"(...) Visões fugidias de rostos, relâmpagos de memória, de encontros, ocasiões perdidas, remorsos, telefonemas que não fiz, desculpas que não aceitei porque não compreendi. Tudo confuso, desordenado, febril, estranho como um prenúncio de delírio, a improvável e dolorosa mistura da apatia com o desencanto, as desilusões e o desassossego."
As every flower fades and as all youth
Departs, so life at every stage,
So every virtue, so our grasp of truth,
Blooms in its day and may not last forever.
Since life may summon us at every age
Be ready, heart, for parting, new endeavor,
Be ready bravely and without remorse
To find new light that old ties cannot give.
In all beginnings dwells a magic force
For guarding us and helping us to live.
Serenely let us move to distant places
And let no sentiments of home detain us.
The Cosmic Spirit seeks not to restrain us
But lifts us stage by stage to wider spaces.
If we accept a home of our own making,
Familiar habit makes for indolence.
We must prepare for parting and leave-taking
Or else remain the slaves of permanence.
Even the hour of our death may send
Us speeding on to fresh and newer spaces,
And life may summon us to newer races.
So be it, heart: bid farewell without end.
(Translated by Richard and Clara Winston,in: The Glass Bead Game (Magister Ludi),p.444 New York: Henry Holt,1990 An Owl Book ISBN 0-8050-1246-X)
a quem me disser o nome do autor deste pedaço viciante de poesia, publicado num fanzine dos anos 80 (transcrito com erros e tudo):
ORDEM DO DIA & CAOS NOCTURNO "DUAS COBRAS NO TRIBUNAL DUAS MULHERES TREMEM ENQUANTO OS RÉPTEIS COSPEM VENENO EM PLENA AUDIÊNCIA" Malcom Lowry de noite... eh pá, vamos beber um copo? já não bebo um copo contigo há muitas luas. por onde é que tens andado, que eu nunca te vi na vida? depois podemos afastar os móveis, há cerveja no frigorífico, o gato chama-se silvério & eu beijo-te o sovaco e a boca. as plantas respiram o mar. campaínha: são duas cobras. vendem manuais para encantadores de serpentes. as vizinhas compram tudo, eu fecho a porta. ad usum, as laranjas. há cerveja no fri... a televisão acendeu-se sozinha? - sapateado alentejano = espaço (lentamente). o silvério desligou-a e pôs um disco de free-jazz medieval. sou um tímido: com os ombros repletos de penhascos. tenho que usar um shampoo contra esta chatice! o dia esteve cheio de aviões desviados, julgamentos de ácidos, atentados ao murro, prémios do totoloto, vinho verde & açúcar amarelo. não gosto deste carnaval. & os semáforos. vamos beber? já não bebo um copo contigo há muitas luas. por onde é que tens andado, que eu nunca te vi na vida?
não há festa sem música. não há memória sem música. não há tempo não há história não há quase nada em mim sem uma música por dentro, sem música em volta, sem ela. essa língua franca.
«Meu nome é Ana e sou viciada em música É ela quem me chama quando eu já não estou lúcida Quando o mundo desaba e o coração se quebra É ela que o cola e sara, ela é que me devolve à Terra»
um texto belíssimo no Público de ontem, de Santana Castilho, sobre ser professor.
«Deverá esse “superego” atípico impedir que os professores empurrem as crianças pelos corredores da pressa e do utilitarismo, quando as deviam guiar pelos trilhos calmos do personalismo e dar-lhes tempo para terem tempo? Trilhos onde os livros tradicionais ganhem aos meios electrónicos, a memória seja uma qualidade intelectual respeitada e o silêncio cultivado como meio para nos encontrarmos connosco próprios, aprendendo que até um cabelo projecta a sua sombra.
A missão de um professor é também impulsionar e acelerar a evolução da humanidade dos seus alunos, tornando-os mais sensíveis, ensinando-os a distinguir a verdade da mentira, a justiça da injustiça, a humildade da vaidade, a bondade da inveja. O desiderato de um professor é também ter alunos que prefiram uma derrota com honra a uma vitória com trapaça, que escolham a gentileza à brutalidade, que prefiram ouvir a gritar, que saibam que chorar é próprio de quem sofre, não diminui e, quando acontece, só engrandece. A obrigação de um professor é também ensinar aos seus alunos que só aquece aquilo que se consome, que a falta de uma só trave pode tombar todo um sistema, que é mais difícil fazer o que o coração dita que o que os outros esperam, que é impossível tocar uma nuvem mantendo os pés no chão, que são os erros e as esperanças desfeitas que ajudam a crescer e que, citando Confúcio, “não poderão mudar o vento mas poderão ajustar as velas do barco para chegarem onde quiserem”.»
hoje sonhei que voava ao longo da costa, sobre o mar muito azul e umas arribas que não sei onde ficam. e enquanto voava cantava esta canção sublime, em particular a parte: «por fora não se vê / que por dentro é desamor».
trevas que chamam
o corpo para a escuridão
corpo que sente
mas que não resiste
serve-me apenas
um travo dessa ilusão
ou uma chama
que nos leve daqui
viajei numa vaga intensa
que poucos conhecem
preparei uma valsa negra
que não nos desfaça
fora do coração
deixo o que me faz mal
deixo as coisas que
fazem sofrer
p’ra superar melhor
para por longe a dor
e sem mais demoras sermos nós
o meu maior valor
Por fora não se vê
que por dentro é desamor
por fora não se vê
que por dentro é desamor
viajei numa vaga intensa
que poucos conhecem
preparei uma valsa negra
que não nos desfaça
fora do coração
deixo o que me faz mal
deixo as coisas que
fazem sofrer
p’ra superar melhor
para por longe a dor
e sem mais demoras sermos nós
o meu maior valor
Valter Lobo no festival 'Bons Sons', este verão. assim, neste por-do-sol, neste coreto, com esta precisa canção o ouvi pela primeira vez e me rendi de imediato.
eu com a minha aversão a multidões e a filas e a confusões subitamente aqui em casa a invejar quem está na Cova da Iria, os que chegam, os encontros, a fé e a esperança imensas que ali se respiram, o silêncio que foi possível entre tanta gente, a comoção, as Avé Marias, a Paz, a Paz, a Paz rezada vezes sem conta, as luzes sem fim à noite, os olhos cerrados de alguns, os olhos abertos de outros, a força impermeável que todos exibem.
(fotografia de Paulo Pimenta, no Público de hoje)
Francisco é o Papa que se define como «um Homem de pensamento incompleto». fala insistente e genuinamente dos desterrados, dos excluídos, dos infelizes, dos deserdados. chama-nos a mudar o mundo, todos os dias, um passo de cada vez.
Sou tão enthusiasta pelos caminhos de ferro, que, se fosse possível, obrigava todo o paíz a viajar de comboio durante 6 meses (Fontes Pereira de Mello)