quarta-feira, fevereiro 28, 2007

insularidade

(S. Miguel, Açores)

"vinhetas
gravuras feitas com água
as ilhas rodeiam devagar o mar" (Carlos Gomes)

para o jpn

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terça-feira, fevereiro 27, 2007

O óptimo de Cabrita

Declaração de interesses egoísta:
Vivo, quando vivo, a 200 metros do centro de Coimbra do INEM.

O amigo Diogo Cabrita, médico cirurgião, foi ao Prós e Contras da RTP 1 defender a sua dama. Cirúrgico, como a competência das mãos na arte de abrir, mexer e mandar coser os corpos débeis; abriu, mexeu e mandou coser o sistema de saúde. Não o imaginava assim tão ao lado do meu mundo autarca, vibrando a audiência, acordando e arrancando “vivas” às velhinhas rurais do sofá da lareira e dos SAP’s, figura muito próxima de um candidato em campanha num período eleitoral.

Começou lá em cima por Valença a operar para baixo como Afonso Henriques, desancou forte a “questão Coimbrã”, sempre gabarola da cidade excelência da saúde, ancorada no comodismo técnico dos dois hospitais centrais (excesso de valências, excesso de entropia) e pediu, o que concordo em absoluto, uma coragem política de avaliação.

Merecia ter sido parte activa da equipa técnica. Merecia ter estado no palco. Pressinto que a sua colagem ao “espírito reivindicativo autárquico” lhe possa reduzir alguma da lucidez a que sempre me habituou. É que dessa constante necessidade der ser parte - mas procurar distância! - sei eu em demasia.

Como cliente do SNS pelas mãos dele, não lhe posso dar toda a razão. Conheço bem esses ambientes do mundo rural e nem sempre o que parece é. A proposta de rede apresentada (muito sólida na voz do Dr. José Manuel Almeida) convenceu-me. Mas ver o amigo de anos esgrimindo os poderes instalados com o bisturi da ousadia e da preparação técnica a que se dedica é um privilégio, porque continua com todas as suas qualidades em riste.

Nem sempre o óptimo de Cabrita é o óptimo de Pereto.



segunda-feira, fevereiro 26, 2007

se tiveres o amor


fico sempre agarrada à televisão se o que passa é "Sex and the City", não importa quantas vezes já tenha visto o episódio em causa. além de ser um regalo para os olhos, é divertido, alarga sempre os meus horizontes e, às vezes, como no último episódio da última série (que vi hoje pela segunda vez), ainda dá um nó na garganta, estremecendo-me os alicerces até às lágrimas.

Carrie termina dizendo que a relação mais excitante, desafiante e significativa é a que temos connosco próprios e que, se encontrarmos alguém que ame o eu que nós amamos, isso é fabuloso. é o amor e não há lugar interior que nos esteja vedado se o tivermos.

(não consigo deixar aqui nenhuma de duas músicas que me fascinaram neste último episódio, especialmente cuidado em termos de banda sonora: a que encerrou - um arrepiante "you got the love" de uma tal de Candi Staton; e o não menos assombroso "la belle et le bad boy" de M C Solaar, que acompanha as corridas estonteantes de Carrie e de Miranda - uma em Paris e outra em Nova York)

(adenda 2017)



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domingo, fevereiro 25, 2007

amigo com salgadeira eléctrica

“Salgadeira eléctrica” foi o termo usado por uma geração de emigrantes da Gândara, referindo-se às então novidades arcas frigoríficas, contrapondo às velhas salgadeiras - arcas de madeira com histórias de carne salgada para a conserva dos alimentos e dos tempos - que traziam da velha Europa com dinheiro fresco num mesmo vocabulário primário de criança quando um dia partiram. Ainda usamos a denominação entre amigos, nada jocoso, antes respeito por homens e mulheres que nos marcaram uma geração, com humor, claro.

E entre amigos desse tempo conservados na minha “salgadeira eléctrica” dos afectos, recebi um mail com este PS sem comentários:

«Tenho a “salgadeira eléctrica” a “arder” com champanhe… aparece!»

Apareço José, apareço!!!

sábado, fevereiro 24, 2007

Educação de casa mãe

© Sicó, nascente do Anços, 2006.

Aprendeu cedo que as casas ricas não são as das herdades e contas bancárias chorudas, mas aquelas que têm estantes com livros.
Cresceu pela escada da velha biblioteca acima na direcção deles. Aos 14 anos chegava à fileira do Eça, orgulhoso e, aos vinte, quando deixou a casa para vida própria, passava já a ponta do nariz mais acima nas lombadas do Pessoa.
Quando em miúdo a criada o levava para a cama, ouvia da sala o pai a ler alto para quem estava: a mãe e a avó bordando peças de enxoval, ensinando os labores à irmã mais velha e o avô fumando à lareira o cachimbo, aconchegando o corpo na cadeira de baloiço, adormecendo sempre com um cheiro suave a chá de tília que lhe inundava o quarto da varanda.
Ficou-lhe o vício. Hoje lê alto na sala e na cama, para si simplesmente, ou com mais devoção quando as partilha com mulheres que lhe vão fazendo a vida.

