domingo, agosto 31, 2008

caderno de duas linhas V

cheguei ontem da Galiza, as malas repletas de areia, livros e crespúsculos. apanhei o comboio em Vigo e atravessado o rio Minho foi a alegria de sempre. às vezes nem sei porque saio de casa, tamanha é a euforia de regressar. pouca-terra, pouca-terra, toda a viagem para casa a conferir um a um os lugares onde o meu coração já bateu: Caminha (numa noite de loucura, apaixonada e às escuras numa casa arrombada), Moledo (num Agosto difícil, com 15 anos e demasiado perto do fruto proibido de Vilar de Mouros), Darque (onde nos apeámos em 85, na primeira noite da nossa Volta ao Minho), Apúlia (onde o meu anjo da guarda me pôs a mão no volante quando adormeci por instantes numa curva) e Campanhã (o meu porto de sempre).

quando entro no gabinete de chefe de estação o telefone já toca de Coimbra-B. o Labitinha conta-me que a Helena e o David têm escrito recados inspiradíssimos em cadernos de duas linhas. pouso as malas, ligo o portátil e consigo vê-los do meu lugar: sentados num bar de estação, uma mulher e um homem, sem bagagem, debruçados sobre um mapa e dois gins. ela coberta de palavras: coladas à roupa, penduradas aos cachos pelos cabelos revoltos, enroladas nos colares, pulseiras e anéis. ele, subitamente analfabeto, crê que ela emudeceu. e faz-lhe um desenho do futuro (esquecido que ela não vê).

permanecerão assim ainda muito tempo: ele sem a ler, ela sem o ver. mesmo deste lado do vidro sei que à volta deles cheira a álcool barato e que é fria a mármore suja da mesa. sei que as mais belas histórias são as que quase aconteceram, acontecendo assim muito mais intensamente e sem serem desafiadas pelo o curso indiferente do tempo. do resto não sei.

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quarta-feira, agosto 27, 2008

Caderno de duas linhas - IV

Ajeitava ainda a última volta do corpo na cama quando o telefone tocou. A noite tinha sido pesada, daquelas de quando entramos em casa e nos deitamos sem darmos por isso.
«Ela está aqui, pá!» – gritou o Labitinha ao telefone, chefe da estação de Coimbra B, velho parceiro do canto do bar.
Resmunguei, desliguei, até ter consciência da notícia. Á forte dor de cabeça ajudava um som: - «Ela está aqui, pá!»
A vida ganhou forma. Levantei-me devagar como quando se ergue uma flor no orvalho da manhã. Arrumei a casa à pressa, ordenando-a como os tachos e as panelas de cobre nas antigas cozinhas e descuidei-me na pressa de vestir. Se demorasse, ela era mulher para apanhar o comboio seguinte, como me fez num fim de tarde, saindo assim do Hotel Zenit Coruña.
Pego no carro e atravesso a cidade até à estação. Não a reconheci no primeiro momento. O Labitinha saltava ao canto da gare e apontava para uma mulher bonita, pronto, assim maçã mais madura. Depois sim, reconhecia, porque me revi numa fotografia a preto e branco que se agitava na sua mão. Tinha o cabelo mais solto, a pele ao sal mais seca, os mesmos olhos, os mesmos olhos mais distantes, o mesmo andar de passo longo e decisivo. Na outra mão, um saco de onde saía a ponta de um vestido com que me dançou a vida no bar “La Santa Sed II”, um mambo em Orense, tapando-me a boca, dando-me corda para que a guiasse.
Aproximei-me e disse: - «Li o teu post. Falei com o revisor. Como estás, deu-te o meu recado?»
«Deu. Estou como o Chiado, ardida e recuperada, lembras?»
«Estás bonita!»
«E tu continuas mentiroso!»
Alargou a écharpe do pescoço e disse naquela voz suave - «apetece-me um copo!»
Fomos para o bar. O Labitinha rondava-nos ao largo como um barco, acenando de largo. Convidei-o. Sentámo-nos os três. Três gins. Três mentiras de conversa. Só a dois, depois, sem Labitinha, a aposta se fez.
«Estou disponível. Escolhi a roupa, dobrei dinheiro. Nesta folha em branco, desenha o nosso trajecto. Estou disponível, ouviste?»
Depois acendeu um cigarro e ficou muda na mesa, fumando-o como as abelhas sugam o pólen das flores. Ainda perguntei se queria tomar um banho lá em casa e descansar um pouco. Que não, que não. Queria partir. Pedi uma caneta ao Labitinha e desenhei na folha branca, à pressa, o mapa da Europa e, sobre ele, pontuei um percurso a vermelho sem ordem como o trajecto de uma estrela.
Ela olhou, pediu mais dois gins e disse: - «Vamos por aí!».
«E se fossemos de comboio? Ó Labitinha, vendes bilhetes para Irún?»

