sábado, fevereiro 24, 2007

Educação de casa mãe

© Sicó, nascente do Anços, 2006.

Aprendeu cedo que as casas ricas não são as das herdades e contas bancárias chorudas, mas aquelas que têm estantes com livros.
Cresceu pela escada da velha biblioteca acima na direcção deles. Aos 14 anos chegava à fileira do Eça, orgulhoso e, aos vinte, quando deixou a casa para vida própria, passava já a ponta do nariz mais acima nas lombadas do Pessoa.
Quando em miúdo a criada o levava para a cama, ouvia da sala o pai a ler alto para quem estava: a mãe e a avó bordando peças de enxoval, ensinando os labores à irmã mais velha e o avô fumando à lareira o cachimbo, aconchegando o corpo na cadeira de baloiço, adormecendo sempre com um cheiro suave a chá de tília que lhe inundava o quarto da varanda.
Ficou-lhe o vício. Hoje lê alto na sala e na cama, para si simplesmente, ou com mais devoção quando as partilha com mulheres que lhe vão fazendo a vida.

«Queres que leia um pouco para ti?»
«Quero, mas chega-te primeiro mais para aqui!»
«Ouves a água a entrar na sala e o rio a crescer?»
«Ouço a água a sair e tenho medo de te perder!»


1 Comments:

At 11:52 da manhã, Blogger Mónica (em Campanhã) said...

dá vontade de ir lá, ouvir esse rio passar e alguém nos ler assim

 

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