mas todos estavam cúmplices nesta achega à constituição reprovada europeia. Aí está a minha dificuldade. Nada sei dos ossos dos outros. Sei que o nosso parlamento é hoje um ABC primário de figuras de Camilo. Quedas de anjos. Calistos. Personagens que se catalogam entre o aposentado e o menino de aparelho numa sopa juliana. Cultura zero. História menos um. Capacidade política, todas as segundas-feiras, onde se entretêm em “trabalho político” entre um arroz de berbigão e o cálculo das ajudas de custo. São estes que querem que decidam por nós. O «povo» de Manuel Porto na expressão democrática da representatividade pública, que vamos votando envergonhados.
Como diz um amigo meu, «ai quando o povo souber!»

quarta-feira, dezembro 12, 2007

Torga em pombo-correio

© Sicó, hoje pela fria manhã

Na manhã de hoje pelo Sicó assim voaram tordos sobre mim. Avisavam-me que a poesia de Torga também voou nesta mesma manhã em pombos-correio sobre as águas do Mondego. Creio que uns estavam feitos com os outros. Comemorações.

«Coimbra, 12 de Dezembro de 1966 – Técnica, técnica e mais técnica. Não ouço outra palavra à mocidade que, convictamente, repete o que aprende. E lá vou alimentando também o fogo sagrado. Barragens, pois. E foguetões, porque não? E circuitos abertos e fechados, e antenas, e máquinas electrónicas com fartura. Mas depois da progressiva girândola mecânica, meto na conversa, como quem não quer a coisa, um cheirinho de lirismo. Ponho-me a falar de rouxinóis, de paisagens, de noras a chiar. Reajo como posso contra uma pedagogia que se esquece de acrescentar às lições de quantas ciências ensina que as aves cantam, que as águas sussurram, que só há um acto que o homem pode repetir eternamente com originalidade: olhar a natureza.»

Torga, Miguel, Diário Vols. IX a XVI, pág. 1097

terça-feira, dezembro 11, 2007

outra espécie de apelo

quem me recomenda um livro comme il faut tipo educação sexual para crianças?

tenho um rapaz de 9 anos que não faz perguntas dessa área (e assim me deixou até hoje sem pensar no assunto) e uma rapariga de 7 que é capaz de perguntar tudo mas que ainda não se lembrou de o fazer. no entanto, descobri há dias que ela julgava que a diferença entre uma égua e um cavalo podia ser uma mancha mais clara no focinho de um deles. quando tentei explicar o que distinguia um macho de uma fêmea com exemplos do pessoal cá de casa, percebi que também aí ela estava a leste. foi então que, à falta de exemplares masculinos dispostos a servir de modelos, me quis virar para os livros mas descobri que não tinha nenhum. aproveitei o pretexto para ir conhecer a mais nova livraria cá do burgo, mas não fui bem sucedida: os livros que lá encontrei oscilavam entre o demasiado sisudo e a galhofa despropositada.

mães, pais, professores da blogosfera, alguém me ajuda?

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apelo


reescrevo aqui o conteúdo de uma mensagem que recebi (já entrei numa cadeia destas para o IPO aqui do Porto e lembrei-me que talvez pela linha pudesse estender a cadeia aí até Lisboa):

O IPO de Lisboa está a angariar filmes (VHS ou DVD) para os doentes (crianças e adultos) da unidade de transplantes que estão em isolamento (um período em que permanecem num quarto isolados do mundo e durante o qual o cinema pode ajudar o tempo a passar). É que, se algumas algumas pessoas trazem os seus próprios filmes, outras há que não os têm. Numa altura menos feliz das suas vidas, um sorriso vai fazer bem a quem passa dias inteiros numa cama de hospital. Rir é sempre um bom remédio :-)

As cassetes podem ser enviadas para:
Instituto Português de Oncologia de Francisco Gentil
Unidade de Transplante de Medula
A/C Sr.ª Enf. Elsa Oliveira
Rua Professor Lima Basto
1070 Lisboa

Ou então, informe-se pelo telefone: 21 722 9800 (geral) 217266785 (Cristina)

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esconde-esconde

há palavras que me fogem. escondem-se nas dobras da consciência e aí ficam até que distraídas acabem por se deixar apanhar. são sempre palavras antigas, sábias e ágeis, agora amuadas por estarem um tempo no banco das suplentes. fazem-me isto: desaparecem quando mais preciso delas (para escrever um sonho, explicar a alma, invocar os deuses). então, faço de conta que não quero saber e, na manhã seguinte, elas esperam-me, sentadas no banco, como se nunca tivessem estado noutro lugar.

hoje encontrei assim esta, convocada para o sonho de ontem: arrebatamento.