«Queres que leia um pouco para ti?»
«Quero, mas chega-te primeiro mais para aqui!»
«Ouves a água a entrar na sala e o rio a crescer?»
«Ouço a água a sair e tenho medo de te perder!»


sexta-feira, fevereiro 23, 2007

Incompreensível?

O que é que o Zeca viu no Otelo, pá? Um LUAR na noite, pá? O Campo Pequeno pá, pá, pá, pá, pá, pá… com mandatos de captura avulso, pá? E a RTP, pá?

Serviço público, pá?

Que tal apenas o serviço público da voz do Zeca com um acorde do António Portugal, pá?

«Qualquer dia», Otelo, pá!!!

quinta-feira, fevereiro 22, 2007

20 ZECA 20


M chega à linha com Joan Baez, parece que adivinha. H lerá e ouvirá ao cantinho do tempo, assim à sombra destas palavras.
À meia-noite, quando as guitarras soarem em vez dos sinos nos campanários do Alentejo, nas Beiras, ou ali bem mais perto da Ria de Aveiro, a balada reunirá todo o acorde silencioso de um som de saudade como o dos pés pesados da Grândola. Foi há 20 anos que o Zeca nos deixou. Deus, o que sabe dançar, escolheu ao homem simples uma doença só comparada à sua arte: esclerose lateral amiotrófica. Foi um devaneio, ou um capricho.
Ouço-o ainda com regularidade nos discos e nos horizontes que deixaram as suas palavras. Cada vez que ainda me canta, quando o nomeio no tratamento da alma, tem a obra tanta oferta que só dele lembrar se me acalma o coração e, quando zangado com a vida, me coloca todas as armas em riste:
«Virá a incerta energia, alguma vez derrotada, proclamar aos quatro ventos a sua fragilidade? Virá a crise imatura da minha pátria e da tua certificar-se das horas? É inútil chorar: o combate é preciso. Outra voz, outra garganta, outra mão que se estende à que tombara. Uma fagulha num palheiro acesa. Ó meus irmãos… a luta já não pára. Vou morrer com esta norma, sem grande mundividências. Não se fazem continências quando não se está em forma. Chamo a mim a reserva inesgotável de alegrias, a raiva dos oprimidos, a bondade de um homem simples com quem, às portas de Arraiolos, me embebedara num dia de sol e serra… que um Deus reme connosco na viajem. Tu és o meu legado mais profundo. Por isso irei contigo até ao fim do mundo. Fora do orabolas em que foste criado há muita coisa à espera de ser vista. Esta tendência para a sucção da metafísica… como custa caro ó melgas!»
Entre muitas, o “Traz outro amigo também”, canta-me H e M presas à minha vida em todos os acordes que nos unem como amigos felizes.
Mas Coimbra B tem, entre muitas, um hino que assobia todo o corredor, quando sozinho na noite só de mim busco a energia mínima para poder dizer NÃO (é cada vez mais preciso saber dizer NÃO!) sempre que a coluna vertebral o exige: qualquer dia.
Parece que o serviço público RTP o homenageia hoje pela meia-noite. Vou-me sentar ao plasma. Até sempre!


música que andava perdida

há muitos anos que não ouvia nem me lembrava da existência desta canção de Joan Baez e, todavia, descobri que sabia ainda de cor o poema de amor: como se fosse o meu poema, a minha história.

my poetry was lousy, you said

reencontrei a canção há dias, e todo um cortejo de música esquecida da mesma época (mesmo mesmo esquecidos: Arlo Guthrie, Moody Blues, Credence Clearwater Revival), num barzinho simpático da marginal de Leça, forrado a capas de discos de vinil dos anos 60 (incluindo também música francesa). Woodstock, de seu nome, o bar (só podia).


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Quaresma

Solidário com a equipa de trabalho nesta quarta-feira onde começa a Quaresma, (cristãos intermitentes como a sua fé), lá gramei goela abaixo uns filetes de peixe. O vinho era mau por penitência. À noite, quis o destino uma quarta-feira de brasas. Depois as cinzas, assadas que estavam as sardinhas. O vinho já era bom. Pena foi que o Quaresma, na Quaresma, não tivesse chutado um remate tão perfeito. Na religião tudo está definido, intemporal. Sabem-se as vitórias com as datas dos santos no calendário. No futebol tudo é efémero. Os santos passam a diabos na velocidade de um instante. E o Porto tem agora menos de quarenta dias para poder chegar ao Domingo de Ramos das vitórias.

quarta-feira, fevereiro 21, 2007

Condomínio de Carnaval

Os que habitaram hoje em centros comerciais não ligaram ao Carnaval. Eu, que detesto comprar roupa porque nada me serve à primeira, escolho estes dias e por lá andei, cheirando saldos, porque para a tarefa preciso de atenção especial, leia-se tempo e pouca gente. É um exercício da velha história da manta curta, tapa de um lado, destapa do outro. Aperta o umbigo, sobra nas perneiras. Serve nos ombros, sobra nas mangas.

