quarta-feira, julho 18, 2007

Saleiro

As tuas tentações (esse desejo de constante desafio, que me obrigam a ir por ti a novos sítios) são nos meus ombros pesados sacos de sal. Na arte dos marenotos, junto-os em pirâmide como os egípcios fizeram dos seus momentos felizes, o sol a pique na pele, o corpo nas suas sombras. Cada fractura desse caminho é um novo desafio percorrido no tempo do sal, onde antes correu um rio, que eram as tuas primeiras palavras demolhadas.
O nosso mar, que é também um delta das distâncias, acolherá junto ao porto de abrigo o teu sorriso como um barco de velejar. Dois, três sopros de vento decisivos e o desejo que guardo entre a boca e as cigarrilhas do teu beijo, sempre contrariado como um peixe pescado do mar, que quando aportar será um ruído, som de roca como as sirenes dos navios, a saliva expulsa do sal de que te saberei, quase beijada, falar como pimenta da Índia, lá onde os teus lábios finos saboreiam o colorau sobre os meus lábios, tempero das almas saciadas.
Abre a porta. Cose pão fresco. Põe azeite e ervas aromáticas na taça das azeitonas. Escolhe o melhor vinho que guardaste para esta circunstância de saberes que iria ter contigo a esse novo lugar. Chega o corpo ao avental. Começa. Recria. Escolhe as músicas que ouvimos quando fomos no barco para Marrocos. Poisa na mesa o livro que andas a ler para eu apenas saber, deixando-me salivar o desafio. Acende o fogo. Grelha as palavras ao sal como mariscos. Põe sobre elas o sal grosso dos grelhados com a mesma densidade de cristal dos teus olhos atentos, quando te convenço a ouvir outra vez o nosso tempo na esplanada em que foste sempre senhora de ti.
Queres mais sal?

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