domingo, janeiro 14, 2007

E tudo partiu (se partiu) até chover.


Eram as suas vidas o equilíbrio de um navio, contavam-me assim, amiúde, nas conversas de convés. E eram tão intensas que conseguia com eles ver velas fortes embrulhando todos os bons ventos, compassos à luz de velas sempre a galgar mapas como se o rumo tivesse um rumo, diálogos alegres em várias línguas, tantos eram os países onde o barco iria a bom porto um dia.

Quando acordou não havia homem, não havia corpo, não havia porto; tinha rumado ao mundo num pequeno batel, deixando-lhe apenas o lugar vazio no beliche, a escotilha aberta, um crucifixo e uma pequena bússola de marear.
Por ele acende agora paus de incenso e diz-me do que lhe diz:
«Experimenta, já medi.
Um pau de incenso demora cerca de uma hora a arder
o tempo em que ouço música a pensar em ti.»

Para lá do Equador, onde agora vive o sol, andará o homem quase feliz. Fartar-se-á, porque é daqueles que espera nova vida nas primeiras chuvas.

E já começou a chover, onde há pouco, a acender o pau de incenso, ela iniciou um descuidado chorar.

1 Comments:

At 12:16 da manhã, Blogger Mónica (em Campanhã) said...

que bom sentir-se - ler-te - por aí. estamos quase a fazer um ano, já viste?

 

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