sexta-feira, junho 30, 2006

leitura em voz alta


parece que o badalado Plano Nacional de Leitura prevê um forte ataque nas escolas que inclui a instituição da prática da leitura em voz alta, não só no pré-escolar mas também nos anos seguintes em que as crianças já saberem ler para si.

desde que Jim Morrison me ensinou "An American Prayer" que conheço a força poderosa das palavras ditas. e, depois de Carlos Tê ("Guardador de Margens"), das cantadas também. ainda há tempos, ao ouvir na TV (entre um telejornal e um concurso) Diogo Infante a dizer "Noutros Lugares", a paixão por um autor que desconhecia foi imediata: nunca mais parei de ler Jorge Sena.

e que dizer de H Ribeiro, quieto e camuflado pela vegetação da serra, a dizer, sem música alguma "eu fui ver a minha amada / lá nos campos eu fui ver / dei-lhe uma rosa encarnada / para de mim se prender"? H Ribeiro dizia poesia como se falasse de mim, para mim, para cada um dos que o ouviam ("como é que ele saberia que…?"). as palavras dos outros estendidas até mim pela sua voz transformavam-se nas minhas próprias palavras.

não sei o que aconteceu primeiro: se, como escreveu Yourcenar, a palavra escrita me ensinou a ouvir a voz humana, ou se foi a voz humana que me ensinou a amar palavra escrita. só sei que acredito no poder da leitura em voz alta como acredito na luz do sol, no amor e nos sonhos.

há dias, num Jornal de Letras, António Torrado, escritor da infância, defendia a prática da leitura em voz alta nas salas de aula, bem como a inclusão nos programas escolares da leitura integral de obras infantis, em oposição à constante fragmentação a que actualmente estas obras são sujeitas nos manuais.

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uma chávena de chá


Há a casa, a sombra do limoeiro e o pátio interior.
Cala-te um poucochinho para te poder ouvir.
Bebe esse chá. É preto, como gostavas. Aprendi.
Nunca mais comprei o Ahmad Tea, Lemon & Lime. Vês?
Estás agora tão segura do que disseste?

Volta amanhã pelo fim de tarde.
Há outra vez a casa, a sombra do limoeiro e o pátio interior.

O chá é das únicas bebidas que se podem sempre aquecer
como as conversas
para se poderem ouvir
para nos podermos outra vez aquecer, sentir.

Bebe esse chá. É preto. Vês?

Que fazes com as folhas do limoeiro?
Vais secá-las para o chá de amanhã
porque queres voltar a calar-te um poucochinho
e aquecer-te outra vez?

terça-feira, junho 27, 2006

oitavos de língua


Comida a laranja, o balanço dos oitavos do mundial. A afirmação das nações. A pátria é a língua. Sem critérios da FIFA fala-se agora português, ucraniano, francês, castelhano, alemão, italiano e inglês. Português duas vezes ainda que um com açúcar.
Dos que para casa foram, a Espanha custou-me um pouco pelo jogo e pela França que no futebol não gosto. Mas tem sido sempre assim. A arrogante capa de hoje do jornal a MARCA levou tiro certeiro do “velho” Zizu. Quatro letras como Figo ou Ámen, pequenos deuses e fim de oração. Citação.
Todas as nações do estado Espanha choram agora (ouve-se daqui!): a basca, a galega, a catalã, a castelhana. Não há referendo. Abrirão esta noite, distraidamente, as barragens dos rios para as lágrimas chegarem a mar de Portugal.
Sábado há Ultimatum ou Tratado de Windsor? Cederemos ou enfrentaremos as pretensões alemãs?
- Uma coisa eu sei. Se ganharmos, apresentaremos de novo um outro Tratado de Tordesilhas. Assinaremos com o Manolo o achamento do Brasil a ritmo do nosso bombo de Lavacolhos. O de Espanha já está recolhido no descanso. “A casa, se acabó el sueño”! – diz agora a MARCA.
A eles – aos ingleses! – digo eu, mapa-cor-de-rosa-das-meias-finais.

verão


O verão é um fruto
que deixou de ser flor
porque teimou no inverno ser adulto.

segunda-feira, junho 26, 2006

assim nos somamos e perdemos




Portugal refresca-se a sumo de laranja. Uns metem vodka nisso, outros, gelo apenas. Todos gritam, todos suspendem o dia de amanhã agitando bandeiras. É incontornável este prazer.
Passei, alegremente, confesso, por casa de JN a beber um champanhezito de fugida para Coimbra B a festejar.
Mas M troca-nos as voltas. Vem da aldeia das flores. Não diz quem esteve… diz que esteve. E provoca desejo. Não podia estar. Sabia que não podia. M viu a casa grande, todos os lagos, passou em todos os sítios onde fomos felizes, arriscou um café na máquina antiga, fala a propósito do caudal do Napoleão, tentou os passos de dança no coreto, deixou uma sombra na porta da escadaria grande, armadilha ao sol do próximo Maio para voltarmos. Entrarmos.

