domingo, julho 08, 2007

Padrinho

Mesmo por obrigação, nunca fui padrinho de ninguém. Baptizado que sou – uma manhã fria que me deixou testa abaixo uma eterna constipação! – fez-me renunciar desde esse dia, caso a caso, sucessivos convites. Poderia ter exercido essa investidura com uma sobrinha de que sou tio-mais-que-padrinho, coisas de que nos sabemos merecer pela vida que nos corre no peito.
Ela, feliz à mesma, sabendo inteligente das minhas relações com a instituição Igreja, aceitou que são de bons-dias apenas.
Um dia serei, mude a Igreja. Baptizada está, Deus a debulhe.
Lutaria com a dúvida a vida inteira se não tivesse, lendo, encontrado no Guerra Junqueiro uma possível razão para a teimosia:

O Baptismo
Exeat de vobis spiritus malignus.
Ritual.

Baptizais: arrancais dum anjo um Satanás.
Desinfectais Ariel banhando-o em aguarrás
De igreja e no latim que um malandro expectora.
Dizeis à noite: - limpa a túnica da aurora,
E ao rouxinol dizeis: - pede a benção da c’ruja.
Dais os lírios em flor ao rol da roupa suja,
Representais a farsa estúpida e sombria
Dum cónego a lavar um astro numa pia,
Finalmente extraís da inocência o pecado,
Que é o mesmo que extrair duma rosa um cevado,
E tudo isto porquê?
- Porque na bíblia um mono
Devora uma maçã sem licença do dono!

3 Comments:

At 1:40 da manhã, Blogger Mónica (em Campanhã) said...

eu cá sou como os índios, que se convertiam mais ou menos, misturando as suas crenças com as dos missionários. porque temos de dizer com as instituições? porque não havemos de poder acreditar um pouco à nossa maneira? não reconheço à instituição igreja o monopólio da fé.

dito isto, o Guerra Junqueiro está muitíssimo bem neste baptismo.

 
At 1:53 da manhã, Blogger David (em Coimbra B) said...

Na Carta de Pêro Vaz de Caminha, cidadão do Porto, sobre o Brasil, ao Rei, está lá tudo certinho.

 
At 10:59 da tarde, Anonymous Anónimo said...

D, em Coimbra B, seja lá o que foi que te aconteceu ao computador, só posso agradeçer. Desapareceu o incomodativo recado que o meu anti-virus sonoramente mostrava, e agora já consigo mandar comentários.

Como te compreendo nas questões Igreja, e quanto às da fé entendo como M em Campanhã...
Há sempre alguém que nos faz pensar um pouco

 

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