sexta-feira, outubro 30, 2009

Gripe, há?


Nunca tive especial afecto por pontas de seringas. Um camionista de longo curso meu amigo poderia ter sido o eleito para transportar as célebres vacinas da Bélgica para aqui. Estampou-se, tinha camião de frio, frio ficou ele de susto.
Não tendo sido ele o eleito para lidar com a bicharada, escolheram os eleitos (ditoso povo da reserva da Nação!) para dar saída à reserva nacional da vacinação.
Quem tem cú tem tido medo! Todos fogem com o cú à seringa do SNS da democracia eleita a voto do povo.
Povo sou eu e a ele pertenço como disse um fado. Povo sou eu, lavo as mãos, empurro as portas públicas com os cotovelos, tusso para os pés e deixei teimosamente de coçar o nariz.
Enquanto não vir a seringa em horário nobre a entrar na nádega do Cavaco, do Sócrates e da Ana Jorge vou aguentando por aqui, mantendo o cú nas calças, entre as pernas.
Na doença, como ouvi hoje dizer, parece que temos pela primeira vez solução a mais. Ninguém quer dar o cú ao caso, ao acaso.
Mas a aplicada ao director-geral da Saúde, Francisco George fez todo o sentido. Com aquele aspecto, todo ele é uma pandemia!
- E ó Mónica, ó Cabrita, tussam-me uma garantia, a gripe, há?

quarta-feira, outubro 28, 2009

Coimbra-B


se ainda me bate forte o coração quando passo por Coimbra-B? mas claro, com tanta, tanta, força que me invade a agonia desesperada do fim das coisas todas que lá conheci. o fim que começava com a voz do chefe de estação "vai dar entrada na linha número dois o comboio inter-regional com destino a Porto-Campanhã" e avançava depois com o assomar da automotora - trágica e inexorável - na curva ao fundo da linha, numa marcha lentíssima que sabíamos ia acabar com tudo o que tínhamos quando nos descobríssemos dentro do comboio sós, desasados e sem nos conseguirmos lembrar como é que se vivia, como é que se respirava.

Coimbra-B está renovada, modernaça, limpa e colorida e, no entanto, não passo por lá sem que me surjam através da janela memórias a preto e branco das nossas mochilas no chão, sem ouvir violas e vozes ameaçando que todos os dias "são dias que passam" e sem sentir os olhos exaustos de tanto chorar.

deixamos lá, dissolvidos na argamassa e na atmosfera da tua estação, demasiada terra, demasiado sal, um cancioneiro inteiro, saudades gigantescas uns dos outros, todo o nosso medo de viver. não duvides disso David, nunca mais.

Etiquetas: ,

domingo, outubro 25, 2009

em directo da linha do norte

fiz-me à linha do norte, outra vez. entrei ontem em Campanhã e há vinte minutos voltei a embarcar em Stª Apolónia (pelas mãos da Helena, claro). prometo que para a próxima, em vez do enjoativo alfa pendular (que me deixa completamente nauseada e KO), apanho um sólido intercidades e escrevo aqui do comboio um post inteirinho, sobre esta viagem mítica.

sábado, outubro 24, 2009

uma história, certamente

A casa dorme um sono infantil ao fundo do corredor. O mundo está calado num amanhecer claro e fresco. Eu sento-me na quietude fronteira à caneca de café e ao cigarro nos dedos. Os livros das estantes humedeceram as palavras. Estou num só ângulo de acordar.

Não tarda e um comboio chega a acabar no sul, trazendo o nevoeiro que o granito do norte guardou para nós. Outra dimensão terá o dia.

Mas é a quietude que sinto e é essa que compõem estas palavras desalinhadas. Se durasse um pouco mais de tempo o sono da casa e do mundo, o que farias?

Uma história.

Uma história para caber nela esta mesma história de amor, este mesmo respirar, esta mesma incompleta forma de vida, este mesmo tudo que, às vezes, a falta de quietude não deixa percepcionar.

Uma história igualzinha à vida.

segunda-feira, outubro 19, 2009

Para a Mónica

Agora sim,
somada a tua idade pedra a pedra,
e ligadas entre si pela tua insistente disponibilidade,
começa-me a ser visível nesta vivência de anos
a construção de um bonito castelo.

Pedra e água. Com estas idades, que mais faremos?

sábado, outubro 17, 2009

M 17

Parabéns, Mónica.


Fazer anos é apenas ter a hipótese de inventar uma idade.

domingo, outubro 11, 2009

Lisboa diz...

(Alfama)

Alfama


Tínhamos esta história por contar e ontem, o JV da Lisbon Walker, fez a história num passeio por Lisboa.


A luz de Lisboa fez ao dia. Aquela luz dourada que só Lisboa sabe e que se esquina entre becos, se arredonda nas fachadas pombalinas e se derrama junto ao rio. O dia, ontem, alindou-se para o nosso passeio.


Gosto tanto de saber as histórias escondidas, gosto de como elas nos referenciam simples fascínios e os tornam imensos. Por isso gosto que me contem histórias. Ontem foi de um pedaço de Lisboa rente ao rio. Foi Alfama. Foi a luz e as coisas que não sabemos que deixaram imensa a vontade de conhecer mais, de saber mais, de olhar de outra maneira.