Depois, longe desse prazer que somos, mas cirurgicamente perto do coração, morreu-me hoje, rente à manhã, mais um amigo. JMA. A coragem que demonstrou fica para nos dar coragem. E a aldeia das flores é feita disso. É feita deles. Para ele que partiu e para M que nos organiza – em cada novo tempo somos menos! - que seja o pleno desejo de continuarmos juntos. Assim nos somamos. Assim vertiginosamente nos perdemos!

Para JMA

Matéria Solar, 39

Nesses lugares,
nesses lugares onde o ar
perde a mão,
os meus amigos começam a morrer.

Falar tornou-se insuportável.
Falar dessa luz queimada.
Deserta.

Que fazer desta boca,
do olhar,
tão perto outrora de ser música?

Andrade, Eugénio, Poesia

domingo, junho 25, 2006

ponte das três entradas

















ponte que dizem única em Portugal: sobre a foz do rio Alvôco no rio Alva, espécie de Y sobre outro Y, este invertido, unindo as três porções de terra que marginam cada braço dos dois rios.















(este blog quase que se chamou assim)

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eterno retorno












regresso mais uma vez da Quinta da Geia, o irrepreensível hotel rural que Fir Tibeout e Frenkel de Greeuw cultivaram na Aldeia das Dez.

de conforto e estética supremos, em harmonia absoluta com a povoação original (também chamada "Aldeia das Flores"), tem uma piscina divinal - de água quente - sobre o vale e um restaurante que acrescenta à memória a marca indelével do paladar.

voltarei sempre a este lugar de felicidade.

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sexta-feira, junho 23, 2006

são dias que passam


Começa no solstício, logo a seguir ao dia dos relógios de sol, a velha azáfama das mochilas. H e M dormem o antigo sono solto das mães, preocupadas que estão com a mochila dos pinóquios. Não sei o tema do Verão. Sei pela linha que uma lanterna ainda é fundamental, luzeiro entre luares. E um sabonete dois em um – há os líquidos! – são preocupação de arrepiar a pele de mães-galinha.
Relógios de sol foi no Caima, porta por onde entrei e em Almaça, janela por onde espreito essa sensação ímpar de ser Mocamfe. De sermos, apenas.
- Sempre vai a Sofia da Marta?
As mesmas preocupações e desejos de sempre. Haverá comboios, caminhadas, homens-palhaço, estrelas, muitas e tantas estrelas, mesmo quando não as vemos juntas à primeira – dizia HR de lanterna na mão e ensinava com a mesma paixão do Messiah de Händel tocando ao fundo perto da cruz.
Encher a mochila de futuros. Mochilas “Montecampo”.
Quantas vezes mais escreverei sobre o movimento agora que lá não escrevo?
Tenho uma velha vantagem nesta linha. Estou onde tudo começa e acaba. Onde o mundo treme. Onde a derradeira lágrima ganha corpo. Onde o último abraço rima com cansaço. Onde os comboios se atrasam um pouco, cegos ao relógio grande, porque alegremente coniventes com quem fica e com quem parte
Coimbra B.
E quando alguém dizia e desafiava:
Vamos lá fazer um assalto?
E íamos! Não vamos.
Que saudades e que inveja.
São dias que passam…

quarta-feira, junho 21, 2006

solstício


é oficialmente Verão e o solstício celebra-se condignamente em Foz Côa. quem me dera poder lá estar, venerar assim a natureza no seu cíclico esplendor, cumprir um ritual como que de submissão: assim seja, para sempre.

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terça-feira, junho 20, 2006

indigNAÇÃO ?


Cheguei a casa, após jornada de trabalho, com esta frase pronta a disparar de mim: “e o direito à indignação?”.

Deve ter nascido vadia nalguma fissura do pensamento que trouxe da estrada, do vaguear impreciso sobre a constatação amarga do ambiente laboral, do desencanto que cansa. Começa cansado em mim e desespera cansado ouvido, inúmera e repetidas vezes, nos outros. Situa-se por aí a origem da frase, certamente.

E o direito à indignação?

