Sombra
Faz hoje anos o nosso amigo Z. Lembro a data e a pessoa.
É aqui o começo de falar de pessoas de sombra. Amigos que foram luz e num elipse , se tornam sombra projectada sobre a memória. Deixaram-se como vestígio, arqueologia de um afecto. Fugiram obstinadamente do nosso existir, e deixaram o deserto para lhes recordar a sombra.
Z foi um homem assim. Fez-se connosco, deixou-se doer connosco muito para além do riso fácil e do humor contagiante, fotografou-nos e desenhou-nos e um dia deixou o mundo ao nosso lado. Deixou-nos simplesmente. Deixou-nos apesar do tudo.
Haverá entendimento para as partidas de quem parte porque decidiu, só, partir?
Talvez não. Talvez nunca. Fracturas. Riscos que rasgam papel. Partir assim é passar da luz para a sombra, passar de fotografia a negativo. É retirar-se da pele dos amigos. É acenar e engolir para fora de nós.
Se foi por uma mulher, pouco importa. Deixou-nos. Fez-se sombra na memória quando ela respira.
1 Comments:
É verdade!!!! As sombras que já foram luz e que passam de fotografia a negativo... Dificilmente se diria melhor!!!
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