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Via verde

Não é um novo perfume de Natal, desiludam-se. É um sabor. Uma noite no alto da serra em Vale do Boi. Coisas dos sabores e saberes do azeite, molhar a vida no antigamente. Molhar o pão fresco nesse licor dos deuses como unto nas coxas de uma santa. Dizem tibornada, lagarada, essa abusiva esperança de sermos uma forma plural num prato cubo bordado a desejos desses nossos deuses menores. Coisas do mundo rural a que por momentos do teu pernicioso tempo urbano devias um dia ser parte para perceber. O mundo dos dias e todas as suas vicissitudes, sangue das azeitonas.
Comemos. Bebemos o suficiente. Havia poemas, verdadeiros poemas, na forma como dialogamos uns com os outros. Falar por provérbios. Deixar promessas cúmplices que pelas modinhas de ti nunca dançaremos. Devaneios de homens soltos. Baralhos de cartas marcadas como quase todas as que te escrevi quando era uma ânfora. Que mais querem vocês, prisioneiras do tempo, senão este compasso de espera. Deixar que os homens voltem a casa tarde por um sabor. Ainda dizes, na defesa desses teus dias, que tudo bem, mas há louça para lavar e filhos para educar. O azeite fica-nos nos lábios como cantigas antigas para cantar. Não há mulheres novas no horizonte, é esse saber do sabor agora educado para os eleitos e trazido nesta temperança para que saiba a rigores de amor na folha dos teus, isso é que é assunto para pensar ou para dançar.

segunda-feira, dezembro 10, 2007

sonhos

estas noites povoadas de sonhos: rapazes, forças magnéticas, amores que talvez comecem, partidas, saudades, dúvidas. fios nervosos, objectos sensoriais, vindos de um tempo em que a vida ainda não tinha acontecido, o futuro era uma vastidão que se abria no horizonte e o coração uma perigosa área de piso escorregadio.


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domingo, dezembro 09, 2007

Reflexo

Essas arestas de cacos no chão confundem-me.
Minha porcelana, pintada dispersa a nossa vida.
Partiste-te ou partiste?

quinta-feira, dezembro 06, 2007

Cimeira UE África

Estará bem alta a madrugada, o último andor da noite, a última carruagem onde serão estrelas, santos ou passageiros a que já não sobrará tempo para picarem o bilhete, quando crescer o esquecimento de que os poderosos homens chegaram.
Coado o dia, assente a poeira, Portugal abriu as pernas para deixar entrar pela fronteira um chorrilho de déspotas e tiranos, a benefício da presidência europeia e da nossa idiossincrática veia universal.
Quase todos de negro, as vestes, as ideias, não me confundindo com a matriz da pele, que respeito em absoluto. Um monta tenda e recebe as visitas com Mateus Rosé de que tanto gosta. Outro, de prática tão negra, nem visto foi, porque politicamente visto não teria.
Mais de metade, creio, deveriam estar presos à luz do direito internacional. Ter-se-á distraído Baltasar Garzón ao beber um gin Gordon Brown em Darfur?

quarta-feira, dezembro 05, 2007

doce I


Ser madrinha é coisa gostosa. Ser madrinha de doce, é mel. Assumo a generosidade deste título gozando o prazer imenso de ser o lado perverso e incorrecto de ser mãe. O prazer imenso de me encolher e de a ouvir a rir… esta minha afilhada doce, a I, tem uma alma infinita e tenho como certo, que será uma companheirona neste lento crescer de malandrice gostosa e a fiel depositária da minha infantilidade cúmplice.

Parabéns, I…

7 anos


7 anos de gente. 7 anos da nossa alegria (7 anos desde o primeiro sorriso prazenteiro). 7 anos de beijos, de olhar fundo nos nossos olhos. de aventura, de conhecimento. 7 anos de vida. uma vida.

parabéns meu amor.


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Chávez NO

Depois das 48, quase 72 horas que se dão à evolução/revolução das doenças, o vírus Chávez não reagiu. Nem todos os socialismos são cogumelos comestíveis. «Por qué no te callas?»

terça-feira, dezembro 04, 2007

saudade e parabéns


Hoje o Rui P. faz anos. Parabéns, Rui.

( tenho saudades...)

... dos pés

A minha personalidade vem-me dos pés.

Tendo a sentir-me muito próxima de mim mesma com um bom par de botas rasas e estafadas, nos pés. Pesadas e de pele. Botas com o seu que de assexuado. Permitem-me a desenvoltura natural e alguma firmeza que tendo, não aparento com facilidade. Aguentam bem com a postura gingona e safada, que amiúde me assalta. Com um bom par de botas sinto-me reconhecível na raça.

Tenho a versão sapato, clássico e discreto, para acompanhamento profissional. Não sendo uma mulher com pinta, nada melhor do que encaixar despercebida no formato correcto. Sem quê de reparo. Onde o sapatinho, de preferência já bem batido, vai bem sem ser notado e sem condicionar a personalidade.

