os mares do sul
a manhã nascia enquanto percorríamos aqueles lugares lavados e vazios. ilógicos àquela hora e àquele silêncio. vimos, nessa manhã tão cedo, a luz as pessoas as cores e nós a acordar. as fotografias talvez não valessem a pena: aquela luz pedia mais que isso. e, no entanto, fotografávamos. eram ofuscantes as cores de Santorini. era esta nitidez ou era ainda mais nítido que isto.
ligamos o gravador e de outra dimensão (fixada anos-luz distante dali) surgiu magicamente a voz de D: “última mensagem: esquecemos há muito as últimas letras do alfabeto grego”, exactamente ao mesmo tempo em que começávamos a soletrar as primeiras palavras do grego essencial: σ’αγγπώ (sim, eu amava-te).
nas primeiras horas da manhã de Santorini fechava-se os olhos às vezes para se conseguir acreditar. tiravam-se fotografias embora se soubesse que aquelas cores não se conservariam em papel algum. percebendo que estava a viver dentro da história de “Os mares do sul”, repeti com os poetas:
leio, pela noite fora
e no Inverno viajo para o sul (T S Eliot)
estou entre os afortunados que viram a aurora
nas ilhas mais belas à face da terra
à recordação sorrio e digo que quando o sol se levantava
era já velho o dia para nós (C Pavese)
mais ninguém me levará para sul (S Quasimodo)”
(os últimos e parágrafos são fragmentos (adaptados aqui e ali) de 3 poemas, no conjunto dos quais se centrava o enigma de “Os mares do sul – um folhetim para o Verão”, história policial romântica - na sua linha mais típica - que Manuel Vásquez Montalbán publicou ao longo de vários números do Expresso, em 1986).
Etiquetas: amor, Cesare Pavese, Manuel Vásquez Montálban, Salvatore Quasimodo, Santorini, T S Elliot
3 Comments:
e lá se nos foram as calças outra vez (foi quando apaguei a tua música D). mas agora podemos sossegar que esta coisa repara-se sozinha.
"Sim, eu amava-te!", é frase que fica bem na memória dos mares do sul. Montalbán é uma boa cartilha para os viajantes. Lembro bem essa fita de cassette das últimas letras do alfabeto grego.Cairam as calças? Vou de calções para a Irlanda saber do gaélico. O tempo dirá do erro. Depois conto.
Ah, Santorini... "nas primeiras horas da manhã de Santorini fechava-se os olhos às vezes para se conseguir acreditar. tiravam-se fotografias embora se soubesse que aquelas cores não se conservariam em papel algum." É mesmo assim. Gostei do Blog!
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