domingo, maio 07, 2006

o instinto maternal


chegou-me ontem, com oito anos de atraso e o filho doutra mulher. ao fazer uma curva de 360º à saída duma via rápida, o carro que seguia à minha frente (um utilitário recente) virou-se de lado com a leveza de uma caixa de fósforos, quedando-se, assim, pousado na estrada sobre o lado do condutor.

correndo a socorrer quem quer que fosse que lá estivesse, quem sabe ferido, ouvi um bebé a chorar. sob as instruções apressadas de alguns homens presentes o vidro da porta traseira do carro, que entalava uma fralda de pano, abriu-se, dele emergindo um bebé rechonchudo e chorão (sem beliscadura aparente) que arrebatei para o meu colo. uma mãe emergiu em seguida daquela janela virada para o céu, desabando a chorar ela própria enquanto tentava sem sucesso sair pelo mesmo caminho.

foi insólito o que o choro daquele bebé assustado despertou em mim: necessidade imperiosa de o aquietar, certeza absoluta de que saberia como o fazer, como se o conhecesse desde sempre. e assim foi: como se no meu colo ele tivesse encontrado a concavidade perfeita onde já houvesse morado vezes sem conta; e de mim saíram as palavras certas e o embalo exacto que o sossegaram, muito agarrado à sua chupeta, e o deixaram a observar atento a mãe que saía a custo pela porta da mala.

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