Quantas vezes podemos recriar a cidade que conhecemos? … Infinitas.



segunda-feira, outubro 05, 2009

a Freita

(viveiros do Merujal, o nosso Caima 81)


(encosta virada a Arouca)

(castanheiros, num souto rodeado de cedros e pinheiros)

(Sra. da Lage, o nosso Caima 80)

Etiquetas: , ,

caminhada





pois nós, para o dia da República, planeamos uma caminhada com os amigos. e, não sei por que prodígios, o tempo no norte da Serra da Freita, esteve melhor que a sul. foram 9 Km, metade dos quais em terreno difícil (ora acidentado, ora muito íngreme), com pequenos dos 5 aos 11 anos à mistura e uma paisagem soberba, entre penedos salpicados de verde recortados no horizonte e uma zona de bosque frondoso já denunciando o Outono. voltaremos, sempre.

Etiquetas: ,

Pic-nic com nevoeiro






Como não acontecera no verão, à muito estava marcado o pic-nic para o dia 5 de Outubro. As duas famílias e os cães, pela fresca da serra com o café pensado para o mar da Adraga.

Hoje teimou o mundo em se fazer de escondido e nós teimosos para além do nevoeiro, prometidos e com vontade de cumprir metemos tudo no carro, os sacos, as mantas e o cão. Subimos a serra sem visibilidade nenhuma, instalamo-nos na mesa de madeira húmida, abrimos o vinho, temperamos com sal e sentamo-nos todos na mais bela e inóspita paisagem do mundo: nevoeiro entre as árvores frondosas, o musgo das pedras e a água em gotas quando o vento agitava as árvores. De uma beleza imensa e húmida. Os cães e as crianças deliraram com a irrealidade do pic-nic e nós teimamos ainda em beber o vinho tinto mesmo depois de a chuva começar. Mas terminamos o almoço, respiramos nevoeiro, embelezamos a vista nas clareiras de luz, acreditamos que o fantástico ás vezes acontece muito perto de nós, depois da curva do mar.

Viemos porque choveu mesmo, mesmo no mundo. Mas fizemos o nosso pic-nic com nevoeiro.

Barclay James Harvest - Coincidências

De visita ao Ramalheiro, à casa de ZN, ouvia no ipod «Jonathan» dos Barclay James Harvest. Banda das nossas guerras do secundário e ia convicto que lhe ganharia mais uma aposta (fazemo-las amiúde) a troco de um Porto, se não adivinhasse o que é que eu vinha a ouvir. Cheguei à casa, não estava, estava a caminho. Quando chegou nem me deixou falar.
«Entra aqui no carro depressa», disse.
Das coincidências, tinha em alto som os Barclay James Harvest. E, sem que tivesse tempo de responder, sacou da carteira bilhetes para o concerto de sexta-feira na Aula Magna.
Mostrei a faixa do ipod, como quem quer contrariar o inevitável. Tinha perdido a aposta sem sequer a formular.
Bebemos um porto farto. Recordámos «Jonathan» recuando vinte e cinco anos de boas memórias. Sexta-feira há mais na Reitoria, ficam as borboletas.

«Give me wings to fly
Tell me why, tell me why
The answer must be heard
And from a lonely bird
He’s giving us a reason to beleave.»


Porque hoje chove

Finalmente, na espuma de promessas políticas entre eleições, o céu cumpriu a ameaça. Chove em Coimbra B. É um prazer abrir uns centímetros da janela, ainda com o tempo quente, também político, a mentir que a chuva já chegou e ouvir esse som único que se espalha húmido no terraço.
Ouço a Amália a cambiar um fado com a Mercedes Sosa.
Se fosse marítimo e tivesse uma nau ancorada no porto, era esta a hora certa de partir.
Queres ir?

Mercedes Sosa


Conheci Mercedes Sosa à muito pouco tempo. Um amigo reencontrado no tempo ofereceu-me um cd construído e nele, a voz dela se destacou. Quente, profunda, arrepiante, a cantar “cambia, tudo cambia”. Assim a soube e assim a tive comigo este verão, feliz pela dádiva e feliz pela posse de um novo fascínio feito na voz de uma mulher argentina. A voz da imensidão quente e triste. Fui querendo saber devagar sobre ela e assim Mercedes se me instalou.

“Cambia, tudo cambia”…

Ontem à noite, depois do nevoeiro intenso, soube da sua morte. Não pude deixar de achar que morrera tão perto da morte da Amália, e que isso não seria um acaso de Outono. Que as duas mulheres com voz de deus, se resolveram encontrar algures.

“Cambia, tudo cambia”, bem sei Mercedes… mas a imensidão ficou, numa voz que se pode repetir sempre mesmo depois da morte.

quinta-feira, outubro 01, 2009

ofício de cuidar


"Tens uns pés mesmo cansados" disse a minha filha I. enquanto me calçava as havaianas que lhe pedi quando ontem à noite cheguei a casa. eu não tinha dito nada, embora sentisse, não os pés, mas todo o meu ser espalmado e batido. não sei se terá sido o tom da minha voz, se mesmo o aspecto dos meus pés, a denunciar esse cansaço. mas fiquei abismada como a I., nos seus 8 anos tão alegres como despreocupados, percebeu tudo e, numa frase, me tirou meia tonelada de cima.

tenho às vezes a impressão que o futuro desta filha passará (ou poderia passar) por uma profissão de cuidar. como a minha. mas com 8 anos eu ainda não cuidava assim.

Etiquetas: ,

Web Pages referring to this page
Link to this page and get a link back!