terça-feira, janeiro 30, 2007

Gelo em Coimbra B


Coimbra B está um severo cubo de gelo
onde por momentos se fixa o bafo vidrado da memória:
havia um consentimento (sei que vagaroso) de
dizer sim, aperta a hora
no tempo que não tínhamos e
não nos foi possível o jantar e o ficar, lembrando
as noites onde tremeríamos no pouco espaço,
(primeiro cá, depois lá!)
e as gargantas falariam álcool manhoso por palavras de sede de seda
e o frio combateria nos sacos-cama
os dedos congelados à viola.

sexta-feira, janeiro 26, 2007

meio por meio

deixei a meio este livro do meio. no princípio foi só maçador e fui lendo, à espera de me envolver. mas, folha após folha, ele armou-se cada vez mais em erudito, tornou-se maledicente, irritante, por fim.

tinha-o comprado há dias, para recuperar de uma quinzena doméstica calamitosa: crianças com piolhos, electrodomésticos a avariar em série e uma inundação (uma espécie de maré-cheia a entrar pela sala à meia-noite). mas afinal foi apenas mais um desastre.

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pelo sim

para que o sim encha as ruas,donativos em euros, precisam-se. contribui no blog da escolha.

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alta velocidade


Hesito. Não sei se denominar “ descarrilamento” ou “ alta velocidade” a tudo isto que me está a acontecer por estes infindos dias de inverno com ameaço de até ao verão.

Optei por alta velocidade sem paragem em qualquer estação desta linha que me atravessa. Porque é com alguma exactidão isso que me está a acontecer: atravessar o tempo em alta velocidade. Sem paragens e em paisagens desfocadas. Entre um ponto e outro que não são coisa nenhuma. Sem origem nem destino. Percurso desenfreado. Se descarrila ou não, não sei. Ainda não.

Tenho deixado a Linha sem final a sul. Estação inexistente. Vamos apenas dizer que está em obras de remodelação, abrirá de novo renovada. Não desistam... Santa Apolónia ainda é um destino.

quinta-feira, janeiro 25, 2007

diálogos técnicos no parque das nações - BTL 2007

É aqui que andamos nestes dias, cada um na sua nação, cada um no seu edifício profissional com a crista levantada a gel, não a gin. H competente (pela voz do seu boneco ventríloquo da administração) promete aproximar, via OTA, os aviões ao meu território Sicó. Na conferência, tirando os milhões, os low-coast que quero para Monte Real, o benchmarking estudado e os “decisivos” cinco minutos de diferença entre a Portela e a Ota para se chegar ao Rossio depois de um mesmo tempo de voo… percebi que pela proximidade poderemos no alto da serra de Sicó ver os aviões voar mais baixinho, para mim um já imaginado produto turístico:
- um jogo com binóculos a identificar companhias aéreas como se vivêssemos em Camarate.

Primeiro andámos aos poucos por ali, um dia, outro dia, profissionais dialogando em português técnico. Nunca nos tinha acontecido que me lembre. Mas ferve-nos sangue antigo. Encostámo-nos em cadeiras de uma cor que M gosta – disse H, sabe a linha! - e sussurrando, ombro com ombro, metemos a nossa conversa nos carris.

Só saí no período de perguntas e respostas, quando a competente H teve de ficar a ouvir o seu ventríloquo da administração, por pergunta inócua de um assalariado do sistema, responder com um pleonasmo técnico, claro, porque boneco repetitivo.
E fui saber do Tejo à travessa do gengibre.

quarta-feira, janeiro 24, 2007

tropismo


Há duas coisas de que não gosto mesmo nada:
deitar-me cedo porque disseram que me tenho de levantar cedo
e o caminho ser Lisboa, quando o corpo apetece ir de assalto à fronteira.

terça-feira, janeiro 23, 2007

portanto

subtraio uma criança ao legítimo detentor da sua guarda, o tempo suficiente para que ela se afeiçoe a mim: adquiro assim direitos sobre ela? retardo tanto quanto posso o cumprimento de uma ordem do tribunal: isso pode constituir prova de amor de um adulto responsável? sou mais respeitável (tenho melhor ar na TV): sou melhor pai? a mãe não me pode ver à frente: não sirvo para pai?

links essenciais para os que se sentem ET em toda esta história:
quanto à Esmeralda, que, como consta no acordão, até no seu nome foi ursupada, oxalá não sonhe tão cedo o mundo em que vive. e que seja retirada o menos ferida possível de debaixo da pilha instável de erros sob a qual foi escondida.