Mas a “nova” abordagem ao cliente nestes dias é que me irrita pelos adereços que vestem, importando a época. A mocinha da loja, bonita e sorridente como “a rapariguinha do Shopping” do Tê, andava permanentemente à minha volta com uma aranha na cabeça. Era o seu disfarce com o sorriso disfarçando o desejo de ali não estar naquele momento a troco de um qualquer Carnaval onde a garantia do emprego a não deixou ir.

«Tem medo de aranhas?»
«Não, tenho medo da conta e de engordar e de não poder devolver isto tudo outra vez!»

Carrego os sacos. Quatro pares de calças, duas camisas, três gravatas e um casaco com um número abaixo para me obrigar a emagrecer.

Coincidimos nas chegadas ao prédio onde vivemos sem nos vermos. Ela abre a caixa de correio e tira panfletos da pizza-hut e um cartão de um canalizador. Eu poiso os sacos, abro a caixa de correio e tiro publicidade da makro e um rectângulo anunciando serviços de estores. Falamos pouco (ela já está fora de serviço, eu já paguei). Trocamos poucas palavras. Em vez de nos entendermos neste Carnaval, acabamos por trocar os cartões do canalizador pelo de estores. Um dia, sabe-se lá, perceberemos que precisaremos apenas dos serviços um do outro e mandaremos imprimir num único cartão os nossos nomes. A mulher primeiro, cumprindo todas as regras sem a aranha na cabeça.



terça-feira, fevereiro 20, 2007

lugares onde me foi possível respirar

Sesimbra
(sempre pela ideia do Abrupto)

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segunda-feira, fevereiro 19, 2007

o riso

é de noite e uma gargalhada atravessa o silêncio da casa: vem de uma criança que, já deitada, lê um livro. eu sou a mãe e sossego, porque é uma espécie de felicidade que a acompanhará toda a vida.

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carnaval


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sábado, fevereiro 17, 2007

a náusea


foi o mais perto que estive do inferno: hoje fui a um condomínio de luxo, com vista (ampla e aberta) para o bairro do Aleixo. em tempos soube que existia este lugar de horror, mas tinha-me esquecido. regresso lá e vejo, à esquina do condomínio fechado e do seu segurança minúsculo, todo o trânsito em roda das torres, a confluência apressada de gente magra e de olhos vazios, o fervilhar de carros: velhos e amassados umas vezes, outras potentes (mas sempre amassados), num vai-vém que dura há anos indiferente ao mundo.

ao longe uma voz levanta-se a espaços: sonora e repetida. um pregão, um pregão a anunciar o pó. num dos carros, um comercial (amassado), ao lado de mais um cliente desesperado, uma criança... a náusea, profunda, infecciosa, fatal.

fujo de lá trancada por dentro e a pensar: como é possível? ser autarca, ser polícia, neste lugar? como é possível viver nesta cidade, neste mundo? como poderei agora: respirar? como se existe depois disto? fujo, do vómito, e no desespero perco-me, na minha própria cidade perco-me e ando às voltas até reencontrar as ruas de todos os dias.

tenho de lá voltar daqui a pouco, a resgatar os meus filhos da festa de anos em que ficaram, nas varandas do aleixo. estive lá hoje mas depois vou poder apagar outra vez o conhecimento que tenho deste lugar, desta cratera no centro do meu mundo.

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Fuso do Equador


Ouvindo dizer que os enamorados se apresentam ao jantar com velinhas em arranjos de flores e, porque sobre isso não tinha coração consumido, pelas suas mãos oferecia bolbos para os vasos nas varandas de outras mulheres como contratos-promessa.

A vida vivida deu-lhe um comando do tempo onde as coisas se apostam antes de acontecer, fiando a roca, vara de lagar, corda de relógio antecipando os dias.

Assim apregoava o coração. Assim leiloava a sua vida como prenda de Natal.
Com beijos velhos guardados nos lábios
(bolbos esperando água, sol, flor de sal
e disfarces de Carnaval.)

Mas um dia saltou o Equador.
E ficou preso a uma boca louca
de uma mulher de Salvador.

sexta-feira, fevereiro 16, 2007

6 burritos 6

Seis burritos, seis, discutiam sobre a inteligência dos seus funcionários por influência das suas respectivas formações.

