sábado, fevereiro 05, 2011

Tarefas da memória

Acredito no exercício da boa memória. Porque escolhi por opção o prazer das coisas boas, o beijo pendurado que ficou próximo de cumprir, o agasalho que ainda ofereces quando o vento obriga, a presença no almoço dos que falam de outros assuntos que nunca te ocuparam o teu registo de anos, os copos da rodada que tens de pagar, cumprir ritual, a prenda que deixas na nenhuma expectativa de quem a vai receber, discutir manchas na pele que te começam a manchar os teus 40 anos, a revolução de jasmim na Tunísia decalcada no nosso 25 de Abril.
A cabeça a trabalhar a boa memória. Ainda lembro sítios recorrendo sempre a mulheres velozes. Comigo foste feliz ali. Contigo fui feliz aqui. Cheiras a um perfume antigo. E os mapas que sabemos em pormenor quando fomos apenas electrões de valência, energia do andar às voltas da vida. E a sombra das árvores que nos fizeram ficar. E as marés que nos passaram entre os dedos, nós que nunca fomos de maresia, não fosse o sal que resistia no teu olhar. E o anel e o brinco que dataram tempos onde éramos apenas barcos de velejar. E aquele crescente da lua que iluminou o teu rosto na janela da casa da eira, tão linda como quando saíste a primeira vez de casa com as chaves da porta no bolso. E a música que ainda cantas às escondidas com a vida. O YouTube não serve a memória. A boa memória existe quando nos encontrarmos outra vez!

2 Comments:

At 9:17 da manhã, Blogger Unknown said...

memória atarefada e boa

 
At 1:28 da manhã, Blogger  said...

é tão bom ler-te!

 

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