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cantaria de desafio


Trazia numa mão a caixa no bolso.
Agitava-a e dizia: «ouves?»
Eu ouvia-a, cuidadoso.
(Depois parava a outra mão no bolso e num novo movimento repetia)
e agitando dizia: «ouves-me agora?»

Ouvia apenas um assobio.
O som que ela queria que eu ouvisse era de um grilo sereno
(o coração agitando um beijo!)
- esse sopro que nela ainda, por receio, não entendo
por desafio.

segunda-feira, janeiro 22, 2007

Grandes portugueses - Habeas Corpus


Enquanto na TV se disputa entre o coçar da virilha e o aperto do soutien o grande português, trago-vos um apelo para um homem simples.

Nunca gostei de fardas, muito menos as suas instituições mediáticas e as regras sempre impondo novas regras. Aprecio alguns que as vestem, quando por actos me obrigam a reflectir nas suas convicções. É o caso do primeiro-sargento Luís Gomes, “pai” educador de uma menina por incompetência dos pais biológicos. O tribunal (uma juíza!!!, entre outras togas de lotaria) mandou-o para o presídio de Tomar com papel-castigo de 6 anos, porque quis ser um pai feliz de uma criança ao abandono.

Corre no país decente um Habeas Corpus a seu favor e, se nele morares, podes enviar um fax para o 21 383 92 45 «subscrevo a petição de Habeas Corpus do Sargento Luís Gomes», pondo o teu nome completo, data e BI.

O primeiro-sargento Luís Gomes aguarda sereno. Espero que o presídio seja o castelo templário, ali ao Convento de Cristo, para na janela do capítulo, em último capítulo desta aberração jurídica, possa acenar livre à menina e à mulher que o esperam - se calhar para um belo passeio de comboio – um aceno manuelino de um grande português. Com farda!

sábado, janeiro 20, 2007

faz um ano

que aqui viajamos. mas é como se toda a vida tivesse esperado por isto, numa inquietação do princípio dos tempos: horas a espreitar a chegada do carteiro, conversas demoradas ao telefone (passávamos música pelos fios com o bocal encostado às colunas), k7 gravadas com selecções de temas (quanto mais belos e misteriosos, melhor), letras de canções decifradas palavra por palavra, livros, jornais, fanzines, fotografia, rádios-pirata, cafés, a noite profunda, os comboios.

agora, tudo isso, junto, a um clique de distância.

deste mundo virtual só me falta mesmo é o dispositivo que me escreva as palavras que vêm ter comigo debaixo de água.

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O fio que canta (aniversário 1)


Não é o fio que canta do Morris & Goscinny no álbum BD do Lucky Luke. É um prazer maior que isso. Faz hoje, 19, neste Janeiro, um ano, que estendemos com o beneplácito acordo de Fontes Pereira de Mello a Linha do Norte. Uma linha de amigos que nos coseu as almas durante tantos anos, íntima porque decisiva nas nossas vidas e que de há um ano para cá disponibilizamos aos amigos do peito.

Nada nos move mais do que a máquina fraternal que nos une sem nos vermos nesta aventura dos dias, um ventinho de locomotiva que nos sopra nos nossos mundos sorrisos e alegria que baste. E o gozo dos amigos que nos procuram; uns clandestinos que nos chegam noutras formas de saber estar; outros, ousados, que aqui atravessam a linha diariamente em horário certo de gare em gare, comentário preciso, alinhando a linha como um bordado antigo.

Estás aí H?
Estás aí M?
(Estamos!)

Bebamos então um copo farto. Abro o waggon-bar: para H um gin tónico com apoio de palhinha e limão de enfeite a condizer. Para M um bom vinho do Porto num copo do Sisa, adornado com orquídeas do monte. Para os amigos as palavras de sempre, que aqui continuarão despidas de rigores, mas com o mesmo esforço de dizer todos os dias «aqui está o espelho onde te vês!»