O primeiro e o último eram economistas. Para fundamentar a sua posição chamaram os funcionários, aqui lidos como os “aperta-a-rosca”.

- «Ó aperta-a-rosca, façam a vossa rotina». Os aperta-a-rosca foram até ao escritório, catalogaram todas as despesas dos projectos, lançaram as contas na contabilidade e demonstraram a tarefa num power-point soberbo, exibido em duas línguas, projectando indicadores de medição do trabalho em curso.

Os outros quatro eram engenheiros. Para fundamentar a sua posição chamaram os funcionários e disseram:

- «Ó aperta-a-rosca, façam a vossa rotina». Os aperta-a-rosca foram até ao escritório, analisaram todos os projectos, calcularam todos os cálculos, mediram à séria os autos de medição e demonstraram a tarefa num power-point soberbo, exibido em quatro línguas.

No jantar de Natal, onde por descuido admitem inverter os papéis, calhou a vez aos aperta-a-rosca:

- «Ó burritos, façam a vossa rotina». Os burritos foram até ao escritório, viram pornografia na net, desapertaram os nós das gravatas, mandaram ordens por trezentos telefonemas aos funcionários de turno, apagaram todos os ficheiros do computador, galaram o corpinho da administrativa, beberam wiskey escondido em copos de plástico da máquina-de-água, acenderam charutos e deliberaram uma viagem ao Brasil com ajudas de custo para conhecer os projectos dos outros burritos da América do Sul, tudo na mesma língua.

Se voltarem, cá teremos um balde de sêmea e água fresca para seis línguas.


quinta-feira, fevereiro 15, 2007

levitando


D andando pesado e eu quase levitando. estive numa sessão de relaxamento e deixei-me entrar numa espécie de hipnose: o meu corpo a ser levado, leve, leve, por um balão vermelho até ao cimo de uma nuvem. foi hoje à tarde, em trabalho!

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espaços onde me foi possível respirar

(serra da Lousã vista do Talasnal)
- uma ideia do Abrupto -

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andando


Quando me sento, sinto o corpo todo vagaroso, porque não tenho andado tanto como andava.
Os pés arrastam cobre para sair do último sítio onde poisaram.
Andam apenas as mãos para as novas coisas onde sempre ando com a cabeça.

quarta-feira, fevereiro 14, 2007

dias de magia em Zamora

Passei por lá há anos quando era ainda imortal. Nestes últimos dias fiquei preso ao tempo, àquele templo, cidade da magia. Um passe desses, de mágica, levou-nos Espanha acima até Zamora, aqui tão perto para ti, aqui agora já muito mais perto de mim, como quem diz «vou voltar muitas vezes!».

Em Zamora realizam-se “Jornadas Internacionales de Magia”, ideas proactivas, que queremos partilhar brevemente no universo Sicó e por isso fui uma outra vez para além da fronteira.

Temos nome como âncora (Luís de Matos) e por ele, com ele, vivi um novo mundo de artes mágicas, apenas acessível quando somos actores no mundo da infância.

Em vez da arte dos truques, conheci mágicos como o Paulino de Zamora, humanos pois, amigos pela certa. Num dos muitos bares do prazer da Zamora velha, entre pimentos, setas, queso Zamorano, tudo condimenado a pérejil, tomilho e orégano, firmamos um contrato de amizade regado a “Elias Mora”, (que aconselho a quem visitar Zamora… vão… vão!), esse vinho guloso da região de Toro.

Entrando numa lojinha de produtos Zamora, o dono, conhecedor dos mágicos deste mundo mágico, disse: «que tal Paulino, que tal Luís, esses outros amigos são todos mágicos?»

«Que sim, cada um na sua medida!», disse o Paulino com um sorriso de palco, entendendo que todos temos a nossa mágica, mesmo que os dedos não ajudem.

O calendário vai-se afinando. Fim de Agosto passes de mágica no Sicó. Setembro, passes de mágica em Zamora. Esperamos por ti.

terça-feira, fevereiro 13, 2007

liberdade

é a minha vontade que me liberta

("the nature of my will sets me free", não sei de que música trago esta frase: Laurie Anderson? Art of Noise? O Piano? só tenho a certeza de que foi uma mulher)

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incómodo

"mulheres vão ser obrigadas a reflectir antes de abortar" (capa do Público, hoje)

é como se a palavra opção incomodasse muito e fosse preciso substituí-la, rapidamente, por outras, mais suportáveis.

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proposta

para quem argumenta que não há recursos no sistema nacional de saúde para gastar com quer precisa de abortar, vinha propor o seguinte: fechávamos os centros de atendimento a toxicodependentes, os centros de alcoologia, os serviços de infecciosas que tratam doentes seropositivos e portadores de outras doenças sexualmente transmissíveis, as unidades coronárias que tratam grande comedores e fumadores (sim, é consigo, dr. Manuel Antunes) e todos os restantes serviços onde se cuidam cidadãos pecadores. assim, sobrava imenso dinheiro para tratar os restantes cidadãos, os moralmente intocáveis.