Tive a minha primeira dúvida, ou seja, o primeiro amortecimento : indigno-me primeiro comigo ou primeiro com o mundo? dava-me mais jeito que pudesse ser com o mundo, mas temo que o mundo comece a indignar-se a partir de mim....

Passou. Sentei-me aqui com vontade de escrever sobre o direito à indignação, sem saber o quê exactamente. Tive a segunda dúvida, que se imiscui com a primeira: será indigNAÇÃO ?

Atlântico


Podia ter sido o dono que nos
viu na residencial.
Mas não. Foi o mar que escolheste para depor.

Preso por ti estarei para sempre.

Agora trazeres todo o Atlântico a tribunal
para dizeres que sou eu, não ele,
(libertem-no, por favor!)

porque o meu corpo
preso
ainda te sabe a sal?

domingo, junho 18, 2006

Madrid me teve


Esqueci de dizer, tal a pressa de partir. Estive em Madrid estes dias todos.

Tinha pressa de sossegar e assim nos fizemos todos estrada dentro, num convite súbito e acolhedor. Levei as crianças. Suamos calor e água bebida, passeamos no Retiro, procuramos a sombra,vimos “Picasso Tradição e Vanguarda” no Centro de Arte Rainha Sofia na imperdível dupla exposição ( também no Museo do Prado) de comemoração do 25º ano da chegada de Guernica a Espanha e simultaneamente o 125º aniversário do nascimento do pintor. Até 3 de Setembro, meus amigos. As crianças cansam-se depressa, mas olham e gostam e falam e depois chegam a casa e fazem, em folhas brancas, “cavalos como o Picasso “.

Madrid fervilha, a cidade habita-se, põem-se na rua, procura o fresco das tardes e dos parques. Madrid vive-se como não vivem as nossas grandes cidades. Os velhos saem à rua, os idosos em cadeiras de rodas saem das casas a arfar calor e ficam nas praças, nas esquinas, nos largos nos infinitos lugares onde a cidade acolhe os que a vivem.

Na siesta comecei e acabei um livro com fascínio, “ Á procura de Sana “de Richard Zimler.

Fiquei estarrecida com o novo Museo Thyssen- Bornemisza. Ficou como um desejo de repetição, com mais vagar, com a solidão do tempo e do olhar.

Foram uns dias que pareceram muitos, muitos.Esticou-se o referencial do tempo e do sossego. Prestes a chegar, com a certeza de que dias assim somam infinitos à alma.

sábado, junho 17, 2006

esplendor na relva?

para mim, esplendor na relva é isto:

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celebrar a vida

na linha do norte celebrar também a vida: a do João, filho da Ana e do Luís, que pôs o pé no mundo na semana passada, ocupando o seu lugar na travessa fratria de varões da família B. celebrar a promessa de futuro que é nascer e a alegria (caótica e invejável) que reina nas famílias grandes.

celebrar ainda - e invejar do mais fundo do meu ventre - os bebés ainda submersos no futuro da Raquel, da Paula e do Rui.

brindai comigo.

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quarta-feira, junho 14, 2006

Discos pe®didos




As mulheres da linha têm este gosto de me inquietar. Está o homem a acamar trabalho para descanso curto e lá vem o desafio, porque na ida rápida à estação nele tropecei… e não resisti.
Instante na estante. Tenho, ponho, componho.
Sisters of Mercy.

“This was written in a few hours one winter night in a hotel room in Edmonton, Alberta. Barbara and Lorraine were sleeping on the couch. The room was filled with moonlight reflected off the ice of the North Saskatchewan River. I had it ready for them when they woke up.”
Cohen, Leonard


“Oh, the Sisters of Mercy
They are not departed or gone
They were waiting for me
When I thought that I just can't go on…”

saudades tuas

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um ano sem eugénio de andrade



Como lidarão agora as palavras entre si
sem o mister no seu arrumo da perfeição?

Encontrei-as hoje pelos livros
sedentas
à procura da água que não têm.

E com outras falei,
- aquelas que viviam com ele
mercadoras de cada novo verão
ansiosas à chegada da estação.

Esta noite
o meu dever
é deixá-las, deitá-las.

Há palavras de luto no coração.

segunda-feira, junho 12, 2006

Memória


Quando menos esperas, lembras. O seu rosto ou o que te resta dele. Depois aguças a memória e vais com ele ao lugar onde nasceu esse prazer de o lembrar, que cultivas agora a cada respirar.

Quando menos esperas, esqueces. O seu rosto ou o que te resta dele. Decidiste mudar. Decidiste deixar de o viver.

Vais respirar
ou vais
querer-te propositadamente perder?