Em Coimbra B ouço: «vai dar entrada na linha 1 o comboio procedente do Porto, Campanhã com destino a Lisboa, Sta. Apolónia. Atenção à sua passagem.» Acompanho-o. E bebo o quê? Tinto, à temperatura do coração. Um copo que canta por elas, que me educa o paladar dos seus saberes. Sabores para continuar na linha, porque deste modo nos necessitamos.

sexta-feira, janeiro 19, 2007

Diogos


Tenho vários amigos Diogo. O médico que me destrói sem paninhos quentes as supostas dores e me educa das culturas urbanas; o hoje excelente arquitecto da viola que a brincar não suportava e que agora pagaria para ouvir; o empresário de iluminações e sonorizações de rua com um humor fino e estórias de encantar. E mais recentemente o Diogo Zé – distinguindo-o assim dos outros no telemóvel – que tem por alter-ego o Camilo Pessanha e as suas colecções orientais.
Esteve hoje na TV, na 2, (16:00 horas) em horário impróprio. Gravei e acabei de ouvir/ver uma entrevista apenas interessante para os interessados.
O que ele sabe de Pessanha. Em cantonês e mandarim e no português da coimbrinha dos doutores. Por ele procurem Pessanha. Comecem na Clepsidra, viagem a Macau, visitem a colecção no Machado de Castro quando reabrir, antes da traição da mobilidade da exposição para o museu oriente. Com ele, tenho o privilégio de ter isto tudo em conversa directa, dizer mal (avaliar!) dos que não gostamos como ele gosta (gostamos!) e beber um copo sobre tudo isso.

quinta-feira, janeiro 18, 2007

Naïf Faria

Não faria, porque não sei. Mas o João Faria faz. Quadros naïf, nos intervalos da vida entre embalsamador de todas as espécies com corpo para isso e que não falam e pescador de peixes com um ou outro metro de exagero. É uma figura de Sicó. Fala arrastado. Vive da arte e da boa-vontade alheia, comendo aqui e ali, vestindo-se por acolá (com adornos únicos!), internando as noites sucessivas num lar que não merece.

A sua arte é naïf, está tudo dito. Merecia ter o espaço próprio que não tem. Hoje almoçámos juntos. Já prometido, comprei-lhe um quadro. Segundo ele, é o retrato fiel das invasões francesas no largo do Cardal, Pombal. Está lá tudo. Ingleses do lado dos portugueses contra os franceses e pequenos quadros dentro do quadro. O canhão, a mulher que sangra tombada, toda a heráldica do momento, os abutres por cima, o cão ferrando heroicamente um francês, o alinhamento das baionetas e gente com nomes que só ele conhece.
«Foi há uns milhares de anos» - disse, convicto, eu que o desminta.
É um quadro com história. Espero que um dia as entidades públicas lhe façam a história que merece.

quarta-feira, janeiro 17, 2007

focar o alvo

porque é isto que está em jogo. e não uma revisão ou branqueamento dos mandamentos e pecados mortais.

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Passagem para a Índia


Acho que já postei sobre ele sem certeza. É mais um David Lean. Um filme a rever. Esqueçam o conflito do império britânico com o mundo hindu. Tem imagens fantásticas e interpretações sublimes. E um mundo de comboios com paragem na estação Bombay. Comprei-o baratinho. Para esse mundo preparo viagem na sala para a fazer nas próximas duas horas. Pronto: aguardo mais meia-hora antes de apagar a luz, apenas para quem comigo quiser chegar e viajar, enquanto faço o chá e as torradas. Quantas queres?

segunda-feira, janeiro 15, 2007

ALT CTRL DEL


Não me fecundem que não tenho sítio no corpo para isso. A instituição Igreja, escolástica, bombástica, chama-lhe ABORTO. Os moderados da lei falam de interrupção voluntária de gravidez. Os melindrosos, apenas IVG. Os amigos mandam “power-point” com fotos a condizer, brincando com isso:
9 semanas (uma nuvem aquosa)
13 semanas (um feijão)
25 semanas (um primeiro rosto adormecido)
30 semanas ( o ET do Spielberg)
18 anos ( uma gaja com tudo no sítio)
E dizem… não quero influenciar!