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obrigada II

ontem, numa consulta ao domicílio (à cabeceira de uma cama sobre a qual pende, como na maioria das casas de doentes onde entro, uma imagem de nossa senhora), a esposa do doente (pessoa simples, de meia-idade), do nada, entre conversas de tosses e faltas de ar, olha-me nos olhos e atira: "eu votei sim, e a doutora?"

e eu pude perceber, melhor ainda, que os sins de domingo vieram também de gente como esta e da imensa sabedoria que emerge da vida das pessoas, desta resiliência, desta vontade que liberta por dentro e tudo supera.

tinha-me apetecido encerrar o assunto do referendo aqui no blog mas esta história veio ontem ter comigo e mostrar-me que isso ainda não é possível. chegamos a um ponto de não retorno.


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segunda-feira, fevereiro 12, 2007

obrigada Portugal

quando soube, por um sms chegado enquanto trabalhava, que o sim vencera por larga margem, o que senti foi comoção, alívio e uma profunda gratidão aos milhões de portugueses que desta vez decidiram deixar bem claro que a decisão de abortar deve ser o que sempre foi: uma questão de consciência individual.

gratidão, em particular, pela liberdade interior demonstrada por aqueles que professam uma fé cujos ministros, na sua esmagadora maioria (honrosa excepção seja feita à imensa sabedoria de Frei Bento Domingues), os tentaram convencer do contrário. foi-me muito importante saber que não estava sozinha.

gratidão especial, também, a todos os que generosamente deram a sua cara e dedicaram o seu tempo e o seu trabalho a fazer campanha pela despenalização, fazendo a necessária frente ao ímpeto "patrulheiro", culpabilizante e penalizador dos movimentos do não. obrigada: Médicos pela escolha, Sim no referendo, Cidadania pelo sim, Eu voto sim e Movimento voto sim.

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domingo, fevereiro 11, 2007

referendo: operação saldo

Há quatro milhões de portugueses que depositaram em outros quatro milhões, mais coisa menos coisa, a operação saldo.

Quer recibo?

Sim.

o jogo da falta de comparência

Todas as sondagens diziam SIM. O «período de reflexão» não existe, existiu para o NÃO definir a táctica. E a táctica é a abstenção. Na mesa do Quim onde votei, nem um terço da azáfama dos costumes – todos os terços andariam contados em rosário do NÃO -. Os velhinhos do voto tradicional hoje não terão carrinhas da Junta e autocarros à disposição; os lares acenderão as lareiras mais cedo e darão um bom lanche, logo seguido de DVD de um filme português do Vasco Santana e do António Silva. O jantar é mais cedo para ver o referendo na televisão. «Vão em paz para casa, está chuva e frio, o Senhor vos acompanhe», acabaram assim hoje todas as homilias.

NÃO ganhar não é ter mais votos nas urnas. NÃO ganhar é ter menos de 50% no sufrágio da participação. NÃO ganhar é ganhar por falta de comparência.

Espero estar enganado. Logo vos digo.

votar, é urgente


sim,claro

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sábado, fevereiro 10, 2007

pedaços de sábado

Venho leve, entre terna e chuvosa. Venho encostar a boca junto à folha e dizer: respirar.

Tenho-me revoltado com o despertador que tenho de usar, sábados de manhã, para ir por a criança às aulas de inglês. Comecei por deixa-la junto ao muro. Depois, continuei a deixa-la junto ao muro e a retornar pela estrada que contorno o mar. Continuei a deixa-la junto ao muro, a descer a estrada pelo nevoeiro e a parar no café.Continuei a deixa-la junto ao muro, a descer a estrada com o vento a bater na janela, a parar no café e tomar um pequeno almoço vagaroso. Continuei a deixa-la junto ao muro, a descer a estrada do Guincho, a parar no café, a comprar jornais e a saborear vagarosamente o pequeno almoço e o olhar matinal de sábado.

As horas saqueadas ao sono premente passaram a constituir um prazer sublime. Uma revelação. O apelo da ternura.Relembrar a respiração.

Chovia hoje e eu tive tempo para encontrar uma rara história de verão na crónica do Luís Fernando Verissímo – “ do lado de lá”. Nada, mesmo nada me sabe tão bem quanto este vagar de sábado...dormir, dormir isso é para domingo.

Venho leve contar que estou neste estado de procurar a respiração. Deixo-a registada como pequena causa, minha. Mas amanhã lá estaremos, a votar, depois de dormir e a chover a convicção de acreditar.

