sábado, junho 30, 2007

liberdade de expressão

é difícil, desde o princípio dos tempos, integrar a nossa liberdade com a liberdade dos outros. é um processo que implica (anarquistas à parte) o estabelecimento de limites. pessoalmente, irritam-me alguns estilos de exercício de liberdade especialmente prezados e praticados pelos portugueses: o anonimato, a conversa de café sem qualquer acção individual, a boca lançada para o ar sem destinatário certo, o graffitti inconsequente, as maledicências de mãe à porta da escola que, com desculpas várias, nunca se convertem em queixas concretas junto de quem de direito, os resmungos de utente nos guichets administrativos que nunca transitam para livro de reclamações, os queixumes de funcionários que nunca agiram, nunca se propuseram a participar na construção de soluções.

não acho adequado que nas salas de espera dos Centros de Saúde se colem cartazes com bocas: nem ao ministro da saúde, nem a nenhum funcionário ou utente. e se um utente do CS quisesse afixar um cartaz com umas bocas ao seu médico? e se nos corredores da escola dos meus filhos eu andasse a contar anedotas sobre a professora deles? será que todos os lugares servem para se ser livre? todas as formas? todas as distâncias? até onde podemos ir com toda a liberdade que temos? até onde queremos que os outros tragam a sua liberdade?

não penso que nada disto se resolva com processos disciplinares e demissões que apenas ridicularizam o actual governo e alimentam uma histeria que respirava adormecida desde a revolução. não sei como isto se resolve, mas tenho a certeza que não será por decreto e pressinto que ainda será longa a noite da verdadeira liberdade.

PS ao mesmo tempo que saía este post, Eduardo Pitta publicava também um sugerindo outros "e se" para mostrar que se devia pensar um pouco mais antes de bradar aos céus por estas coisas acontecerem

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2 Comments:

At 2:01 da tarde, Blogger someothertime said...

Tanto Campanhã, M como Pitta, Eduardo sofrem do mesmo mal, a saber, demagogia e ignorância ou má-fé.

O problema de M é a degradação da imagem do PS, é isso verdadeiramente que lhe preocupa - está a sentir o seu lugar ameaçado caso haja re-viravolta nas próximas eleições? Não esteja, que para pensadores do seu calibre há sempre lugar...

O ignorante (dou de barato que não é pessoa de má-fé) do Pitta não descortina a diferença entre actividade profissional e OPINIÃO.

Ó Pitta, se não destrinça diferenças entre ambiente profissional e liberdade de expressão de OPINIÃO POLITICA, das duas uma, ou este país está mesmo mal ou você vai já para o próximo job de boy.

É que concordo totalmente com os seus exemplos apontados, mas como não sou demagogo (como você é) não vejo paralelo nenhum entre o que se passou e o que descreve.

A LIBERDADE DE OPINIÃO POLITICA é uma coisa muito diversa dos seus exemplos

 
At 3:57 da manhã, Blogger JPN said...

concordo contigo, M. em relação a este apetite pela maledicência, em relação à falta de bom senso do impeto disciplinar. neste caso há ainda um outro aspecto que não tem sido muito tomado em linha de conta: o ministro poderá ter demonstrado uma grande insensibilidade pelo drama dos doentes, e poderá ter sido desleal para com aqueles que trabalham no Centro de Saúde. se fosse mais humilde tinha percebido que as suas declarações só puderam ser utilizadas contra ele porque eram de facto muito infelizes. nestes casos, por mais impróprio que tenha sido o lugar e o modo de protestar, foi também compreensível. para além disso, como tu dizes, o processo é ridiculo.

 

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