segunda-feira, junho 26, 2006

assim nos somamos e perdemos




Portugal refresca-se a sumo de laranja. Uns metem vodka nisso, outros, gelo apenas. Todos gritam, todos suspendem o dia de amanhã agitando bandeiras. É incontornável este prazer.
Passei, alegremente, confesso, por casa de JN a beber um champanhezito de fugida para Coimbra B a festejar.
Mas M troca-nos as voltas. Vem da aldeia das flores. Não diz quem esteve… diz que esteve. E provoca desejo. Não podia estar. Sabia que não podia. M viu a casa grande, todos os lagos, passou em todos os sítios onde fomos felizes, arriscou um café na máquina antiga, fala a propósito do caudal do Napoleão, tentou os passos de dança no coreto, deixou uma sombra na porta da escadaria grande, armadilha ao sol do próximo Maio para voltarmos. Entrarmos.

Depois, longe desse prazer que somos, mas cirurgicamente perto do coração, morreu-me hoje, rente à manhã, mais um amigo. JMA. A coragem que demonstrou fica para nos dar coragem. E a aldeia das flores é feita disso. É feita deles. Para ele que partiu e para M que nos organiza – em cada novo tempo somos menos! - que seja o pleno desejo de continuarmos juntos. Assim nos somamos. Assim vertiginosamente nos perdemos!

Para JMA

Matéria Solar, 39

Nesses lugares,
nesses lugares onde o ar
perde a mão,
os meus amigos começam a morrer.

Falar tornou-se insuportável.
Falar dessa luz queimada.
Deserta.

Que fazer desta boca,
do olhar,
tão perto outrora de ser música?

Andrade, Eugénio, Poesia

1 Comments:

At 11:23 da tarde, Blogger Mónica (em Campanhã) said...

death makes angels of us all
and gives us wings where we had shoulders
(smooth as raven cloth)

 

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