Paulo Vallada


Paulo Vallada deixou-nos. Gabbiano diz que a morte é boleia da linha, sina da idade, acto de crescer. M põe profissional e fabulosamente a morte a piscar-lhe o olho, abre a asa grande de mãe adulta, protegendo homem e filhos na mesma concha com o rigor de pássaro grande, asando voltas no ninho.
Conheci Paulo Vallada num fogacho de tempo. Pedrógão Grande, 1989. Disse-me da SEDES, da navegabilidade do Douro, da dificuldade intuitiva de ser Presidente do Município do Porto, sabendo que o papel exigia mais que isso – um vento do Norte todas as manhãs o acordava soprando as asas que não tinha – hoje sei que tinha. Nunca mais o vi, ouvi!
Na minha apresentação do projecto para o Sicó, Paulo Vallada, convidado para comentar, nada disse. Em público. Depois, no almoço, chamou-me de parte e disse num tom de voz que jamais esquecerei… limpo, incisivo, cúmplice:
- D, a ideia é megalómana, o teu tom de voz que nos deixaste é que é decisivo. Vai por ti, acredita, o projecto muda, ao tom de voz deves obedecer.
Hoje fui confrontado com o seu desaparecimento. Guardei o tom de voz dele. Tento em trabalho falar nesse registo, «Paulo Vallada de almoço». Obedecer ao registo sem falhas, passe a ainda insistente megalomania do projecto.

sábado, junho 10, 2006

o meu trabalho


o meu trabalho é às vezes usar o cérebro, o melhor raciocínio, a lógica, a dedução, como o jogo aprendido na faculdade (quando ainda era a brincar), o jogo em que me viciei nos primeiros anos de hospital: juntar queixas e sinais até obter uma série de hipóteses testadas metodicamente até chegar à meta: o diagnóstico.

outras vezes (que são muitas vezes quando se sai dos hospitais para os centros de saúde), o meu trabalho é desistir da lógica, usar menos o cérebro e mais o coração, e deduzir deduzir deduzir, decifrar as pistas que me conduzem ao sofrimento invisível que trouxe as pessoas até mim.

tenho dias em que acredito que a minha função é ser digna desse sofrimento, ser digna das pessoas que me procuram e da dor que me revelam, e, nesses dias, sem sinais nem diagnósticos, sei que o meu trabalho é ser, eu própria, o tratamento.

mas, raramente, o meu trabalho é outra coisa, terrível, insuportável: é quando me aparece um homem novo e bonito que traz a morte encostada a ele – e ele ainda não sabe -, a morte a respirar com ele, a falar por ele, decidida e implacável. e enquanto esse homem não me faz perguntas eu só consigo ficar a olhá-lo para lá dessa hora, a vê-lo no dia em que ele souber quão breve vai deixar a vida, a mulher, os filhos pequenos, o seu corpo. quando é assim, não há raciocínio, não há jogo, a respiração suspende-se, o coração enraivece-se

e, por momentos, trabalhar é ter medo, é esquecer esse homem e as outras pessoas que me procuram, e julgar ver, por cima do seu ombro, a morte a piscar-me o olho – a mim, ao meu homem, aos meus filhos -, como quem diz, já volto.

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sexta-feira, junho 09, 2006

Alemanha 2006


Do sagrado foi andar a ler o Senhor Borges, Camus, Agualusa. O Senhor Borges, Jorge Luís, não era do futebol. Recebeu um dia em casa César Luís Menotti, treinador da grande Argentina de 78, meu primeiro campeonato do mundo à séria e com ele manteve uma conversa do piorio sobre o mundo da bola. «O diálogo persistiu como uma reunião de surdos». Ninguém ganhou! Do Camus, Albert, ensinou-me o velhote HR no seu «Do Absurdo à Solidariedade», que o homem tinha sido guarda-redes e foi nos campos de futebol que aprendeu o pouco da moral que sabia. Ser guarda-redes é o melhor lugar para perceber o mito de Sísifo até à exaustão. O Agualusa, José Eduardo, encontrado hoje numa entrevista n’A Bola, diz que Portugal é uma selecção da lusofonia, serpenteando África e Brasil com o sangue da história.

Do profano encontro na mesma edição d’A Bola um grande senhor do futebol mundial. Valdano, Jorge. Só lhe faltou ser bola e árbitro - disse - e disse ainda que o futebol exagera a vida e o Mundial exagera o futebol, razão suficiente para que, durante um mês, seja domingo todos os dias.
Conheceu o futebol através da rádio, razão suficiente para acreditar que a palavra completa o futebol.

