antigamente
antigamente não havia televisão em todas as casas. na minha entrou um dia (calculo que em 1970) um aparelho emprestado: era da empresa sueca onde o meu pai trabalhava. dizia-se lá em casa que a televisão era dos patrões do pai e eu, muito miúda, achando que patrões seriam indivíduos aparentados com os ladrões, vivia perturbada a colaboração da família naquela operação ilícita.
depois não percebia porquê tanto alarde à volta de um caixote onde apenas passavam imagens fracas e descoloridas de homens imensamente aborrecidos. lembro-me de estar com os meus irmãos em frente ao "Se bem me lembro" do Vitorino Nemésio: tirávamos o som e ficávamos a gozar com ele por gesticular muito e pelos seus óculos de fundo de garrafa.
depois, aos poucos, foram aparecendo os desenhos animados. nada que se assemelhe à programação infantil dos anos mais recentes. não. os desenhos animados eram acontecimentos que ocorriam sem aviso prévio, sem hora nem dia fixo, por períodos de tempos que me pareciam sempre meteóricos, por vezes apenas com a duração suficiente a cobrir o atraso de qualquer outro programa. invariavelmente apanhávamos as histórias a meio e queríamos sempre só mais uma que nunca vinha. do Speedy Gonzalez, do Calimero, dos Barbapapa e do Chapi Chapo guardo uma memória equivalente à das paixões platónicas nunca correspondidas.
Etiquetas: país de cristal, TV
1 Comments:
Ai rapariga, que saudades me deste! E o Woody Woodpecker (acho que era assim que se escrevia)? Agora qdo vejo o que as meninas vêem, é só tiros, putos parvos que arrotam e fazem cocktails mal-cheirosos com que presenteiam os amigos. Sem graça! Abrçs
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