quarta-feira, julho 19, 2006

desvio no caderno de duas linhas



( fotografia de Jorge Molder )

Hoje vou falar de um irresistível blog. Banana Killer& CO (http://bananakillers.blogspot.com/) . Um blog feito de gente que viveu na mesma linha do mar, entre estações e linhas de comboio, a cheirar iodo e sal, a fazer pelo lado direito e avesso da vida . Feito de gente que cabia na mesma escola, que teimava em caber no mundo inteiro nem que não saísse do apeadeiro, do quartinho ou da praia.

Um blog que parte de uma banda ( BKC) para uma adolescência, para a uma errância, para um respirar mesmo em cima da memória que chega a embaciar as fotografias... um blog que cresce para trás.

É-me irresistível. Espreito amiúde. Deixo-me de vez enquanto, como me compete. Porque só de vez enquanto lá estive. Muito de vez enquanto. No apeadeiro, no quartinho ou na praia. Apanhei sempre um comboio para lá chegar, numa paixão ou pelos amigos.

Sei as histórias quase todas, identifico pelo tacto os lugares, reconheço a alegria e as pessoas que a compõem. Porque as ouvi sussurradas, as histórias, ou porque mas escreveram. Recebia muitas cartas dessa terra prenha de mar e nelas me chegavam histórias e fotografias para além de um pouco do nevoeiro das manhãs do norte que tanto saudava eu a sul.

Não sou feita daquela memória e tenho-a. É uma espécie de memória, minha, em braille.

Dessa gente tenho amigos que, para além de me terem ficado eternos, se abeiram tanto da minha própria memória que com alguma facilidade se promiscuem as memórias. Se contagiam. Se confundem.

Dessa gente tenho gente para o afecto. Por muitos deles tenho uma estima cativa no tempo. Um carinho de e para sempre. Feito menos de nós e muito mais de tudo o mais. ( o homem que quis atropelar o comboio, é aquele que recordo como sendo o que sempre me recebeu de forma mais calorosa. Assim o sentia eu. Tal como o aquele outro, no qual em casa muitas vezes ficava, que me mostrava os carochas com orgulho estampado e que gosto particularmente de o reencontrar a comentar).

Dessa gente, há alguns com quem talvez nunca me tenha cruzado e no entanto reconheço-os.

É-me irresistível esse blog. Memória de pele que não tive mas senti. Arrepia, lembra, aperta às vezes. Coisa para usar e abusar. Bem haja, BKC!

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