segunda-feira, janeiro 15, 2007

ALT CTRL DEL


Não me fecundem que não tenho sítio no corpo para isso. A instituição Igreja, escolástica, bombástica, chama-lhe ABORTO. Os moderados da lei falam de interrupção voluntária de gravidez. Os melindrosos, apenas IVG. Os amigos mandam “power-point” com fotos a condizer, brincando com isso:
9 semanas (uma nuvem aquosa)
13 semanas (um feijão)
25 semanas (um primeiro rosto adormecido)
30 semanas ( o ET do Spielberg)
18 anos ( uma gaja com tudo no sítio)
E dizem… não quero influenciar!

Nada sei da ética dos médicos para a cirurgia. Nada sei da angústia das mulheres pela opção de vida. Conto-vos uma história pequena, essa decisiva na minha opinião.

Uma noite tocou a campainha. Uma amiga grávida entra, preparo um copo, acrescento música, apago o cigarro e pergunto ao que vem.
«Estou grávida e tenho dúvidas! Achas que…» - disse.
Não achei nada. Disse-lhe, inocente, que podia pôr os pés na mesa para descansar. Riu-se muito, barriguinha para cima, canta a música que toca, acende o cigarro que estupefacto repreendo, gozando da felicidade do momento (sobre a minha inocência como se a gravidez fosse uma doença!) e falámos noite dentro. Do útero onde tudo se decide, essa antiga forja onde vive a ciência do sorriso acendendo chama e tantas vezes se aplica a equação construída nos momentos íntimos em que disseste não.
E disse-lhe mais: que conheço mulheres, pelo menos duas, que decidiram ALT CTRL DEL sobre o útero (esse alfabeto de epitáfios!) para hoje viverem felizes, por nova opção mães atentas, mãos carinhosas embrulhando presentes aos vindouros. Estas eram a minha linha de orientação. A conversa com a amiga que tocou a campainha mudou-me a linha de vez. Não sei se a convenci, se me convenci ou se ela própria se convenceu… foi mais isso. Saiu feliz e é hoje mãe de uma menina muito bonita.

Resta-me a lei para a única dúvida que mantenho. E sobre ela decidi. Não penalizar é o caminho. A arte de saber dizer sim ou não é jogo íntimo.
Pela lei que condena digo ALT CTRL DEL e votarei pela liberdade de escolha.
Pela mulher amiga despenalizo o acto e vou pelo caminho da maternidade, tentando ensinar do que não sei… não tenho sítio no corpo para isso.

5 Comments:

At 10:18 da tarde, Blogger Mónica (em Campanhã) said...

alt ctrl del... soberbo!

eu acredito num Deus que sabe dançar, que não atira a primeira pedra, que não agride como esses cartazes negros que pairam sobre as ruas da cidade.

 
At 12:33 da manhã, Anonymous Anónimo said...

O que eu gosto na vossa linha
é que vou sempre a tempo de comprar um bilhete

 
At 2:28 da manhã, Blogger David (em Coimbra B) said...

Caiu na linha a Rita. Mãe de família. E o que ela sabe disto... bemvinda!

 
At 11:10 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Tenho viajado muito pela linha do Norte.
O Vosso triálogo é um fogo de campo onde vou mantendo acesas umas brasinhas noturnas.Que bem que sabe...
Parabéns aos três :-)

 
At 11:53 da manhã, Blogger JPN said...

gostei mesmo muito.

 

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