Mais um coisinha pequena e sem causa... esta tarde, Mia Couto, levou-me pela mão a Moçambique. Transcrevo o texto que fica aqui bonito :

Sou de um tempo e lugar em que os comboios eram lentos, tão vagarosos que pareciam arrependidos da viagem. Na estação, não havia despedida. Nada de separação traumática, o golpe definitivo da partida. Tudo era lento e esfumado que se convertia em irrealidade. A despedida como repentina ruptura eu aprendi mais tarde, no meu primeiro aeroporto. Voar é sonho da própria poesia. Mas o voo tem despesas de afecto muito pouco poéticas.
Nasci e vivi entre meandros de rios, preguiçosas águas que se apegavam ás margens. A estação ferroviária obedecia a essa líquida paisagem. O comboio era um barco e eu entendia porque se chamava “cais” áquela plataforma onde as mães agitavam os lenços brancos. Para mim, os modos lentos do comboio não resultavam de incapacidade motora. Eram,sim,gentileza. Uma afabilidade para com essas pequenas mortes, que são as despedidas.
Muitas vezes me desloquei para a estação dos caminhos-de-ferro com o fim de não me deslocar para lado nenhum.Ficava no banco de madeira a olhar gente transitando. E me abandonava naquele assento durante horas, sem que o tempo me pessasse. Talvez eu viajasse mais que os próprios passageiros que chegavam e partiam. A minha cidade era pequena, tão pequena que os domingos, com o seu tédio antecipado, não eram notados. Eu inventava os meus tempos fora do Tempo, ali na arrastada azáfama da estação ferroviária.
(...) Algo me ficou desse estacionamento de alma, como se eu ganhasse resid~encia perene nas velhas estações de todo o mundo. Afinal, essa contemplação me trouxe como que um irreparável vício: ter um banco de madeira onde eu possa ver desfilar pessoas em flagrante viagem “

sexta-feira, fevereiro 09, 2007

da vida, da morte

"(...) A vida onde começa? Não sei. Talvez comece no momento em que começamos a perceber que pode mesmo acabar-se-nos. Não é preciso estarmos a morrer para percebermos isso, mas é preciso ter ao menos respirado ar uma vez para depois darmos conta que ele nos falta. Isso e mais coisas."

(Besugo, no blogamemucho)

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referendo sim

A pergunta é:

«Concorda com a despenalização da interrupção voluntária da gravidez, se realizada por opção da mulher, nas primeiras dez semanas em estabelecimento de saúde legalmente autorizado?»

No meu português desde a escola primária, entendo que na pergunta a palavra-chave é «despenalização». Assim a escrevo. Assim a entendo.

A minha resposta é:

SIM! CONCORDO!


ti Gracinda 2 corações

sicó 2007

Já aqui postei sobre a ti Gracinda, mulher onde encontramos cada vez mais um grande coração. Morreu-lhe outro dia o filho, o nosso Ti Albino, (que comentava a cada piada «aquilo é qué um caralho!»); fez o luto e vive enquanto puder abrir a porta da tasca para a vida, a sua desprendida vida. Cumprimos por ela esse ritual. Acabada a tarefa dos dias, lá vamos de vez em quando saber da Ti Gracinda. A mesa está sempre posta, as mãos ágeis na procura do pão, o vinho alinhado como os tropedeiros no Eisenhower, porque há fogo por perto. O fogo do coração.

Aqui, mais que o copo, fala-se de tudo o que é simples, mas decisivo. O aborto é referendável apenas, ponto final na não discussão. Mas RB – com quem habito com RC muitas horas das nossas vidas - soube ao fim de tantos anos pelo tutor de outros tempos, porque órfão de pai, que o coração paterno trabalha ainda no corpo de um vendedor de bicicletas, algures por Coimbra B. Não o diria assim como o disse, a seco, o tutor, confirmando com um telefonema a uma testemunha de linha o desígnio de dar vida falecendo. Dador de órgãos. Dador de bons exemplos. RB dormirá hoje inquieto, adrenalina de código genético. Isto passa, abre a garrafa, anda, fala-me da próxima semana em Espanha… porque também confirmou que o pai (tinha?) tem coração!

quinta-feira, fevereiro 08, 2007

perguntas difíceis


da I, com seis anos:
- "mãe, como é que tu conheces as pessoas para saber se podes confiar nelas?"

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espalhem a notícia

alguma arquitectura do não é assim maliciosa, invasora, falaciosa. quase que fico como não quero e como os sinto: agressiva, mal humorada, com vocação para patrulheira. quase que digo em coro: chamem a polícia.