A palavra no sagrado. A vivência no profano. Eu fui dos que joguei e ouço ainda a palavra da rádio. Até dia 9 de Julho, o D profano, lerá no calendário «domingo todos os dias».



Ausência, é apanhar o comboio errado e levar muito tempo a regressar. O comboio errado levou ao fim do mundo, deixou em apeadeiro desconhecido. Terra onde não se fala a mesma língua, não se sabe que destino, terra do esquecimento ou tão só da mudez. Se apanharmos o mesmo comboio que chegou, no outro lado da linha, voltamos. Demora, mas voltamos.

Regressada, vou de bicicleta junto á linha do norte

terça-feira, junho 06, 2006

Barcelos 666


6 x 111 = 666 (o apocalipse revelado).
Primeiro em Barcelos fecharam o hospital. (1)
Depois o mundo do futebol manda o Gil Vicente para a IIª liga (1).
Finalmente chega a Barcelos o Apocalipse pelas chamas dos incêndios do Inferno (1).
Diria que é preciso ter GALO.

peditório: músicas de Verão



vinha eu só mudar a música no tasco quando me lembrei de fazer um peditório aos nossos passageiros (e chefes de estação, claro): quais são as vossas músicas de Verão? músicas escaldantes que vos aqueceram dias apenas mornos ou músicas frescas tornadas tórridas pelo calor da estação em que soaram.



esta é uma das minhas (Psychadelic Furs, anos 80) - depois de tentar, sem sucesso, postar Simple Minds, e de há dias ter trazido, da mesma época e temperatura (Bronski Beat). quais são as vossas?

(adenda em 2017
ei-los: Simple Minds 'Someone somewhere in summertime')


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segunda-feira, junho 05, 2006

Frank Ronan



Da Irlanda poderia escolher dezenas de bons autores de escrita fina para vos oferecer. Mas foi em conversa de copo aberto com Heli Rintahaka, filandesa de fiorde, que retomei, já quase esquecido, o autor irlandês Frank Ronan.
Dizia-me, na nossa mesma idade, que descobriu o pulsar da Irlanda por ele. Lembrei-me que cá em casa ele tinha já poiso certo. Um livro fascinante: «Os homens que amaram Evelyn Cotton».
Mais um gin na esplanada para o Atlântico, conseguimos falar da literatura dos nossos mundos, unindo pelo inglês frágil Portugal e Finlândia, fronteiras desta Europa que também nos une por mar e que nos proporcionou conhecermo-nos.
Frank Ronan é um excelente desafio para ler. Heli recomendou:
- lê «O melhor Anjo» - manda mail sobre ele.
Chegado a Coimbra B fui à estante. Tinha. Já não me lembrava. Lido em 1993 sem esta carga de mulher que por ele fascina.
Estou agora a relê-lo. Quando acabar, Heli vai ter o mail desejado e o cumprimento da promessa que firmámos de nos encontrarmos para sobre ele voltarmos ao copo de gin noutra paisagem atlântica.

sábado, junho 03, 2006

Kinsale - um coridinio e outra lição


Fui a Kinsale (Irlanda) numa rapidinha, corridinho, preparar trabalho futuro com a associação West Cork, região do sul, «capital do gourmet».
Cooperação era a motivação,
parceria é o desejo.
Uma terra de mesa farta, paisagem fiel à natureza, amiga ao primeiro sorriso, culta como escreve, conta, canta, vive. Um povo com raízes bem presas na insularidade, orgulhoso do seu passado, feliz na criatividade com que fotografa o próximo futuro.
Trouxe comigo uma inveja intensa: não poder também ser parte desse nobre poder de partilha e desafio, embora entre um bom gin, um wiskey de referência, uma guiness tirada com tempo… me desafiarem noite alta, “last drink” ao ouvido:
- Listen the waves of this song! “Coridinio”. A traditional portuguese dance tune. We play this for you. Make your dreams a way of life.

É que para eles isso é simples: projectos grandes, cadernos de encargos, planos financeiros, “cluster”, novas economias, nada disso.
Têm como lema apoiar «quem quiser vir para West Cork fazer o que um dia sonharam na vida». Apoiam fundamentalmente isso. O desafio da garantia de que os sonhos se podem tornar realidade.

Abertos para o Atlântico esperam agora gente dessa, no mesmo sonho com que um dia partiram para a América, the Irish Dream.

O gaélico está presente a cada sinalética. O seu inglês tem um rigoroso acento de ilha. A diáspora é um bem precioso. Homens livres, suponho.
Voltarei! Num coridinio.

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