linha do norte
quinta-feira, janeiro 31, 2008
quarta-feira, janeiro 30, 2008
responsabilidades
Etiquetas: blogs, Eduardo Pitta, política, trabalho
Momento
A esta hora, depois de três de incontornável trabalho para o amanhã de serviço, quase se me perdeu o espanto. Caí do diário do Guernica. Rabisquei uma nova empresa. Dela não serei soldado para canhão nem general no cá atrás da linha das sortes. Serei o homem esforçado que apoiará a bala do canhão. Sem horário rigoroso, ganho assim mais duas horas de cama, verei a manhã já alta como os padeiros, tão alta como a altitude do sono que já me cerra os olhos, ou a outra, resto de espanto, para onde cresceram os pães com o fermento e voaram os teus olhos no teu tempo.terça-feira, janeiro 29, 2008
Guernica
Lendo diários, posicionando datas:«Madrid, 29 de Janeiro de 1984 – Guernica. Até que enfim dou aos olhos a alegria que há muito sonhavam: ver ao natural a imagem emblemática da violência do nosso tempo. E vê-la, também, entronizada no seu lídimo altar sem tempo. A Espanha é a pátria eterna dos excessos, na arte e no resto.»
Torga, Miguel, Diário, Vols. IX a XVI
segunda-feira, janeiro 28, 2008
Linha do Tua
A tua linha do Tua. O revisor disse ao Armindo Augusto, passageiro regular, que hoje a viagem era de graça. «Eu, medo?», porque sobre isso questionado disse e sorriu. Reabriu o sonho e o último caminho-de-ferro do nosso património. É uma linha que tem o seu vagar. Passeia os passageiros que vivem devagar. Ali vive-se o tempo do relógio das estações, que são tantas vezes os rebentos de Maio e a cesta cheia da vindima de Setembro. Querem dela fazer uma barragem, linhas de aço por betão de água controlada. Encher-se-á na conivência dos padres da água benta, os restos do gelo do wiskey autárquico e, estou certo, das lágrimas de saudade que irrompem nos olhos dos que da linha fizeram o seu mundo. Estamos a criar o novo submarino que falta à nossa armada. Um país que afunda o património é doentio tecnocrata. Querem comemoração? Ao nosso não! À Tua! domingo, janeiro 27, 2008
sociologia instantânea II
Etiquetas: fotografia, minhas histórias, Portugal
sábado, janeiro 26, 2008
sociologia instantânea

a minha turma da 4ª classe na escola primária de Francelos, em 75. 29 raparigas dos 8 aos 13 ou 14 anos. destas, conto 9 que continuaram para o 5º ano (então 1º ano do ciclo). apesar de ter continuado a morar em Francelos ainda por muito tempo, nunca mais vi a maioria das restantes. quem serão hoje, com a 4ª classe? que vida terão tido?
"sociologia instantânea" (como JPP nos mostrou que Susan Sontag escreveu em "On Phtography").
Etiquetas: fotografia, Francelos, minhas histórias
quarta-feira, janeiro 23, 2008
As bolsas e as balsas
Penso que já foi um simples jogo, «a bolsa ou a vida». Os apostadores sulcam ordens de mandador, compram e vendem papel com o colapso das bolsas. Os magrebinos que deportamos, sulcaram água com as balsas à procura de dinheiro. Tenho em memória o gráfico da bolsa no écran, a sensibilidade do cobre e do papel de que são feitas moedas e notas pequenas. Tenho em memória as areias de Erfoud e a sensibilidade dos grãos de areia que dão corpo ao Atlas marroquino. O gráfico e o relógio do tempo. Ninguém é dele dono e senhor para poder perder. A velha regra ainda existe e não mente:- os ricos exportam capitais.
- os pobres exportam gente.
terça-feira, janeiro 22, 2008
2 anos
Etiquetas: festejos
segunda-feira, janeiro 21, 2008
Comboio Hotel
Nas carruagens é tudo mercadorias, entre o fumo, despojos que ficaram da discussão imprevista. As suas linhas paralelas numa curva para nenhures. No hotel, recado dado na portaria, passaram o resto do fim-de-semana em quartos separados. Coisas da vida, adorada-flor-sempre-surpreendente-e-agarrada-aos-velhos-vícios-como-ífens-doentios. domingo, janeiro 20, 2008
Gadgets de sedução
O mais longe era chegar pelas costas, tapar-lhe os olhos e esperar que adivinhasse o seu nome. O mais próximo era mandar uma Polaroid do seu umbigo com convite para jantar. Hoje chega pelas costas como antes. Enfia-lhe nos ouvidos os auriculares do seu Apple iPod Classic e espera que ela adivinhe a música que os seduz.
Mané Garrincha 25
No «Público» de hoje. Não o vi jogar. Dizem-me que foi o melhor. Dizem-me de cá e do lado de lá do Atlântico. Dele disseram:«Se há um Deus que regula o futebol, esse Deus é sobretudo irónico e farsante, e Garrincha foi um dos seus delegados incumbidos de zombar de tudo e de todos nos estádios.»
Carlos Drummond de Andrade
«Para Mané Garrincha, o espaço de um pequeno guardanapo era um enorme latifúndio.»
Armando Nogueira
«Um Garrincha transcende todos os padrões de julgamento. Estou certo de que o próprio Juízo Final há-de sentir-se incompetente para opinar sobre Mané.»
Nelson Rodrigues
sábado, janeiro 19, 2008
focagem
A paisagem olha-me. Sentada na cadeira de lona, com a janela pelas costas. Os livros nas estantes do fundo da casa que me tem. A paisagem olha-me e não se comove.
Tentamos a focagem muda. A paisagem ajusta a nitidez e enquadra-me. Acendo o cigarro e olho o tempo de ausência. O inverno é triste.
Foi o livro de poesia que me apeteceu ontem, a antever o regresso do vagar. Procurei-o. Não estava lá nas prateleiras da livraria. Nenhum livro me espera porque as palavras secaram como as folhas. Não disse que vinha...e chegar começa por sentir o peso de todas as desaprendizagens.
Está uma luz a fingir porque é inverno. É a hora da morte. Morro sempre no inverno. Morro sempre a morte do anterior inverno.
Bastar-me-á sentar mais vezes, fazer a usura do vagar e das neblinas,cruzar as pernas, ouvir as sirenes dos barcos e saberei sentir para além da varanda.
quinta-feira, janeiro 17, 2008
inveja pura
Etiquetas: blogs, Graham Greene, livros
planeta tangerina

