duas... mulheres
Quem por aqui passa sabe que duas mulheres me vão consumindo na linha do Norte quase todas as horas das noites e alguns minutos distraídos dos dias. De dia poucas vezes estamos, as almas andam vinculadas a outras tarefas mais mediáticas, trabalho e caramelos com beijos decisivos. Uma saiu exausta do emprego para uns dias de férias. Outra manteve um jogo a duas linhas até que sentiu tempo de partir, deixando que um homem vulgar apanhasse o comboio, saindo, ágil, de uma relação de pretensos afectos.
A primeira poderá pegar o jogo na volta do regresso, como no Molero «dê a Molero as férias indispensáveis a uma convalescença perfeita, pagas e com bónus, dê-lhe também um abraço meu, mande passar o relatório a limpo depois de Computer o submeter a análise, para eu o levar a quem de direito, e entregue o assunto a outro homem do departamento, talvez Octopus, que está livre. Ele que comece onde Molero acabou».
Não é outro homem, é M, uma mulher da linha que poderá seguir o «caderno de duas linhas» se se der ao jeito. E sobre Molero sabe tudo que baste.
A outra, H, saiu leve como as asas de um beija-flor. Beijou o que havia para beijar, mandou SMS, lê agora um livro por dia e diz que regressa.
Sem elas fico atento à linha. Nunca foi tão decisiva a minha lanterna guiando o trilho, o meu olhar focado no relógio das horas com decisivos segundos e o antigo ouvido ampliado para a voz roufenha do altifalante. A vantagem é que sei que voltam. Por uma linha da linha. Quando «voltar para férias», apenas à tarefa de as cumprir, elas deixarão um rasto de palavras decisivo para responder certeiro. A três linhas. Aguardo por isso. Deixar-me-ão lamber o papel do caramelo que as embrulhará como um desafio. E a uma outra voz doce, uma de duas, duas das duas, responderei - «Brothers in Arms».
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