saudades ( assumidas)
Fiquei a preto e branco. Senti os braços que já não existem para neles caber o fim do mundo. O comboio a partir de mim. A corda da viola a estourar. A fogueira a apagar. O choro, a noite, a dor e o estalo.
Na vida de nós os três, as estações de comboios foram lugares intensos e únicos. As mesmas estações, na nossa vida. Foram lugares de começo e fim e neles, fizemos todas as aprendizagens essenciais.
Fui levada a um álbum antigo de fotografias dispersas e soltas e acabei, inesperadamente, por virar preto e branco e sentir a saudade a roçar directa na pele.
Tenho saudades do tempo onde estas estações existiram e onde outros homens não tinham morrido. 66 anos, faria o hélder. “tão novo...“ penso dolorosamente agora, eu que um dia lhe chamei velhote. E vejo-o ali, no frio das noites da serra, a afinfar uma sopradela, a crescer para trás em gerações sucessivas, a ensinar-nos quase tudo do que se deve saber para sempre. Provocador. Infantil. Rebelde. Crente. Azul.
Pouco mais que uma década e morremos na idade da morte dele.
Há depois uma imagem e uma frase que me estremece. “Morreu um anjo: Bruno Lopes”... e eu que soube essa morte, nunca a soube. Quase me surpreendo, passado estes anos todos. Um anjo feito de uma matéria destrutível. Azul.
Trabalho e tenho a minha janela virada para a porta da casa antiga dos seus pais. Com frequência recordo as noites que ali começaram e acabaram com absinto no bar da comuna e lembro dele essa alma destrutível. Azul.
Nenhum dia hoje tomo café na esquina da sua rua e estou lá todos os dias. Ele não vem e eu penso que é por causa da chuva, nunca da sua morte.
Há depois as fotografias e os nomes, inúmeros, dos que não conheci mas de quem o hélder sempre falou. As imagens deixam de todos, a felicidade que um dia nos passou. O mesmo estalar de quem cresce, de quem apreende, de quem se faz. Num mesmo lugar com uma mesma referência. Saudades de quem nunca conheci. Que farão agora no mundo ?
Ás vezes também tenho saudades de agora. Mas hoje não. Ficou tudo a preto e branco. Ficou tudo no que já foi feito e nos fez.
Só poucos, isto entenderão. Aqueles que um dia julgaram morrer num abraço cortado a comboio.
Na vida de nós os três, as estações de comboios foram lugares intensos e únicos. As mesmas estações, na nossa vida. Foram lugares de começo e fim e neles, fizemos todas as aprendizagens essenciais.
Fui levada a um álbum antigo de fotografias dispersas e soltas e acabei, inesperadamente, por virar preto e branco e sentir a saudade a roçar directa na pele.
Tenho saudades do tempo onde estas estações existiram e onde outros homens não tinham morrido. 66 anos, faria o hélder. “tão novo...“ penso dolorosamente agora, eu que um dia lhe chamei velhote. E vejo-o ali, no frio das noites da serra, a afinfar uma sopradela, a crescer para trás em gerações sucessivas, a ensinar-nos quase tudo do que se deve saber para sempre. Provocador. Infantil. Rebelde. Crente. Azul.
Pouco mais que uma década e morremos na idade da morte dele.
Há depois uma imagem e uma frase que me estremece. “Morreu um anjo: Bruno Lopes”... e eu que soube essa morte, nunca a soube. Quase me surpreendo, passado estes anos todos. Um anjo feito de uma matéria destrutível. Azul.
Trabalho e tenho a minha janela virada para a porta da casa antiga dos seus pais. Com frequência recordo as noites que ali começaram e acabaram com absinto no bar da comuna e lembro dele essa alma destrutível. Azul.
Nenhum dia hoje tomo café na esquina da sua rua e estou lá todos os dias. Ele não vem e eu penso que é por causa da chuva, nunca da sua morte.
Há depois as fotografias e os nomes, inúmeros, dos que não conheci mas de quem o hélder sempre falou. As imagens deixam de todos, a felicidade que um dia nos passou. O mesmo estalar de quem cresce, de quem apreende, de quem se faz. Num mesmo lugar com uma mesma referência. Saudades de quem nunca conheci. Que farão agora no mundo ?
Ás vezes também tenho saudades de agora. Mas hoje não. Ficou tudo a preto e branco. Ficou tudo no que já foi feito e nos fez.
Só poucos, isto entenderão. Aqueles que um dia julgaram morrer num abraço cortado a comboio.
5 Comments:
"As memórias são
Como livros escondidos no pó
As lembranças são
Os sorrisos que queremos rever, devagar
Queria viver tudo numa noite
sem perder a procurar
O tempo, ou o espaço
Que é indiferente p'ra poder sonhar
Quem foi que provocou vontades
e atiçou as tempestades
e amarrou o barco ao cais
Quem foi, que matou o desejo
E arrancou o lábio ao beijo
E amainou os vendavais" (Trovante)
foste tu, hoje foste tu
(há dias em trabalho conheci uma ex-mocamfina, ainda mais ex que nós, desses nomes que o HR nos ensinou; nunca nos tínhamos falado e ficamos ali um almoço inteiro à conversa a suspirar por campos e pelos nossos filhos neles)
haverá ex mocamfinos ?... uhm...
Ainda hoje me lembrei de ti, nessa Lisboa, a ver passar os barcos no Tejo. E essa música, Mónica... saudades, não é?
Voces sao muito bonitos!
Beijo grandes e ujm abrazo apertado.
Nuno
lindo lena, lindo...
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