Nada sei da ética dos médicos para a cirurgia. Nada sei da angústia das mulheres pela opção de vida. Conto-vos uma história pequena, essa decisiva na minha opinião.

Uma noite tocou a campainha. Uma amiga grávida entra, preparo um copo, acrescento música, apago o cigarro e pergunto ao que vem.
«Estou grávida e tenho dúvidas! Achas que…» - disse.
Não achei nada. Disse-lhe, inocente, que podia pôr os pés na mesa para descansar. Riu-se muito, barriguinha para cima, canta a música que toca, acende o cigarro que estupefacto repreendo, gozando da felicidade do momento (sobre a minha inocência como se a gravidez fosse uma doença!) e falámos noite dentro. Do útero onde tudo se decide, essa antiga forja onde vive a ciência do sorriso acendendo chama e tantas vezes se aplica a equação construída nos momentos íntimos em que disseste não.
E disse-lhe mais: que conheço mulheres, pelo menos duas, que decidiram ALT CTRL DEL sobre o útero (esse alfabeto de epitáfios!) para hoje viverem felizes, por nova opção mães atentas, mãos carinhosas embrulhando presentes aos vindouros. Estas eram a minha linha de orientação. A conversa com a amiga que tocou a campainha mudou-me a linha de vez. Não sei se a convenci, se me convenci ou se ela própria se convenceu… foi mais isso. Saiu feliz e é hoje mãe de uma menina muito bonita.

Resta-me a lei para a única dúvida que mantenho. E sobre ela decidi. Não penalizar é o caminho. A arte de saber dizer sim ou não é jogo íntimo.
Pela lei que condena digo ALT CTRL DEL e votarei pela liberdade de escolha.
Pela mulher amiga despenalizo o acto e vou pelo caminho da maternidade, tentando ensinar do que não sei… não tenho sítio no corpo para isso.

pela escolha

um blog pela escolha

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domingo, janeiro 14, 2007

E tudo partiu (se partiu) até chover.


Eram as suas vidas o equilíbrio de um navio, contavam-me assim, amiúde, nas conversas de convés. E eram tão intensas que conseguia com eles ver velas fortes embrulhando todos os bons ventos, compassos à luz de velas sempre a galgar mapas como se o rumo tivesse um rumo, diálogos alegres em várias línguas, tantos eram os países onde o barco iria a bom porto um dia.

Quando acordou não havia homem, não havia corpo, não havia porto; tinha rumado ao mundo num pequeno batel, deixando-lhe apenas o lugar vazio no beliche, a escotilha aberta, um crucifixo e uma pequena bússola de marear.
Por ele acende agora paus de incenso e diz-me do que lhe diz:
«Experimenta, já medi.
Um pau de incenso demora cerca de uma hora a arder
o tempo em que ouço música a pensar em ti.»

Para lá do Equador, onde agora vive o sol, andará o homem quase feliz. Fartar-se-á, porque é daqueles que espera nova vida nas primeiras chuvas.

E já começou a chover, onde há pouco, a acender o pau de incenso, ela iniciou um descuidado chorar.

longe de ti

(Sanatório Marítimo do Norte, fotografia de Daniel Blaufuks, anos 80)

por detrás das fotografias estavam às vezes coisas que teriam acontecido aos que vinham passar aquelas temporadas doentes, lentas, húmidas, a Francelos; coisas que nunca poderiam contar a ninguém mas que de certeza existiram nos quartos nus, nas varandas compridas sobre o mar, nos corpos repousando ao sol e ao vento norte e, a prová-lo,

esta fotografia e estas palavras indecifráveis para ela: "longe de ti". de quem? quando? longe, onde? porquê? a morte? a praia? o norte? a casa? ou só a beleza das coisas perdidas?

não sei, mas tenho a certeza.

