Condomínio de Carnaval
Os que habitaram hoje em centros comerciais não ligaram ao Carnaval. Eu, que detesto comprar roupa porque nada me serve à primeira, escolho estes dias e por lá andei, cheirando saldos, porque para a tarefa preciso de atenção especial, leia-se tempo e pouca gente. É um exercício da velha história da manta curta, tapa de um lado, destapa do outro. Aperta o umbigo, sobra nas perneiras. Serve nos ombros, sobra nas mangas.
Mas a “nova” abordagem ao cliente nestes dias é que me irrita pelos adereços que vestem, importando a época. A mocinha da loja, bonita e sorridente como “a rapariguinha do Shopping” do Tê, andava permanentemente à minha volta com uma aranha na cabeça. Era o seu disfarce com o sorriso disfarçando o desejo de ali não estar naquele momento a troco de um qualquer Carnaval onde a garantia do emprego a não deixou ir.
«Tem medo de aranhas?»
«Não, tenho medo da conta e de engordar e de não poder devolver isto tudo outra vez!»
Carrego os sacos. Quatro pares de calças, duas camisas, três gravatas e um casaco com um número abaixo para me obrigar a emagrecer.
Coincidimos nas chegadas ao prédio onde vivemos sem nos vermos. Ela abre a caixa de correio e tira panfletos da pizza-hut e um cartão de um canalizador. Eu poiso os sacos, abro a caixa de correio e tiro publicidade da makro e um rectângulo anunciando serviços de estores. Falamos pouco (ela já está fora de serviço, eu já paguei). Trocamos poucas palavras. Em vez de nos entendermos neste Carnaval, acabamos por trocar os cartões do canalizador pelo de estores. Um dia, sabe-se lá, perceberemos que precisaremos apenas dos serviços um do outro e mandaremos imprimir num único cartão os nossos nomes. A mulher primeiro, cumprindo todas as regras sem a aranha na cabeça.
2 Comments:
a música não entra... aquele "file nor found" é propositado?
não sei o que se passa com a música deste post. experimentei agorinha pôr música e funciona, embora às vezes entrecortado.
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