Este verão, ousei a versão “ 5 cms acima “. A personalidade gostou. Divertiu-se bastante com a mudança de perspectiva. Com uma facilidade tamanha passo a ser a maior do escritório, ultrapasso todas as outras mulheres e igualo alguns dos homens. Ainda alvo de reparo, respondo sempre: “ hoje apeteceu-me aumentar o ego “.

Mas independentemente da personalidade que sai da cama de manhã, quando cansada, é para as botas que me atiro. Acontece agora leva-las como parte de um todo pouco compatível. Adereço, aparentemente, inconciliável de algumas das minhas versões, nomeadamente a profissional. Mas deixei-me disso, arranjei resposta interior e até me divirto a reparar em quem o repara. Chamo-lhe estilo. Personalização. Afinal vem mesmo dos pés a minha personalidade. E eu não tenho sinceridade maior do que a das botifarras…

Desafio em Coimbra - Iª Actualização

Depois do desafio estamos assim nas inscrições:

David LC http://www.ldonorte.blogspot.com/
Helena M http://www.ldonorte.blogspot.com/
Mónica G http://www.ldonorte.blogspot.com/
Cristina GS http://www.poalha.blogspot.com/
Paulo B/Patrícia C http://www.3entradas.blogspot.com/

domingo, dezembro 02, 2007

notícias do Porto


hoje meti-me no metro com os miúdos e fomos ver a árvore de Natal dos Aliados. a árvore era um pretexto; o que eu queria era mostrar-lhes a baixa do Porto (a única vez que os tinha levado lá, tínhamos fugido rapidamente do barulho ensurdecedor das obras que ainda duravam). mas hoje o barulho era outro, era uma verdadeira romaria. havia um mundo de gente na praça: tudo de balão de hidrogénio rosa choque na mão (oferta de um stand do Millennium a quem se dispusesse a ingressar numa fila imensa), algodão doce, pipocas, fotografias, namorados, velhinhos, pessoas apanhadas no meio das compras e familias inteiras sentadas onde calhava, à espera. à espera que árvore acendesse, pois claro, meia hora de suspense depois de acesas as restantes luzes da rua. lanchamos no Guarany umas torradinhas de lamber os dedos no fim. a seguir algodão doce e apanhar o metro de volta, de mãos dadas tão pegajosas que só pensávamos em chegar a casa.


às vezes tenho remorsos de sair tão pouco e de os meus filhos mal conhecerem a cidade onde vivem (tudo isto se passou a menos de 5 minutos de metro da nossa casa). mas confesso que, depois de uma romaria assim, não consigo evitar pensar: não saio mais até ao Natal.

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sábado, dezembro 01, 2007

é dezembro na linha



um ritual, ano após ano, este Waterboys a levar-me pelo mês mais cruel dentro.

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com sinceridade

Afinal foi ela que disse. Primeiro.

Trazia em mim, a levedar, este saber de. Calado. Mas isso não chega para ser um reencontro. É só uma alegria velada. Uma geografia sem tempo nem mapa.

Recordava-a amiúde. Os meus pais ainda me perguntam: “ não sabes da…. “ e eu no não, sabia apenas pelo amigo velho, que se mantinha no mesmo lado do rio e que lhe morrera o pai.

Não sabia que fazer do conhecimento de tamanha revelação. Mas quando não se sabe o que se fazer, não se faz.

Passei a respira-la.

Ás vezes, colateralmente, questionava se se reencontram as pessoas que o tempo afasta ou se isso é não é apenas o fingimento da eternidade.

O destino ao tempo se confia. E se não sei que fazer, não faço. O tempo saberá.

Afinal foi ela que disse. A Isabela. Sábia, como sempre. Quase com exactidão.

“As pessoas não mudam. Quando as reencontramos muitos anos depois percebemos por que nos afastámos.”

Porque eu diria apenas:

“ As pessoas não mudam. Quando as reencontramos muitos anos depois percebemos que nos afastamos”

Fragmentação

Um dia diferente nos dias. Esta saliva mastigada no bordo dos copos que ficou do fim do verão onde não fomos senão riscos de lápis apenas. O vermelho e o verde que não deu castanho. O diospireiro que se ergueu em folhas sem fruto. O rio que se esgotou nas margens antes do delta, deixando reis sem reinos, damas sem amas-secas no nosso mar por cumprir. Assim, vamos ficando castanheiros, (um aqui na nascente, outro onde se põe o sol entretido entre giestas), a pouca água nos lábios, tronco a correr lento para a última estação como os comboios dos clandestinos. Anda, apaga a vela do azeite à nossa senhora. Deixa o terço. Abre a janela. Sou eu ou só já a minha sombra, o último risco do lápis que te rascunha o meu rosto à luz do candeeiro da esquina. Dizes tonto, já é dia, mas a luz que ficou e que te fragmenta rugas de amor na pele é minha.

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