sábado, junho 16, 2007

falamos... com chuva morna

Pouso devagar e no vagar. Cai uma chuva morna e quente. Cai uma confusão de verão, do céu. Cheguei ontem noite de fora do mundo e vim espreitar à blogosfera, se chovia ou já havia sinal de verão. Apanho sempre aqui o comboio e, por escassez de tempo, tenho-me confinado a territórios curtos e seleccionados. Não tenho espaço para acomodar a curiosidade e meti-a conjuntamente com a vivência do resto da vida, no território das coisas em espera e para as quais desliguei. Fui para fora do mundo, onde chover não molha.

Pousei ontem no vagar. Breve. Abeirei-me para saber do tempo por aqui. Parei no apeadeiro do “ respirar o mesmo ar” e achei que era o amor, ou no lugar do amor, que chovia. Deixei-me quieta por suficiente ser a beleza. Para quem anda em abstinência de alma, a dosagem deve ser controlada. Aquela foi perfeita. Do amor para começar um vagar.

Hoje, com a chuva ainda colada ao pijama e ao primeiro cigarro com café, vim para a estação e eis que por todo o lado (os meus lados curtos e afectivos) o amor faz a palavra e entretêm a chuva.

De imediato pensei responder ao repto de M. “ de que é que falamos quando escrevemos amor?”. Sem vontade do esforço de perfurar a pele e procurar, ocorreu-me de imediato ir buscar um livro. Há livros que tem respostas. Afinal há livros que sabem tudo e do amor, ou da perca dele, “ Amigo e Amiga – curso de silêncio de 2004 “ de Maria Gabriela Llansol escrito após a morte do seu companheiro, seria o livro perfeito. Também alguns contos de Clarice Lispector, estes, a cheirar mais a quente e a volúpia.

Tenho como principio que o vagar não comporta o peso do esforço e não ter resposta pode ser apenas o meu consentimento para sentir a chuva a bater em mim. A molhar a pele ou só a página do livro que hoje posso ler, mesmo que se desfaçam as palavras impressas em tinta negra. Para acabar o jornal da escola das crianças e ter as noticias do mundo a partir dos desenhos de cera, coloridos e imprecisos como a memória do verão. Para ajustar o quadro torto que pousou na parede depois da cor nova. Para medir o que falta de tecido para fazer cortinado que caiba na janela. Para me por no colo que cabe entre os braços das minhas filas ou sentir o respirar quente e feliz, nesse espaço pequeno com certeza de crescimento. Isto também é amor, não é?

2 Comments:

At 3:39 da tarde, Blogger Mónica (em Campanhã) said...

que bom fazermos parte dos teus territórios seleccionados

 
At 1:48 da manhã, Blogger David (em Coimbra B) said...

Um bom amor onde o chover não molha...

 

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