Aqui há rato
Um rato morto, cheirando melhor cheiro que certos juízes e processos em decomposição, foi encontrado no gabinete da presidente da quarta vara do Tribunal da Boa Hora. O bicho adormeceu até morrer aconchegado num cachecol. A sua pele seca «blue velvet» foi analisada com luvas jurídicas CSI. Cinco juízes, cinco, cruzes, credo, tapemos o nariz, chamem a ASAE, apresentaram queixa, tomaram principescamente conta da ocorrência e exigem agora que sejam tomadas medidas com a máxima urgência.
Muitos deles nasceram felizes entre ratos e gatos e foram alimentados à sua semelhança. A outros tantos, a passagem pelas faculdades do direito destorceu-lhes o ego e a recusa das origens e, chegados, poucos, aos calabouços do Centro de Estudos Judiciários, passaram a ratos de jurisprudência ou sacristia.
Mas eis que aparece um rato que não tem classificação de Lineu na sua nova família. Vetustos, lançaram do alto da toga com luva branca o bicho ao ar e aos media, desculpando com ele a inércia do sistema judicial.
O rato voou pelo Tribunal da Boa Hora. Aterrou hirto no teclado de um computador. Era, estou convicto, um rato de trabalhar, acelerar processos, ligado ao hardware. Ninguém lhe pegou. Terá processo sumário e dois ou três gatos a testemunhar a seu favor. O rato não rói processos. O rato-rói-a-rolha-da-garrafa-do-rei-da-rússia, todos sabemos, é o único que lhes é familiar, no bar, nas mesmas sortes de Boris Yeltsin ou Putin, para sistema andando-e-andando, a fresco wodka de fim-de-tarde.
Haverá juízes justos com trabalho somado. Tenho-os na família e na família de amigos. Nada de ego familiar. É o ego deles que não se alterou. Gatos contra outra espécie de ratos. Mas no caso presente, a ASAE que tome conta da ocorrência. Mais processos serão arquivados, culpa do rato.
No «Aqui há Rato» - um bom bar de Coimbra B onde se ouvia Triumvirat do rock alemão progressivo, rato sempre na capa – alguns juízes lá vi na onda da assimilada jurisprudência germânica, álcool em abundância. Processos a andar? A ver vamos. O rato do computador queria trabalho, afago de mão jurídica, morreu porque ninguém lhe mexeu.
E as pulgas? Post-its sobre o teclado com urgências de decisão, merecerão também processo sumário?
E se o bicho fosse uma rata? Delenda est Cartago!
2 Comments:
brilhante
O máximo! Ainda bem que tu o sabes escrever....
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