quarta-feira, abril 14, 2010

Promessa em andamento

Devo-lhe um almoço, não sei em que cozinha de autor onde não nos perturbem os gestos (falar de mãos unidas, dedos com dedos). Estive com ela hoje a correr, como o vento rodopia à volta de uma cruz. Pareceu-me mais mulher, sabes, agora tão alta como os pinheiros altos, que deixam em definitivo uma sombra decisiva. Acredito que dirá sim ao convite. Falará dos tempos em que éramos apenas um único saber, ou sabor dos tempos. Trará, digo eu no desejo, a gargantilha justa ao pescoço que uma noite se despedaçou aos bocados pelos pés das cadeiras da sala. E, pronto, também um pequeno perfume, ali à orelha esquerda, que só cheiram os homens que ainda a sabem amar.
E dirá:
- O que queres ainda de mim?
E eu direi:
- Que aceites esta promessa de almoço e hoje, no dia dos beijos um beijo, coisa simples do que me apetece! Queres cumprir esse olhar que ficou? Faço figas por isso com a ajuda das tuas mãos!

quinta-feira, abril 01, 2010

Desabrigo

Antes que o fósforo se acenda,
que é a pouca luz que emana irregular antes do toque de um sino.
O que me sabes dizer das contas de um rosário?
Tenho nesta vida os ossos todos contados!
Tenho o peito todo medido por um médico culto, que me anseia menos dores!
Tenho rostos decorados como os alcatruzes de uma nora a girar num poço,
que os faz descer e subir como se um Deus me comandasse a vida e os colocasse adiante, onde ainda não bate esse sino do coração.
Tenho esperança que sigas os meus gestos e leias o livro que agora cumpro debaixo do braço.
O teu desejo era só música?
- Esquece todas as de batida brasileiras, eram um samba apenas, para nos desconstruirmos!
- Acendeste o fósforo?
- Desculpa-me!
- Acabou o compromisso!

Web Pages referring to this page
Link to this page and get a link back!