terça-feira, maio 23, 2006

Políticos


Trabalho diariamente com políticos. Sei-lhes dos desejos, aspirações, contorcionismos, sei-lhes das solidariedades, manobras eleitorais e da fina arte da punhalada nas costas.
E sei daqueles que fizeram uma vida convictos de servir o bem comum.
Distingo-os normalmente pela capacidade de pensar. E de escrever sobre o que pensam, interpretando-o nas práticas do dia a dia.
Muitos são maus, beras, fazem do fato e da gravata a cartilha e, da cabeça, sabe-se que a têm – como dizia DA – porque lhes pousa constantemente caspa nos ombros.
Dos que pensam há três categorias:

Os que só pensam.
Os que pensam e fazem bem esse pensar.
Os que bem pensam e são incompatíveis com o sistema onde se movem.

Os que só pensam são os Pachecos Pereiras deste país, sem ousar nunca cargos públicos ou risco de investimento privado, tirando a cativante cadeirinha do Parlamento Nacional ou Europeu e os espaços das TV’s que criticam, onde, bem pagos neles todos, debitam soundbytes de opinião.

Os que pensam e fazem bem esse pensar são as Lourdes Pintasilgo, disponíveis, solidárias, permanentemente na busca das tarefas sociais, plurais porque urgentes e, por isso, tornadas públicas nos poucos espaços da justiça.

Os que bem pensam e são incompatíveis com o sistema são os Carrilhos, porque o narcisismo é para eles a primeira regra da prática política.

Depois, na radial destas figuras, há os que fizeram uma vida convictos de servir o bem comum. São muitos. Silenciosos. Não têm nomes. Não têm placas nas ruas. Não têm fotografia destacada nas sedes partidárias. Mas são aqueles que adquiriram uma pose de andar:
- corpo alto, olhar firme, cabeça levantada!
Não souberam nunca do fio da lâmina de um punhal.
Com estes bebo um copo e ouço ainda do seu pensar!

3 Comments:

At 10:14 da tarde, Blogger H em Stª Apolónia said...

O sistema não é incompatível com ele Carrilho...ele, é o sistema.O sistema é o seu modelo de sistema. Acontece com os narcisistas, fazem o mundo, obstinadamente, a partir de si. Dai a colisão, o choque, a inconclusão sempre. Persistentes na teimosia.Este desacerto com o mundo, maior e mais vasto, faz com que não passe, não cative, não seja elegível. Estas pessoas assim incomunicáveis em círculo fechado, teimosas, inteligentes e até mesmo arrogantes até me fascinam...mas não na política!

 
At 10:28 da tarde, Blogger David (em Coimbra B) said...

Concordo inteiramente com "mas não na política". É que o homem foi um grande ministro da Cultura, tenho provas disso, mas fê-lo como gestor, não como político!

 
At 10:43 da manhã, Blogger Mónica (em Campanhã) said...

não me repugna nada que na vida alguns se limitem a pensar (não nos metermos no que não sabemos fazer é sábio). nem todos temos de ser fazedores, embora seja desejável que todos sejamos, pelo menos um pouco, pensadores. claro que estou a falar da vida, e não da política: na política é preciso saber fazer, com tudo muito bem pensado.

eu, que sou mais fazedora que pensadora, gosto destes pensadores natos, que me ajudam a pensar um pouco mais, e a fazer melhor.

 

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