terça-feira, agosto 26, 2008

caderno de duas linhas - III


«Se quiser, podem fazer nova viagem, partir amanhã. Ele a esperará na estação de Coimbra B», escrito num pedaço de folha dobrado em quatro, que o revisor deixara debaixo da minha porta. Seguirá depois até à última casa da rua, a primeira do mar, para se atirar à cama. Era o único homem da vila que não se fizera aos barcos, escolhera o comboio como quem desvia o destino.

Li o recado e estremeci vento. Vento como só em Agosto. Sentei-me na cadeira velha e quietei o desassossego. Enrolei um cigarro mortalhado na folha, fumei uma a uma as palavras.

Agarrei na manta preta, enrolei-me nela e apressei-me a descer a rua até à praia. Sentei-me na areia e no frio. Ele não sabe, depois de ardida e recuperada, perdi as palavras. Elas vêem-me de dentro, sobem o corpo e desfazem-se na boca. Como o mar. Como matéria sem vestígio.
A mudez é diferente do silêncio... silêncio não tem palavras para haver espaço, mas mudez é ter palavras que se desfazem, que não falam.

Fiquei calada de passado e de tempo. Que materialidade tem assim um homem numa história de amor? A pele, bem sei! Mas ficou gretada e seca depois do incêndio.

Retornei a casa e, na rua, cruzei-me com os homens que partiam para a faina. Guardei num saco o último vestido com que dançara, a fotografia do homem ainda novo e uma folha em branco. Esperei na estação o primeiro comboio, enquanto clareou o dia.

Saí assustada, passei apressada à porta do bar da estação cheia de homens e entrei na porta do chefe da estação...

domingo, agosto 24, 2008

caderno de duas linhas - II

O revisor viu-me do waggon 21 no bar da estação, reconheceu-me numa cara mais velha, aproximou-se, acendeu um cigarro e disse-me que chegou após ligação de Coimbra B a Coimbra A às 11:10. A hora de um post que intersectou de Lisboa onde a tinha visto frente a uma janela a escrever, poisado o olhar na parede branca e veio no primeiro comboio avisar-me que o vulcão tinha recomeçado a actividade. Olhei o relógio da estação, lembrei-me da hora do post. Não era coincidência!
«Como é que ela está?», perguntei ansioso.
«Está como o Chiado, ardida e recuperada».
Foi há 20 anos quando o Chiado nos ardeu nas mãos. Então, tinha-me mandado um postal de Viana, agora vem mensageiro de linha desassossegar-me o pouco espaço que ainda tinha sereno no coração.
Acho que é Agosto que nos mexe. O sal na pele. Um vento como um código só nosso, que chega pela noite como a luz aos pirilampos. Ainda me lembro dela, soberba no Alto de Allariz sobre o rio Amoia, quando falávamos num alfabeto «amar-te uma única vez».
O mensageiro despede-se, missão cumprida.
«Regressa a Lisboa?»
«Sim, a minha tarefa está terminada!»
Esta mulher inquieta-me! Deixei-a num Agosto cinzento de fumo. Arredondou-se-me na vida como os cavalos ao consumar a sorte sobre os toiros. Dois anos rigorosos de Agosto em Agosto...
«Diga-lhe, que se quiser, podemos fazer nova viagem, partir por exemplo quarta-feira. Ela que escolha a roupa, o mapa e dobre dinheiro. Estarei no bar de Coimbra B com as minhas economias.»
«Lá direi!».

caderno de duas linhas - I


( lúdico exercício com D enquanto os dois tomamos conta dos comboios e M dos barcos na Galiza)



Ás vezes ficamos assim, por escrever. Sentamo-nos diante da janela e o mundo fica indizível. Ás vezes só o olhar se deixar. Tens agosto todo e a parede branca com janela. Tens o mundo que ouves e as histórias que acontecem, mas em ti só existe o olhar. Pode arder o Chiado, como já nos aconteceu, ou o mar a abeirar a pele. Pode haver o amor e as cidades desertas, pode haver o vento às vezes forte neste mês e o crime pela noite. Tudo pode. Mas às vezes ficamos assim, por escrever. Frente à janela.

