domingo, agosto 24, 2008

caderno de duas linhas - II

O revisor viu-me do waggon 21 no bar da estação, reconheceu-me numa cara mais velha, aproximou-se, acendeu um cigarro e disse-me que chegou após ligação de Coimbra B a Coimbra A às 11:10. A hora de um post que intersectou de Lisboa onde a tinha visto frente a uma janela a escrever, poisado o olhar na parede branca e veio no primeiro comboio avisar-me que o vulcão tinha recomeçado a actividade. Olhei o relógio da estação, lembrei-me da hora do post. Não era coincidência!
«Como é que ela está?», perguntei ansioso.
«Está como o Chiado, ardida e recuperada».
Foi há 20 anos quando o Chiado nos ardeu nas mãos. Então, tinha-me mandado um postal de Viana, agora vem mensageiro de linha desassossegar-me o pouco espaço que ainda tinha sereno no coração.
Acho que é Agosto que nos mexe. O sal na pele. Um vento como um código só nosso, que chega pela noite como a luz aos pirilampos. Ainda me lembro dela, soberba no Alto de Allariz sobre o rio Amoia, quando falávamos num alfabeto «amar-te uma única vez».
O mensageiro despede-se, missão cumprida.
«Regressa a Lisboa?»
«Sim, a minha tarefa está terminada!»
Esta mulher inquieta-me! Deixei-a num Agosto cinzento de fumo. Arredondou-se-me na vida como os cavalos ao consumar a sorte sobre os toiros. Dois anos rigorosos de Agosto em Agosto...
«Diga-lhe, que se quiser, podemos fazer nova viagem, partir por exemplo quarta-feira. Ela que escolha a roupa, o mapa e dobre dinheiro. Estarei no bar de Coimbra B com as minhas economias.»
«Lá direi!».

1 Comments:

At 8:12 da manhã, Blogger Cristina Gomes da Silva said...

Comoveu-me este teu "reencontro". Abraço em agosto, de quem também nasceu por lá em vésperas de incêndio

 

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