segunda-feira, junho 12, 2006

Paulo Vallada


Paulo Vallada deixou-nos. Gabbiano diz que a morte é boleia da linha, sina da idade, acto de crescer. M põe profissional e fabulosamente a morte a piscar-lhe o olho, abre a asa grande de mãe adulta, protegendo homem e filhos na mesma concha com o rigor de pássaro grande, asando voltas no ninho.
Conheci Paulo Vallada num fogacho de tempo. Pedrógão Grande, 1989. Disse-me da SEDES, da navegabilidade do Douro, da dificuldade intuitiva de ser Presidente do Município do Porto, sabendo que o papel exigia mais que isso – um vento do Norte todas as manhãs o acordava soprando as asas que não tinha – hoje sei que tinha. Nunca mais o vi, ouvi!
Na minha apresentação do projecto para o Sicó, Paulo Vallada, convidado para comentar, nada disse. Em público. Depois, no almoço, chamou-me de parte e disse num tom de voz que jamais esquecerei… limpo, incisivo, cúmplice:
- D, a ideia é megalómana, o teu tom de voz que nos deixaste é que é decisivo. Vai por ti, acredita, o projecto muda, ao tom de voz deves obedecer.
Hoje fui confrontado com o seu desaparecimento. Guardei o tom de voz dele. Tento em trabalho falar nesse registo, «Paulo Vallada de almoço». Obedecer ao registo sem falhas, passe a ainda insistente megalomania do projecto.

1 Comments:

At 7:52 da tarde, Blogger Mónica (em Campanhã) said...

é do tempo a passar, claro, viver é ir tomando conhecimento destas coisas.

 

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