caderno de duas linhas - VI
«Vê no bar se há gin, não era o que querias ?», disse ela depois de deixar a água sulcar a pele, a enrolar toalha no corpo.
O quarto estava escuro, janelas abertas, estores corridos. A noite quente e um ligeiro ruído da cidade. O vestido sobre a cama, o xaile vermelho na cadeira.
Tinha-o levado a dançar e o homem dançou a noite com o balcão. Encostou-se a ele e deixou-se. Mãos no bolso, olhar estranho. Impaciente, pegou-lhe pela mão e levou-o pelas ruelas até ao Hotel Zarampallo. Cigarro na mão que lhe resta. «Vamos arder... arder o verão, o engano e esta faena...».
Subiram em silêncio no elevador antigo com porta de correr. Segundo andar. Ela abriu a porta do quarto e entrou. Ele seguiu-a, sentou-se na cama e acendeu a cigarrilha. Ela desfez a cama atirando para trás os lençóis, amarrotou a voz e disse-lhe: «Sr. Carteiro, faça o favor...» e foi entregar-se à água tépida, limpar do corpo o pó da viagem e a sensação áspera que aquele engano lhe deixava. Trauteou no banho enquanto o silêncio se ouvia do quarto. A porta fechou-se quase em surdina. O cheiro a cigarrilha ficara.
O quarto estava escuro, janelas abertas, estores corridos. A noite quente e um ligeiro ruído da cidade. O vestido sobre a cama, o xaile vermelho na cadeira.
Tinha-o levado a dançar e o homem dançou a noite com o balcão. Encostou-se a ele e deixou-se. Mãos no bolso, olhar estranho. Impaciente, pegou-lhe pela mão e levou-o pelas ruelas até ao Hotel Zarampallo. Cigarro na mão que lhe resta. «Vamos arder... arder o verão, o engano e esta faena...».
Subiram em silêncio no elevador antigo com porta de correr. Segundo andar. Ela abriu a porta do quarto e entrou. Ele seguiu-a, sentou-se na cama e acendeu a cigarrilha. Ela desfez a cama atirando para trás os lençóis, amarrotou a voz e disse-lhe: «Sr. Carteiro, faça o favor...» e foi entregar-se à água tépida, limpar do corpo o pó da viagem e a sensação áspera que aquele engano lhe deixava. Trauteou no banho enquanto o silêncio se ouvia do quarto. A porta fechou-se quase em surdina. O cheiro a cigarrilha ficara.
Enrolou-se nua no xaile, agarrou a carta e não a abriu, sentou-se no cadeirão junto à janela. Sei que é ele, ele o carteiro da terra do mar. O homem que engana as missivas, aquele que não mareia a morte como os homens da terra e resolveu inventar histórias ao trocar as cartas. O homem que vive da alma trocada, da alegria do acaso. O homem que se sente deus sem mar.
Fora ela que mandara uma carta, com destinatário errado, para a terra da pouca gente e mar. Mandara para chegar ao homem certo, a ele. Lhe ficar nas mãos. Apareceu no comboio disposta a levá-lo para longe do mar, a atirá-lo para uma cama e lhe escrever na pele uma carta. Letra redonda e bonita, nas costas do amor, riscada na pele. Seria assim que ela se vingaria.
Dele ficara apenas o cheiro a cigarrilha. Abriu a carta dele e leu-a. Vestiu o vestido, ligou para a recepção a pedir um gin Bombay, e agarrou as chaves...
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