quinta-feira, fevereiro 22, 2007

20 ZECA 20


M chega à linha com Joan Baez, parece que adivinha. H lerá e ouvirá ao cantinho do tempo, assim à sombra destas palavras.
À meia-noite, quando as guitarras soarem em vez dos sinos nos campanários do Alentejo, nas Beiras, ou ali bem mais perto da Ria de Aveiro, a balada reunirá todo o acorde silencioso de um som de saudade como o dos pés pesados da Grândola. Foi há 20 anos que o Zeca nos deixou. Deus, o que sabe dançar, escolheu ao homem simples uma doença só comparada à sua arte: esclerose lateral amiotrófica. Foi um devaneio, ou um capricho.
Ouço-o ainda com regularidade nos discos e nos horizontes que deixaram as suas palavras. Cada vez que ainda me canta, quando o nomeio no tratamento da alma, tem a obra tanta oferta que só dele lembrar se me acalma o coração e, quando zangado com a vida, me coloca todas as armas em riste:
«Virá a incerta energia, alguma vez derrotada, proclamar aos quatro ventos a sua fragilidade? Virá a crise imatura da minha pátria e da tua certificar-se das horas? É inútil chorar: o combate é preciso. Outra voz, outra garganta, outra mão que se estende à que tombara. Uma fagulha num palheiro acesa. Ó meus irmãos… a luta já não pára. Vou morrer com esta norma, sem grande mundividências. Não se fazem continências quando não se está em forma. Chamo a mim a reserva inesgotável de alegrias, a raiva dos oprimidos, a bondade de um homem simples com quem, às portas de Arraiolos, me embebedara num dia de sol e serra… que um Deus reme connosco na viajem. Tu és o meu legado mais profundo. Por isso irei contigo até ao fim do mundo. Fora do orabolas em que foste criado há muita coisa à espera de ser vista. Esta tendência para a sucção da metafísica… como custa caro ó melgas!»
Entre muitas, o “Traz outro amigo também”, canta-me H e M presas à minha vida em todos os acordes que nos unem como amigos felizes.
Mas Coimbra B tem, entre muitas, um hino que assobia todo o corredor, quando sozinho na noite só de mim busco a energia mínima para poder dizer NÃO (é cada vez mais preciso saber dizer NÃO!) sempre que a coluna vertebral o exige: qualquer dia.
Parece que o serviço público RTP o homenageia hoje pela meia-noite. Vou-me sentar ao plasma. Até sempre!


1 Comments:

At 4:41 da tarde, Blogger JPN said...

que belo post!

 

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