as igrejas - e o tempo
estive há dias em Valadares. na terra que foi cenário da minha infância já não encontro quase nada desse tempo: no lugar do velho cinema estão a construir um prédio qualquer, há agências de bancos de cores garridas ao dobrar de cada esquina, uma loja de chineses, claro, e até a velha e sinistra estação da CP (e áreas circundantes) está irreconhecível respirando um ar limpo e são.
só a igreja permaneceu como sempre a conheci, imóvel e bela
(e não consegui arranjar uma fotografia sua, senão postá-la-ia aqui em tamanho gigante, tão fascinada fiquei neste reencontro),
na sua quietude de árvores, no sussurro dos amigos, também antigos, que se encontram para lá dos seus portões, na paz contagiante do cemitério em seu redor
(em pequena, enquanto a minha mãe ia ao cabeleireiro, costumava percorrê-lo a ler os nomes e as datas inscritas nas campas, tentando entender o mistério da morte, o ser e o deixar de ser, a passagem visível de uma espécie de destino por sobre os laços entre as pessoas, a passagem dos anos sobre a saudade, sobre o amor).
uma das funções das igrejas é, de certeza, segurar-nos ao tempo que passa. lembrar-nos quem somos no que se foi antes de nós. mostrar-nos, persistindo, que quase nada persiste com elas.
Etiquetas: minhas histórias, o tempo que passa, Valadares
2 Comments:
Adoro igrejas. É dos locais a que vou sempre que posso em cada novo lugar. Sabes que nada tenho a ver com a instituição, mas o espaço e o silêncio delas é sempre um bom conforto e segura-nos o tempo como muito bem escreveste.
Reconheço essa viagem.
É uma coisa estranha o tempo a passar pelas pedras! Passa de maneira diferente dependente ou independentemente de nós.
Reconheço essa viagem e os nomes dessa viagem.
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