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sábado, janeiro 13, 2007

futuro imperfeito


duas crianças uma tarde inteira a brincar por casa e os verbos todos conjugados no pretérito imperfeito:
- eu era teu colega mas também era teu irmão
- e quando chegavas tu tocavas à campainha
- depois os nossos filhos iam dormir à avó
- e o meu marido já tinha morrido

numa só tarde mil histórias:
- mãe, estamos a brincar aos cientistas. mas também somos professores!
e, passado poucos minutos, na salta um reboliço de filme de acção:
- cuidado! agarra esse! salvaste-te? - disparos e ordens bruscas gritadas da varanda.

pouco depois, de regresso aos quartos, cada um distribui tarefas e ralhetes por uma turma de barbies, action-men, ursos, ratos e outros mamíferos insubordinados.

é o presente deles, quase perfeito. habitam um mundo gigantesco que, ainda não o sabem, encolherá à medida que forem crescendo.

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quinta-feira, janeiro 11, 2007

Odontologia TV


«Abra bem a boca» - disse o batinha branca.
Abri, concentrando-me naquela espécie de aspirador de salivas.
«Abra mais homem, tem medo?»
«Tenho e muito!» - disse entre dentes, quase rosnando.
«Distraia-se com a TV… isso, olhe bem para cima.»
Distraí-me. Traí-me. Tinha jurado que nunca veria um episódio da Floribella e lá estava todo o séquito a entrar-me nos olhos.
«Acabou a consulta!» - disse, saltando da cadeira.
«Toquei-lhe no siso?» - perguntou a medo o batinha branca.
«Tocou-me no juízo!» - disse, cabisbaixo, queixo baixo, saindo pela porta dos medos.

quarta-feira, janeiro 10, 2007

expectativas

(o cartoon que andava perdido mesmo a calhar no final de um dia - ou devo dizer uma semana? - de cão)

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Duras e Mitterrand


Trago-vos um outro livro bom de ler, «A Estação dos Correios da Rua Dupin», que reúne cinco conversas entre Marguerite Duras e François Mitterrand, muito na linha do livro de Sophia e Jorge de Sena, este em diálogo aberto. Como alguém escreveu no “Libération”, «digam adeus à esquerda e à literatura. Bem-vindos ao mundo das pessoas vulgares.»

terça-feira, janeiro 09, 2007

Goa - história de um encontro


Ganhei o livro de presente de anos. Ganhei vida. Fascinantes as palavras de Catarina Portas e Inês Gonçalves.
Uma edição da velha Almedina, onde busco em Coimbra sossego e socorro.
Goa, «um lugar insólito», dizem. É de ler. É de ter, já que não fomos convidados por Cavaco.

parabéns por ontem D


e para compensar atraso e o desnaturadas que somos aí fica uma vela gigante: afinfa-lhe agora. por muitos!

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segunda-feira, janeiro 08, 2007

Direitos dos fígado

Para DA

Porque o telefonema de hoje me diz que continuas vivo e a escrever bem do essencial! Mas já agora que te rendeste aos prazeres do comboio, fácil acharás o caminho na linha para Coimbra B, para discutires comigo no trabalho dos nossos fígados sociais (um copo e um pratinho de iscas, sim, a molhar no pedaço de broa!) que «ter fígados» é mais minucioso que «ter tomates». É de dentro, da idiossincrasia, não exposto apetrecho pendular, um outro apêndice alinhado com a coluna vertebral.

«Ter fígados» significa ter cabeça própria, encaixar, perdoar e manter coluna suficientemente direita para saber da cabeça no seu sítio, andar alto e disponível, combatendo a plasticina de outras vidas de sucesso efémero.

Estes, que não nos podem degustar a sapiência do miolo - peões de xadrez do tabuleiro político, errados errantes e, por desespero, actores renunciados por lábios de mulher! - teimam em acertar-nos os passos c’o velho murro no fígado, ali à beira dos rins, a zona mais alta dos corpos onde nos conseguem imaginariamente chegar.

Muitas vezes também a zona mais frágil onde activos lhes dizemos não!:

- o fígado, por desprezo, esse nosso descuidado ganha-pão!


domingo, janeiro 07, 2007

une journée grise...



