GENERAL 100 MEDO
Faria hoje 100 anos Humberto Delgado. O meu pai lembrou-me ao almoço, lido o artigo do “Público”, a votação de 1958.
Contou que chegou quase ao fim da tarde à Câmara para votar, vindo de noivar a sua futura mulher, minha mãe, hierarquias de prazer felizmente hereditárias. Não disse em quem votou, mas li-lhe nos olhos em quem, quando se riu para mim ainda com aquele receio antigo.
Contou que andava um tipo pago pelo regime a entreter os votantes, distribuindo cigarros sem filtro «fumem, fumem», dizia por todo o Salão Nobre. Ao encerrar da votação, um fatinho do regime de chapéu alto descarregou nas urnas chapeladas de votos do almirante, ganhando ali, como em muitos lados, fraudulentamente a velha nomenklatura.
Mais tarde, o amigo “Kremlin” contou-me nas viagens nocturnas de Inverno pelas matas da Gândara no velho MG todo o filme: o nome do chapéu alto, o método da chapelada e o escrutínio feito pelo distribuidor de cigarros com a conivência do sobrepeliz do Pe. Miguel.
Feita a contagem ganhou o almirante Américo Tomaz – o “nequito” corta fitas!
Fica a satisfação que o General fez a sua campanha ao longo da Linha do Norte. Recepções apoteóticas em Campanhã, Coimbra B e Sta. Apolónia.
Assassinado em Villanueva del Fresno, quis a história que, à ignorância do regime, morresse ainda em Portugal por Portugal – Olivença!
Por mim, esta linha estará disponível sempre que um General dessa estirpe precise deste espaço público, passe o meu arrepio por fardas.
Quando vejo tantas vezes maltratada a democracia e, nas novas gerações, tantas vezes ignorada por bem facilmente adquirido, sinto a necessidade de chegar ao micro das nossas estações e falar bem alto no altifalante:
- Vai entrar em Coimbra B um General democrata procedente de Campanhã com destino a Sta. Apolónia.
Em Coimbra B, obviamente, recebo-o!
1 Comments:
MUITO BEM!
;)
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