quinta-feira, agosto 21, 2008

Desprendimento

Vi hoje, pela manhã, um padre daqueles antigos a fotografar a fachada desta igreja. Chegado ao largo, contemplou-a com os olhos que Deus lhe deu, recuou três passos de via sacra e ajoelhou. Presumo que fosse apenas para enquadrar melhor a fotografia, porque pelo seu andar aliviado em vestes de verão, pareceu-me que estava de férias e não teria nada a conversar com o patrão.

terça-feira, agosto 19, 2008

Quinzena olímpica

A vida solta foi uma fotografia, outro jogo olímpico. Já tive tempo para me sentar no cavalo de madeira, o cheiro da maresia, a fotografia de férias a preto-e-branco, o fotógrafo com o feltro preto sobre a cabeça, o flash memorizando um quadro de saudade e, no fim, uma palmadinha maternal na cabeça, a boca logo cheia de «bolacha americana», roubando tempo para o banho. Era sempre Agosto. Ainda há na caixa das fotografias lá de casa uma memória disso. Era sempre abundância de tempo.

Mas, sabes, agora ando andando no meu trabalhinho sem medalhas no horizonte, porque nunca as prometi. Não sei onde começa a curva da palavra férias, o sítio onde começamos a desviar este sentido e aqui acabo e recomeço, a folha da tília para um chá, a metamorfose do bicho-da-seda, borboleta, folha comida para o que virá. Tenho pelos joelhos a lucidez do Obikuelu, a certeza de todas as contas bem pagas ao Gustavo Lima, a asma do Paulino, o espírito de missão da Vanessa, a estupefacção da Naide, o rigor dos árbitros da Telma, o «não ser muito dada a estas competições» da gaja do lançamento do martelo, a caminha pela manhã de um atleta, a borla da viagem de um vice-presidente em detrimento do director-técnico do tiro, seja o alvo o que for, fosse a versão abrasileirada da delegação do BES, pronto, partindo apenas a montra toda com o desvio dos incompetentes.

Mas, sabes, ando num clima de Jaime Pacheco do Boavista, sem rei nem reino, ou de cavalo português que se assustou com o ecrã. Pelo meio ainda telefono a um amigo médico, que esteja atento às 11:30 à cama 12 da cirurgia 1, porque o deitado é amigo de um amigo e precisa do conforto clínico. Sócrates e Cavaco entusiasmam-se por Vanessa, a regra de minimis política. A medalha, a medalha redonda deste trabalho que não me traz mais do que uma antiga motivação, é um exercício de espera. Este outro tempo tem um futuro anunciado a portaria. Cumprir o articulado para ter ordenado. Cumprir o artigo onde a vida me fará sentido. Disso vivo ainda, deixando cair lugares onde os meus olhos se encheriam de memória. E os teus, se tivesse tempo para isso. Um dia…

Mas, sabes, ainda gosto desta vida como uma modalidade olímpica!

domingo, agosto 17, 2008

fazer as malas

  • Oriente Próximo, de Alexandra Lucas Coelho (uma sugestão da Cristina G S para dar seguimento ao filão Israel, e que já parte meio lido)
  • O Último Cabalista de Lisboa, de Richard Zimler (no mesmo filão, um outro estilo)
  • Ana Karenina, Tolstoi (falta-me este clássico que vi na TV em criança, repeti já adulta e pelo meio desejei ter lido a conselho da personagem Teresa de A insustentável Leveza do Ser)
  • Saga, de Érico Veríssimo (mais um filão que vou perseguindo, o deste autor espantoso, ao ritmo de dois livros "do Brasil" por ano)
  • Os Males da Existência, de António Sousa Homem (que ofereci à minha cunhada mesmo a tempo de ela mo emprestar para esta quinzena bibliófila)
  • Os Mares do Sul, de Manuel Vázquez Montálban (um livro que li em folhetim no Expresso no Verão de 86, agora editado pela ASA)
  • Quem Mexeu No Meu Queijo?, de Spencer Johnson (uma sugestão soft de colegas de trabalho)
  • A Mancha Humana, de Philip Roth (o meu primeiro PR, a ver se pega)
  • Niketche Uma História de Poligamia, de Paulina Chiziane (uma sugestão da minha mãe, muito promissora, já que veio no mesmo cabaz do meu primeiro Mia Couto)

não morram já de inveja pois só daqui a 15 dias se saberá o que consegui ler. preciso de levar alguns exemplares a mais (como se faz com as meias ou as T-shirts), para não correr o risco de passar uma só hora sem nada para ler (ou vestir). para já, para já, é mesmo só degustar a possibilidade de vir a ler cada um deles.

enquanto isso e o David não aparece, a Helena ficará a chefiar todas as estações da linha.