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quantidades antes


Porque vivemos em mundos diferentes,
- este mesmo, mesmo que o não sintas!-
(falas-me antes por post-it amarelos e e-mails e eu por antes correntezas do rio, sons do vento onde o meu amarelo é o mel, medindo o tempo em velhos calendários de tabernas).
Encontrei-te nos meus olhos ontem adormecida numa tulha antes do azeite, ou seria no tanque antes do vinho, em ambos antes dos líquidos dizias que sim como quem responde a um referendo, onde apenas o teu olhar era visível, dois grãos de areia que empilhámos um no outro em metáfora contida, invisíveis quantidades de deserto.
As pestanas, empilhadas antes umas nas outras nos teus olhos, são o número exacto das antes promessas ditas, gastas por muito ler as cartas de correio no antigo preço do escudo, hoje parágrafos com pontuação de segredo.
As antes certezas de que a vida nos trará um lugar onde me crescerá fértil a tua sombra são ausência do sol apenas pelas quantidades, apenas antes do tempo em que não estás, sempre antes de nos vermos.


segunda-feira, fevereiro 05, 2007

"os direitos de um bebé que vai nascer


  1. Direito a ser desejado por ambos os pais
  2. Direito a uma mãe disponível.
  3. Direito a um pai presente que directamente ou através da mãe acompanhe o crescimento do filho.
  4. Direito a um espaço - quarto da criança na casa de habitação"
(Teresa Ferreira in Em Defesa da Criança, Assírio & Alvim 2002)

nestes dias em que tanto se fala do direito dos embriões à vida, senti necessidade de voltar ao livro de Teresa Ferreira, compilação póstuma da vasta obra desta pedopsiquiatra que conheceu (e terá compreendido como poucos) crianças que foram bebés sem direito algum, excepto o da vida.

psicanalista de crianças, referida por Pedro Strecht (um dos organizadores do livro) como "uma pessoa que se colocava de forma única na primeira linha de defesa das crianças", fala-nos do paradoxo (ou dos limites da intervenção) da pedopsiquiatria: as crianças que mais sofrem, são as que mais tarde (ou nunca) chegam aos seus cuidados, por não haver quem as cuide a ponto de as trazer.

são histórias de horror (de abandono, violência, sexo, loucura) as que conheceu e que a levam a repetir, com desânimo, em vários dos seus textos: "o bebé não vota." fala-nos de capacidade maternal (distinguindo-a da capacidade reprodutiva) e diz: "há mães não-humanas. Também sabemos que elas não tiveram na própria origem uma mãe humana. Sabemos que há uma translação intergeracional da violência. Pensamos que se deve tentar pará-la."

são textos a não perder, por todos aqueles que, depois do próximo dia 11, continuem a interessar-se pelos direitos das crianças.

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deste tempo

A esta idade a nossa vida nada conta, apenas contos. E mesmo que procure dentro de mim um traço ínfimo, registe uma visita numa velha hora de alegria, uma cicatriz no dorso de um ponto negro por ti carinhosamente espremido, só existes se for exigente com os sonhos.

Nem uma raíz.

Numa nova idade, contar-te-ei num conto o que outra vez conta.

domingo, fevereiro 04, 2007

versão beta?

é por estas e por outras, e por estar muito bem como estou, que, apesar dos convites diários, ainda não tive coragem para mudar para a versão beta. alguém aí tem uma versão mais optimista da coisa?

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sábado, fevereiro 03, 2007

o meu anjo


conheci um anjo, em tempos. ele não existia, de facto. mas passou-me pela vida e tenho a certeza que eram asas (de desejo) o nódulo que lhe sentia ao abraçá-lo. ensinou-me a voar e as palavras essenciais do alemão, mas dizia que era o meu anjo do Harlem. um dia foi-se embora. levou com ele o nosso amigo J e então tive a certeza de quem ele era. só tinha vindo buscá-lo, ao J. imagino que vivem hoje rente às estátutas no céu de Berlim.



"eu sei voar
mas quero as asas dele
eu brilho no escuro
mas desespero pela luz que ele respira
o meu anjo"

a música de volta à linha depois das obras intermináveis do filelodge (obrigada Francisco pela dica do filelen)

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da vida, da morte II


falamos de tantas coisas, quando falamos de vida: de plantas, de animais, de pessoas, de células (rudimentares ou diferenciadas, cancerígenas ou precursoras de mais vida), de embriões de 10 semanas, de fetos de 30 semanas, de um bebé que nasce. mas falamos de menos coisas quando falamos de morte, do que nos morre.

uma gravidez que termina espontaneamente nas primeiras semanas (o que se crê que acontece em cerca de 20% de todas as gestações), muitas vezes nem é notada. se eu perco um bebé às 10 semanas, posso chorar, posso dizer "foi a natureza a fazer o seu trabalho" ou até que "Deus não quis". mas nunca direi que me morreu um filho. a minha mãe nunca chorará ter-lhe morrido um neto.

(a própria linguagem técnica distingue as várias vidas, em função da sua morte: dizemos primeiro "gravidez não evolutiva", “abortamento”, para algumas semanas depois dizermos “morte fetal in utero”)

há vida de uma forma diferente quando nos morre um filho (essa dor atroz que não desaparece jamais).

