quarta-feira, junho 27, 2007

Tempo feliz

Acredito que a minha frágil felicidade se constrói nos horários de sobra. Tudo o que faço dá-me sempre um minuto a mais para o poder apreciar sem correrias contra o tempo. A correr, quando quero, ando eu, sei disso. Mas ter tempo para o tempo do que faço e poder admirá-lo, é privilégio único. O mesmo faz a abelha da sombra da folha, saciada depois do almoço dentro da flor. O mesmo faz o peixe que, não sendo pescado, sobe livre até ao cimo do rio. E o que dirá a águia-de-asa-redonda que nesse minuto do tempo vejo voar alta, fugida ao tiro furtivo, retomando o caminho das orquídeas atingidas pela bala que falhou. O mesmo fazem os ponteiros do relógio, depois de usados nas horas pelos apressados, deixando-lhes o ritmo para o outro privilégio único de poderem parar outra vez. A todos nos sobra tempo. Esse precioso tempo que não está cotado no horário dos homens da bolsa.

A abelha, o peixe, a águia-de-asa-redonda e os ponteiros do relógio,
admirando o mundo nesta frágil felicidade comigo, falando juntos sobre isso
num minuto a mais sem compromisso.


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