exercício de pensar
não resisto a deixar-vos aqui o caminho para um texto que é uma fonte de água pura no lago lodoso que tem sido a mediatização da vacina dita contra o cancro do colo do útero. publicado embora numa revista médica (e em castelhano!), a sua escrita é tão fluente, tão despudorada e descomprometida, que ilumina mesmo os leigos, empurra o mais lerdo para o exercício de pensar. abre uma clareira na selva densa da propaganda médica. faz um silêncio revelador no ruído infernal da demagogia.
o seu autor, Juan Gervas, é médico de família numa zona rural de Espanha. pensador e homem de ciência, fez da sua vida uma cruzada pelo posicionamento da inovação e da tecnologia médicas no seu devido lugar. dedicou-se a questionar a utilidade real (isto é, o benefício concreto para as pessoas e para os doentes) de atitudes e procedimentos médicos, nos quais, não raro, são investidos recursos avultados sem que haja evidência científica que o sustente. Juan Gervas é, além disso, um colosso vivo, um monstro da comunicação (a ponto de ter de me beliscar quando um dia me vi entre uma assembleia de congressistas perante a qual ele falou mais de meia hora, de pé, sem microfone, sem powerpoint, usando apenas, segundo as suas palavras, o meio audiovisual mais antigo do mundo: o teatro).
mas o que mais impressiona em Juan Gervas, o que nele marca o nosso pensamento - como um ferro em brasa - é a sua nítida e absoluta liberdade. pensa-se melhor depois de o conhecer: é-se mais inteiro, mais exigente; as verdades que nos vendem deixam-se radiografar, desmontar e conhecer (e, por vezes, transformam-se em falácias).
Etiquetas: actual, Juan Gervas, trabalho
4 Comments:
São estes tipos, também os tenho no meu mundo dos saberes, que nos oferecem a alquimia para continuarmos bons profissionais.
Olá Mónica,
veio mesmo a jeito esta tua sugestão de caminho. Já me tinham feito o discurso para vacinar a mais velha (10 anos), mas vou ler com atenção para decidir melhor.
Abraços cá do Sul
Mónica, ele é a favor ou contra a vacina? Ou acha que isso depende de um conjunto de variáveis que cada família deve ponderar?
Abraço
~CC~
CC, ele diz que é tudo ainda demasiado incerto, ao contrário dos benefícios e segurança vendidos pela indústria, pelos media e pelos políticos oportunistas. sendo certo que não dispensa a realização de papanicolaus, mesmo algum benefício poderá ser apenas marginal. existe ainda a possibilidade de, excluindo 2 estirpes de vírus, aumentar a proporção de outras (como já aconteceu por ex com a prevenar, uma vacina contra uma das meningites). são várias as questões mas, de qualquer modo, sim, é ler com atenção e cada um decidir o que quer (com a dificuldade acrescida de estarmos a decidir pelas nossas filhas).
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