Receita
Trabalho a língua no que me resta dos dentes. Uma cigarrilha, na ponta da boca, queima enrolado tabaco onde se encontram prensadas as palavras, as incisivas, que me dizem serem quase todas destinadas para as mulheres da minha vida. Prevaricam amigos que nada sabem dos prazeres que crescem no segredo das sombras que já fizemos. Brincam mulheres que não têm espaço nos seus dedos para os meus anéis, dizendo que apenas escrevo entre o meu amor por elas, o resto lodo, o resto do resto, carvão do pulmão. Deixou-lhes bilhetes a dizer que são receitas. Poucas sabem que fui coleccionando palavras por isso. Nós de marinheiro. Folhas para tisanas. Uma «galette des rois» cujos brindes são todos os itinerários do nosso desejo, curvas da estrada que fazemos com um risco cardíaco à volta dos nossos corações, festejos quando são correspondidas. Amor meloso. Junta-lhe um copo. Acende o fogo que nasce em quatro mãos que se entendem. Não são vidas «blue screen»! Todos existimos nos juízos que fazemos. Que outro jogo conheces para esta idade mais agradável que este:quarta-feira, janeiro 16, 2008
a nova Leitura
Etiquetas: livros
a minha palavra favorita?
hoje resisti a comprar um livro (pensando de mim para mim "sua consumista, vinhas só comprar um dicionário e já andas à cata de alguma coisinha para ti, tem tento, com tantos livros ainda à espera de vez na mesinha de cabeceira!"). mas, de castigo, fiquei com o título na cabeça: A minha palavra favorita. era uma compilação que Jorge Reis-Sá organizou com textos de variadíssimos portugueses (ditos figuras de relevo), à volta da palavra favorita de cada um.
duas pessoas escolheram uma palavra horrível, mas que designa algo maravilhoso: serependidade (vão ver, vão ver). FJV escolheu, já se sabia, poeira. estavam lá todas as palavras que não podiam faltar: amor, poesia e palavra. não pude deixar de ficar a pensar qual seria a minha.
podia ser norte. podia ser luz, ou calor. podia ser homem, podia ser noite, podia ser escrever. ou tempo, eternidade, música, teia, laço, abraço, mundo. é difícil separar as palavras das ideias (e por isso entre as preferidas aparecem palavras tão feias). mas é, sobretudo, difícil separar as palavras umas das outras e, nessa misturada, quase impossível encontrar a nossa.
Etiquetas: Jorge Reis-Sá, livros
terça-feira, janeiro 15, 2008
corda na garganta
Ás vezes respiro, outras sinto apenas a corda a apertar. Ás vezes chove e a corda range húmida contra a pele. Ás vezes...de corda na garganta.
segunda-feira, janeiro 14, 2008
1º de Março
domingo, janeiro 13, 2008
persistência

