Naïf Faria
Não faria, porque não sei. Mas o João Faria faz. Quadros naïf, nos intervalos da vida entre embalsamador de todas as espécies com corpo para isso e que não falam e pescador de peixes com um ou outro metro de exagero. É uma figura de Sicó. Fala arrastado. Vive da arte e da boa-vontade alheia, comendo aqui e ali, vestindo-se por acolá (com adornos únicos!), internando as noites sucessivas num lar que não merece.
A sua arte é naïf, está tudo dito. Merecia ter o espaço próprio que não tem. Hoje almoçámos juntos. Já prometido, comprei-lhe um quadro. Segundo ele, é o retrato fiel das invasões francesas no largo do Cardal, Pombal. Está lá tudo. Ingleses do lado dos portugueses contra os franceses e pequenos quadros dentro do quadro. O canhão, a mulher que sangra tombada, toda a heráldica do momento, os abutres por cima, o cão ferrando heroicamente um francês, o alinhamento das baionetas e gente com nomes que só ele conhece.
«Foi há uns milhares de anos» - disse, convicto, eu que o desminta.
É um quadro com história. Espero que um dia as entidades públicas lhe façam a história que merece.
2 Comments:
parece o pelourinho, em Salvador!
Que bem te lembras, me lembras o pelourinho de Salvador. Vamos lá uma vez mais beber à sombrinha uma caipirinha?
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