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sábado, agosto 16, 2008

o céu sobre Portugal

esta noite dormi rente ao céu



guiada e velada por anjos

num redor de bíblicas oliveiras


espécie de vertigem acordar ali

Albergaria Nª Srª do Sameiro**** (totalmente remodelada em 2007)
quartos duplos a 55 euros (juro!)


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chuva em agosto


Gosto quando chove a meio de agosto. Quando a chuva arrefece o delírio e a terra se cheira molhada. Gosto do fingimento da melancolia no meio do tempo quente. Como uma pausa, um descanso de calor, um recolhimento sem inverno, um rascunho de intimidade.

Chegou a chuva a meio de agosto. A estrada matinal ficou bonita e extensa com o rio a bater nela. A terra suspira. Na rádio passa uma música melancólica e vamos até á estação levar mais uma filha que parte. Sempre as estações.

Está um dia de fingir tédios. De fingir tempestades. De fingir reflexões. De fingir que perdemos todos os amores e o mundo se desfez em nevoeiro.

Gosto quando chove fora de ordem. Quando chove em Agosto.

sexta-feira, agosto 15, 2008

agosto ao meio


Linhas que se fazem em Agosto. Os que vão e os que ficam. Boas férias a quem vai. Bom Agosto a quem fica.

quinta-feira, agosto 14, 2008

antes das férias

hoje deixar devagar o trabalho, tudo acabado, cada coisa no seu sítio. especialmente arrumados os processos de dois doentes que sei não vou reencontrar quando voltar. menos arrumada a conversa: quase como se faltasse um telefonema, uma despedida (impronunciável).


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férias

de férias há umas horas. sempre este espanto de afinal ter chegado, este tempo mágico (de ser, de estar, de ler) que passou o ano escondido para lá dos meses como se nunca fosse chegar. subitamente aqui, já, a passar, decidido, em direcção a dias longos, noites sem dia seguinte e manhãs vagarosas.

já. a passar. em direcção ao seu fim, e a Setembro. ao retomar de todos os ciclos.

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terça-feira, agosto 12, 2008

Aldeia, Sul

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domingo, agosto 10, 2008

ser do tempo de


recorte de um Independente, de 1993, de um texto aposto que de Miguel Esteves Cardoso. sabemos que não é assim, mas o tempo a passar dá-nos esta exactíssima sensação.

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sábado, agosto 09, 2008

parabéns, R!


Onze anos, faz hoje R.

As gargalhadas enchem a casa, vem do fundo, misturam agosto com a desarrumação do quarto ondem pernoitaram mais três amigas. Já não fazem festa do pijama mas a festa do soutien, tentam tocar viola e confundem as cordas, filmam documentários, pintam de vermelho as unhas. O ar da varanda e do mar entra pela casa onde as miúdas se fingem, se crescem, se divertem.

Desta vez não fazemos festa com bolo e confusão. Vamos ao mar. Vamos ao entardecer para a Adraga.

É bonito fazer onze anos a ver o mar.

terça-feira, agosto 05, 2008

Retórica McCann

«Os McCann», assim é tratado pelos média o casal inglês. Já escrevi sobre o assunto. Hoje, o seu novo advogado, Rogério Alves, veio ao Mário Crespo, da SIC Notícias, defender a causa paga em libras. Falou da retórica, por vezes aristotélica, contando o seguinte exemplo dessa arte quando se fala para um padre:
- Nunca se deve perguntar «posso rezar enquanto fumo?», antes retorquir… «posso fumar enquanto rezo?» … aí está a retórica do convencimento do interlocutor.
Se Mário Crespo fosse padre teria sido convencido, Não é! É um jornalista com todas as perguntas certas na ponta da língua… e não deixou acender o cigarro a Rogério Alves.

Change


Um desespero fotográfico. Preciso de mudar.

segunda-feira, agosto 04, 2008

minho




Ainda trago o cheiro molhado de julho no Minho, a altura do milho nas estradas e o verde da vinha nas latadas, o ruído pesado da fruta a cair das árvores, quando à noite ficamos quietos a amansar a vida. A casa calada. Os livros pousados. As crianças em sossego.

Preciso sempre desta semana em cada ano. Rente á terra que é onde é mais fácil sossegar, ou seja, confundir o respirar da boca na terra. Qual orvalho, qual humidade, qual chuva confundida.

