sábado, fevereiro 05, 2011

Tarefas da memória

Acredito no exercício da boa memória. Porque escolhi por opção o prazer das coisas boas, o beijo pendurado que ficou próximo de cumprir, o agasalho que ainda ofereces quando o vento obriga, a presença no almoço dos que falam de outros assuntos que nunca te ocuparam o teu registo de anos, os copos da rodada que tens de pagar, cumprir ritual, a prenda que deixas na nenhuma expectativa de quem a vai receber, discutir manchas na pele que te começam a manchar os teus 40 anos, a revolução de jasmim na Tunísia decalcada no nosso 25 de Abril.
A cabeça a trabalhar a boa memória. Ainda lembro sítios recorrendo sempre a mulheres velozes. Comigo foste feliz ali. Contigo fui feliz aqui. Cheiras a um perfume antigo. E os mapas que sabemos em pormenor quando fomos apenas electrões de valência, energia do andar às voltas da vida. E a sombra das árvores que nos fizeram ficar. E as marés que nos passaram entre os dedos, nós que nunca fomos de maresia, não fosse o sal que resistia no teu olhar. E o anel e o brinco que dataram tempos onde éramos apenas barcos de velejar. E aquele crescente da lua que iluminou o teu rosto na janela da casa da eira, tão linda como quando saíste a primeira vez de casa com as chaves da porta no bolso. E a música que ainda cantas às escondidas com a vida. O YouTube não serve a memória. A boa memória existe quando nos encontrarmos outra vez!

sexta-feira, fevereiro 04, 2011

Liedson da Silva Muniz

Nasceu na Baía um baiano que me provocou nos últimos 7 anos gritos vitoriosos na boca, desajeitado com andar gingão, atleta do meu Sporting que respira GOLO como bebo traçados de vinho com a gasosa das emoções, cesto de nozes, ou mulheres decisivas que também me afectam como ele o coração.
Fez há pouco dois golos, uma argúcia dos predestinados, vi todo o seu último jogo entre torradas e queijo fresco, a mesma frescura com que troca os pés aos defesas à entrada da área.
Despediu-se emocionado do cenário de Alvalade e deixou-me (já começou) um percurso de saudade. Homens como este, destas mesmas alegrias, lembro-me do Damas, do Manuel Fernandes e do Jordão. Pronto, e do Hector Yazalde (Chirola), meu primeiro ídolo a sério nas campanhas do verde-branco.
Foi português de Selecção, fala a língua e a necessidade da portugalidade nos mais capazes. Foi cartazes, «Liedson resolve!». 173 golos.
Quando marcava,
abria a mão em eco de orelha, ouvindo todos,
a festa da bancada,
esse grito da felicidade dos simples.
Estes nomes ficam na memória. Os outros apenas músculo, alguns desenhos no relvado e salários que não ganharemos nunca.
Amanhã todos os jornais e noticiários, se forem sérios, colocarão nas manchetes um nome: LIEDSON. Tudo o resto começará a fazer parte da memória! E não fez mais golos para meu regozijo, porque não tinha jeito para penalties!

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