Maio em Valdeiglesias II, a Sierra Oeste de Madrid
Então conto. Fomos pelos aromas em ‘catas’ de vinhos, esqueçam agora um pouco a água nos olhos do arquitecto. Os monges plantaram ali a primeira vinha e ensinaram aos vindouros as artes mais primárias. Cistercienses, disse-nos Mariano no seu saber que não teriam os saberes das letras, mas tiravam da terra os segredos das cepas, do trigo, das ervas aromáticas e dominavam o percurso da água como as águias sabem do voo mais rápido para o alimento. Vi vinhedos centenários. Vi as artes novas da Califórnia a prazer de condes antigos. Num castelo visitado por festas de reis, dançámos essa leveza monárquica, andando em constantes vénias pelos vinhedos, cheirando as rendas das folhas entre os folhedos, decalcando dúvidas sobre as nossas certezas, sabendo das memórias do conde com pedra gravada a assinalar que «S. M. El Rey D. Afonso XIII honró com su presencia esta casa asistiendo à la caceria». Vinho «El Rincón», que anda aí pelos espaços gourmet com rótulo poético, falando da vida com a mesma melodia com que cantamos a família. Na sala de ‘cata’, calhou-nos nos copos um fio de azeite e, aperfeiçoada a boca, caiu nela um vinho à base de Syrah, casado com a Garnacha Tinta, alertando para o prazer que sobraria da despedida. A cepa da Garnacha a criar uvas, futuros olhos cor de púrpura, olhos de um outro olhar de uma mulher de que por uma vez mais me enamorei. Quando ouço o Scolari em publicidade primária a querer dedicar-se à vinicultura, azeda-me o vinho que aqui à frente tenho para o teu copo. Garnacha, os teus olhos que nos darão vinho para o que nos baste!
1 Comments:
Que gosto, David. Acho que vou abrir uma garrafa de um dos do Sul que tenho cá em casa e voltar a ler-te, logo à noite, de copo na mão. Até mais tarde.
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