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da vida, da fé


hoje sei o que deus sempre soube: que o embrião que um dia eu não quis era o primeiro fruto de um amor que eu ainda desconhecia mas que nunca mais pararia de crescer. hoje aceito que teria sido mais cristão não ter tido tanta certeza de tudo como então tive. hoje aceito discutir, à luz de uma fé que não tive sempre, se devemos ou não investir, de forma sempre incontornável, um embrião de um desígnio de deus.

mas o deus em que acredito, além de saber dançar, é um deus infinitamente paciente: fica ao meu lado e encoraja-me na luta que tenho todos os dias comigo mesma, a caminho da generosidade e da serenidade que estão do outro lado do buraco da agulha por onde nunca conseguirei passar. conversa comigo, sem sequer gritar, nunca me atirou uma pedra. como posso supor que me excomungaria por uma dificuldade que tive um dia, antes de ter esta fé de hoje?

(hoje também sei que não estou sozinha)
e hoje (actualização) ainda estou menos sozinha

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terna ausência



Este livro veio ter comigo. Foi ontem. Tinha eu uma fracção de tempo quando me enfiei na livraria. Hora de almoço. Entrei para me esquivar do mundo. Heis que o encontro, feito de nome bonito, de gente a quem o nome reconhece a memória. Uns olhos azuis em Amarante. A tinta do papel de jornal, às terças. Trouxe-o sem hesitação, como um afago.Do Domingos Galamba, Izidro Alves, José Vultos Sequeira e Marcelo Teixeira.

Li o prefácio, ou quase prefácio, do José Luís Peixoto na reunião da tarde.Sublinhei dele: “ E outra vez o tempo. As estações de província, o mundo que se torna invisível e passado entre dois comboios, e as estações dos anos que também passam”. Guardei-o nas mãos pela tarde.

Agora conto e deixo:

“ Os meus lábios ainda procuram
o teu nome numa estação de província.
Que blusa vestiste hoje ?
Que lírios te perfumam a secretária ?
A que horas nasce o sol na tua rua ?

Para me ferir eu sei
visito os lugares da tua memória:
a aldeia onde vive o teu irmão
as figueiras a que subias pela manhã
a ara que recorda o teu pai
a margura a preço de saldo
neste corpo.

Como se entre dois comboios de novo criasse o mundo
e não conhecesse outra maneira de morrer.”

Marcelo Teixeira

da vida, da morte


vida não é um conceito universal, nunca foi até chegarmos onde estamos. e pode dizer-se das diferentes vidas pelas diferenças do seu oposto, a morte:

formigas morrem todos os dias na minha cozinha, sou uma dona de casa limpa. se eu matar, como digo que me apetece, a pomba que me suja a varanda, sou bárbara. um lince morreu na Malcata, é trágico. conheço pessoas a quem morrem animais. morrem-lhes, como se fossem família, amigos. a vida animal, dependendo assim, de ser, ou não, investida dos afectos humanos.

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sexta-feira, fevereiro 02, 2007

Caixa de Pinho (棺材)


Toca a sineta,
destrava a carreta,
que acabou de sair de uma boca o féretro da asneira.
Um tal de Pinho, Manuel, Ministro nomeado deste país, argumentou lá pela China com os baixos salários dos portugueses, afirmando desse modo um Portugal atractivo ao investimento.

«您耍笑与我们», disse o primeiro, Wen Jiabao, com um sorriso amarelo ao aperceber-se que os políticos em Portugal ganham cem vezes mais do que ele, fazem cem vezes menos, mamam da Europa contribuinte líquida, pagam em chinês aos trabalhadores e tudo em democracia.
E terminou com um «与您, 人性交» ... desculpem a dificuldade de tradução.

quinta-feira, fevereiro 01, 2007

pelo sim: leilão de arte hoje em Matosinhos

hoje, 5ª, 1 Fevereiro, às 21h30, na Nova Biblioteca Florbela Espanca (atrás da Câmara Municipal de Matosinhos):

Leilão de Arte de angariação de fundos com pinturas e esculturas dos seguintes artistas, entre outros: Júlio Pomar, Gracinda Candeias, Chichorro, Eurico Gonçalves, Armando Alves, Jaime Isidoro, Alfredo Luz, Urbano da Cruz, Miguel Barbosa, Dina Aguiar, Ana Pimentel, Oliveira Tavares, Maria João Franco, Jaime Silva, Fernando D'F Pereira, Tenente General Franco Charais, João Limpinho, Ricardo Videla, José Man, José Rodrigues, Manuel Casal Aguiar, Agostinho Santos, Leo, Pedro Olaio Filho, Rui Anahory, Alcino Soutinho, João Samina.

uma iniciativa Médicos Pela Escolha

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