(jorge molder)

Une journée grise... pouso devagar no vagar. Como quem já quase não sabe a memória de sentir vagar. É inverno. Estive no fim de um livro bonito “ cemitério de pianos” e antes disso tive uma fractura de tempo. Fiquei sem osso.

Sento-me entre a porta da casa e o inverno. Acendo o cigarro. Ainda não sei que outro livro começar, dos muitos empilhados na mesa. Quero só ficar quieta e ouvir o frio para e fugir desta sensação de ter deixado acumular o caos. De repente, a casa como a vida, parecem-me invadidas pela desordem. Uma desordem acontecida de ausência mais que de falta de ordem. Não estive e a casa, como a vida, ficaram entregues ao tempo e ao frio que foi entrando pelas frinchas. Parece-me agora que necessito de uma eternidade para voltar a arrumar tudo... para voltar a criar nova ordem sustentável e vivenciada. Parece-me uma eternidade que não tenho essa a que necessito.Nesta vontade que brota súbita e violenta não há bocados, não há partes, não lugares. É uma vontade de tudo.

Por isso lhe virei as costas e me sentei entre a casa e o inverno. Não me concedem nenhuma eternidade nos próximos tempos, pelo que será impossível a vontade de criar a ordem. Na casa como na vida.

Quieta.

big brother is watching you


ando há dias a ser assediada até à loucura (e isto não é uma metáfora, até porque assim está descrito por especialistas em spyware) por uns sites para os quais sou involuntariamente direccionada sempre que tento visitar este nosso blog (por isso não tenho postado, não tenho comentado, não tenho ouvido música, pouco tenho trabalhado, hoje ainda não me vesti, etc. etc. etc). o que me querem impingir não posso imaginar porque não consigo ler uma linha do que lá vem, tomada que fico pela raiva.

pedi socorro a um amigo (obrigada Nossa!) e nas últimas 36 horas fiz um curso intensivo sobre spyware, software que invade os nossos computadores contra a nossa vontade e segue os nossos passos na internet com vista quer a metralhar-nos com anúncios e propostas de venda, quer a descobrir as nossas passwords e a entrar em nosso nome noutros sites (em bancos, por exemplo).

foi assim que descobri, com horror, que ter um antivírus legal e actualizado permanentemente não nos livra de muito desse lixo. descobri ainda, usando software gratuito especializado em spyware, que no meu computador, onde faço compras e acedo ao meu banco, tinha, entre ontem e hoje, 94 "itens" constituindo ameaça séria à privacidade e segurança dos meus trajectos na net.

é a insanidade total, como vos dizia. e já nem é a segurança que perturba, é a falta de privacidade, esta sensação de ser espiada, neste admirável mundo novo da net. big brother is watching you.

(apesar de tudo o que aprendi entre ontem e hoje, o problema continua por resolver; alguma dica?)

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sábado, janeiro 06, 2007

Parabéns a V.


Ando a

tentar

emagrecer, quase consumido nesse

tentar

de querer ficar bonito, para me

tentares

outra vez olhar (o olhar!)

no jantar ao entardecer sempre esquecido.

quarta-feira, janeiro 03, 2007

preciosos dias de prata na memória

Há 25 anos acabava de chegar de uma passagem-de-ano (81-82), epicentro na Sra. das Preces, Aldeia das Dez. Tinha sido a minha primeira passagem nos “Campos” com nomes que na altura faziam cartaz no nosso mundo, endeusados por nós próprios, tal era a ânsia que turvava os olhos, mas também o seu talento, ensinando-nos nesse mundo mundos novos.

Lembro que na Couraça de Lisboa ainda havia rigor imperativo com as idades e um esforço suado, meloso, para que H fizesse parte do grupo. Depois passou a ser-nos uma peregrinação de memória ao Santuário, ano após ano, trazendo-nos outros amigos decisivos, M, por exemplo.

Éramos uma nova seara de HR que com o tempo quase secou, deixando-me H e M dessa safra como frutos preciosos.

E um púcaro de água que rega olhos, cheio nos amores do Alvôco com o Alva por baixo da ponte das três entradas, uma linha de prata para novas sementes.

Apeadeiro. Paragem de ano.

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