já aqui o confessei: tenho este handicap mas gosto da mulher Agustina. e por isso insisti num livro dela. uma espécie de biografia. e gostei do muito que soube a pouco (lido num instante uma noite antes de adormecer). será que uma biografia não é bem um livro? será que a realidade é uma tentiva falhada de imitar a ficção?
a Helena explicou há tempos o fascínio da biografia: "Não sei precisar o que me atrai na leitura de uma biografia. Se a percepção da pequenez na grandeza o que permite num instante, da nossa pequenez, fazer grandeza ... se a confirmada constatação que qualquer história de vida é por si mesmo bonita, sobretudo quando descontextualizada da própria vida... se, se... não sei. Para além da curiosidade pura e, neste caso particular, da inveja de tanta tertúlia, de tanto excesso, de tanto prazer."
a palavra fascínio nunca se gastará com a Agustina mulher, personagem e escritora.
"Eu só queria escrever, entrar no coração das pessoas e beber-lhes o sangue, avançando sempre, criando enredos e fazendo saltar os personagens das páginas. Há pouca gente que perceba que escrever é uma danação em que às vezes se têm encontros com Deus. Eu perguntava: lutar com o Anjo, o que significa Jacob lutou com o Anjo e ficou aleijado para sempre. Esse aleijão é a pessoa que tem uma ideia sobre a sua existência na terra e lhe dá forma pelas palavras, rios de palavras, rios de incertezas profundas."
Agustina Bessa-Luís, O Livro de Agustina (Guerra & Paz 2007)
Etiquetas: Agustina Bessa Luís, livros
quinta-feira, janeiro 10, 2008
+ 44
Assim na minha vida os números ganham razão. O que me calhou este ano pelos anos é o «ráqui-ráqui», capicua, nome atribuído na cantilena do jogo do loto na Gândara. Diz uma lenda que mesmo agorinha inventei, que a cada ano se deve somar uma mulher e que as que vão ficando nos deixam pelo menos uma breve história para contar. Às que vão ficando, segundo a lenda, deve-se deixar música...V. Valse des fleurs
Devolvo-te uma, ao acaso, das da valsa das flores que enviaste. Assim, repetindo, habituar-se-á ao caminho, que será sempre semente de outras valsas, libertando cheirinho bom, sabes, daqueles do champô que duram a primeira hora da manhã, tão volátil e tão fresco como as nossas cumplicidades. Apontei o Tchaikovski. E devolvo para o caminho outras folhas de flores. De uma delas faremos um chá para outras conversas sempre que das palavras nos necessitarmos. Parabéns! terça-feira, janeiro 08, 2008
para o meu amigo
domingo, janeiro 06, 2008
sábado, janeiro 05, 2008
antigamente

Etiquetas: país de cristal, TV
nostalgia pura

Etiquetas: país de cristal, TV
19 - Aviso é preciso!
sexta-feira, janeiro 04, 2008
Apetece
Sabias que todas as minhas economias estão a ser poupadas para o teu enxoval de alegrias? Dentro de uma caixa de música, feita de cedro, guardo o tempo da espera, o verde da água de não nos vermos, o búzio onde se ouve o mar onde nos conhecemos, a pulseira de contas com todos os contos da feira de S. Mateus, o anel que te sairá como brinde no bolo-rei do próximo Domingo de Reis, partida do mapa cifrado (se comeres a minha fatia!) com o caminho tintim por tintim iluminado por um candeeiro de rua para nos termos.quinta-feira, janeiro 03, 2008
O legislador
O legislador virá um dia e dirá que é proibido fazer amor com a barba por fazer. E dirá que o vinho legal será todo de syrah. E que todas as meninas se chamarão Eva e todos os meninos Adão. E que todos os peixes, o pão e todas as carnes serão confeccionados em pias baptismais. E que todos os cinzeiros passarão a peças de ourivesaria. E que as abelhas guardarão o mel em preservativos. E que todas as notas do banco serão impressas em toalhinhas “RENOVA”. E que todos os teus beijos serão escrutinados primeira e assepticamente nos lábios de um anjo pardo enviado por Deus Vosso Senhor. Até um dia a coisa mudar, até ao dia em que os boletins de voto forem impressos em rolos de papel higiénico. quarta-feira, janeiro 02, 2008
BCP
Um tal de Jardim Gonçalves escreveu-me hoje. Sim, sou um reles accionista do banco das vigarices. A desejar bom ano? Não! A dizer que cessa funções e que não poderia deixar de dar uma palavra pessoal aos Senhores Accionistas. Palavra pessoal, repito. Tratando-me por Exmo(a) Senhor(a), questionando o meu sexo, está tudo dito. Nem sei se estou ainda no grupo dos accionistas ou já nos “stakeholders”, tal é a confusão da casa e mal percebo o dialecto assumido do banco, num madeirense malandro à Berardo, voz de outro Jardim.Aqui me fico. Darei ordem de venda assim que der em resultado líquido para uma caixa de cigarrilhas, que irei fumar à socapa, agora que os fumos estão proibidos mesmo nos espaços como este já perdidos.
terça-feira, janeiro 01, 2008
Ano que chega
a transitar
Etiquetas: festejos, o tempo que passa