Preciso deste vagar da pertença. Ter terra, ser terra, sentir terra. E eu sou minhota, minhota.

Preciso do vagar até ao tédio, dos livros todos que sou capaz de ler nestes dias e das conversas quase dolentes que se fazem devagar.

Gosto muito de levar as crianças. Mais do que as minhas. Sentir que se fazem de ar, de aventuras, que salvam um pintainho e se sujam todas no galinheiro, que vão pela estrada resgatar o anho acabado de parir, que se inventam e inventam o mundo todo nas histórias que não sabemos e cabem todas ali, rente ás vinhas e na sombras dos limoeiros. Que fazemos bolos na cozinha velha com os ovos das galinhas e as laranjas da árvores para o lanche da tarde e as limonadas açucaradas para a sede de brincar tanto. Vivem estafados de terra e histórias.
Gosto de sentir, por suspeita, que lhes ficará na memória o cheiro a terra destes dias de julho, ás vezes com chuva.

Gosto da verdade de nada fazer e gosto da verdade de sentir. O Minho em finais de julho.

natureza responsável

um post que subscrevo por inteiro, por dentro, do avesso e do direito e que ajuda a explicar porque é que, sendo um blogger de quem discordo tantas vezes, o Luís é, simultaneamente, alguém que sempre imagino do mesmo lado do mundo que eu.

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domingo, agosto 03, 2008

Triângulo ao Minho

Porque a Mónica me desafiou a ir ver Pinóquios e porque na semana passada uma rapaziada de outros campos se perdeu à beira rio e foi notícia, e meteu helicópteros e bombeiros e TV's, recordo esses dias “retrovisor no ombro” em que a felicidade ainda não era coisa mediática. Ficou uma memória de um dia P – perdição – que nos fez mais capazes. Porque também nos perdemos e fizemo-lo de tal forma subtil que só os nossos souberam e só nós nos divertimos.

“(…) Por isso fomos “Triângulo ao Minho”, sempre à boleia a partir da Foz do Neiva onde o Mocamfe um dia celebrou o seu centésimo campo. Lembrar o acolhimento da Lena em Viana, os “King Fisher’s Band”, a romaria em Vilarinho das Donas, a dormida nos bombeiros de Ponte da Barca, o “assalto ao castelo” no Lindoso… e aquela noite onde percebemos que éramos poucos para partilhar a amizade que criámos. Uma noite sem bússola, perdidos, onde a fogueira e a esperança nos “mensageiros” foram vitais. Que nos “guiasse o faro e o olhar de mocho”. Finalmente a água boa da Caniçada, fazendo-nos pensar que o mundo encontrou ali uma pausa para meditar o seu destino.”

Os Campos, página 18

o amor e uma varanda

quando o Verão se digna subir no país e o Porto aquece, mudamo-nos para a varanda: uns modestos 6 por 1,5 metros virados a norte e às traseiras de um quarteirão no centro da cidade. nestes dias raros sei que o clima também faz um povo: na primeira vez que estive num país quente, o Brasil, deslumbrei-me ao ver como na cidade de Salvador, à noite, as pessoas traziam para a rua cadeiras e se sentavam com os vizinhos, jogando cartas e bebendo cerveja.

tenho a certeza que viveríamos melhor se fosse Verão mais vezes cá em cima. e não é só o cheiro nem a fúria que o calor traz. não, é outra coisa, é o despirmo-nos do que nos pesa, a pele exposta à brisa do norte e ao ar morno da noite. é vivermos mais perto do que precisamos, com menos coisas, com quase nada.

só conversamos mais, estamos mais e amamos mais. na varanda. sem ligar a luz, por causa dos mosquitos. sem ligar a televisão, porque, cá fora, disso ninguém se lembra. pintamos pedras com as crianças. eles regam vasos, fazem bolas de sabão e metem-se com os gatos nos telhados. tu fumas 2 ou 3 cigarros lentos e falamos até adormecermos ao relento. pela manhã é na varanda o primeiro café. sento-me a cheirá-lo enquanto ouço o mundo e na cabeça rascunho um post: o amor e uma varanda.

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sábado, agosto 02, 2008

o retrato


este é o retrato que a minha filha, de 7 anos, fez da minha mãe. a família ficou boquiaberta com o novo talento aqui revelado. é que, quem conhece a avó Bi, reencontra neste desenho, inteirinhas, a sua vivacidade e alegria de existir. e um certo olhar que eu diria mesmo ainda mais garoto que o da pópria neta, como só uma avó que ama por ofício pode ter.

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