Confraria do Queijo Rabaçal
Somos um bom rebanho de gente que valoriza o queijo Rabaçal. Queijo cego, porque na pasta semidura apresenta-se com poucos ou nenhuns olhos – ventos.
Sabemos da sua forma, a elegante leveza do peso, a crosta amarelo-palha e todas as componentes organolépticas que o individualizam no educar do paladar.
Eça, na “Cidade e as Serras”, comparou-o ao Camembert.
Neste rebanho onde orgulhosamente me incluo com passada Carta de Confrade, usanças visíveis e traje a rigor, poucos saberão de Eça e muito menos de Camembert e do Jacinto queijeiro.
São os fieis depositários do saber e do sabor de homens e mulheres que viveram anos a fio o prazer desta comenda dinástica - queijo Rabaçal!
E eu, nascido longe do mundo das cabras e das ovelhas, tenho hoje o privilégio e o orgulho de ser parte deste território e deste colectivo escondido nas serras. Porque eles me conferiram esse desígnio, porque eles me aferiram o paladar.
- Pica e prova – diz o Mestre Chanceler.
Gostava de ter em menino
feito o caminho
com o cajado ao vento.
Vinha e, com um sopro, ia!
Os pastores que conheço
têm esse caminho traçado no tempo.
Seguem os pés cegos nas manhãs
pelo caminho da erva:
- arranjos calcários, flores de Santa-Maria
com sabores doces a nozes e avelãs!
Maio guia-os pelo comer das cabras nos campos de lapiás.
Dezembro deixa-lhes pistas, decisivas,
no lento estilhaçar branco dos pés na geada.
Nos outros meses é um sopro frio,
alergia na pele marcada pelo vazio
do rosto que procurado nunca estava.
3 Comments:
e eu a achar que confraria era um modo de falar...
e qual destes chapéus fitados eras tu?
Sou o fotógrafo, mas tenho um chapéu de fita amarela bem bonito!
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