o meu filme da linha
Chegou o calor decisivo a Coimbra B. Os carris dilatam-se como corações apertados de saudade e não sei se esta, apanhada de surpresa, chega agora com todos os poros disponíveis a Sta. Apolónia ou Campanhã.
Coimbra B é esta noite a estação do «Aconteceu no Oeste» do Sérgio Leone. Os 19 minutos fabulosos do início do filme e, porque bebo agora um copo fresco, também a Malaposta onde a mesma água-de-banho lava muitos futuros cadáveres.
Disse ele e eu acredito, porque vi o filme uma boa dúzia de vezes, que “todas as personagens do filme, excepto a de Cláudia Cardinale, têm consciência do facto de que não vão chegar ao fim vivas”.
Não há telégrafo para vos fazer chegar outras palavras – registo-as apenas!
Os guarda-pós guardaram as balas no corpo. Três. O nosso número sempre mágico.
Ennio Morricone deixou um rasto de música genial que se prolonga na flauta de beiços de Charles Bronson.
O meu filme da linha é decididamente este percurso de comboio.
«Aconteceu no Oeste».
Poderia acontecer em Coimbra B, partindo de Sta. Apolónia com destino a Campanhã ou o seu também possível inverso na mobilidade que nos une. Tenho, se virem o filme, a placa escondida “Estação” (parecida com as placas, H, que roubámos numa manhã sem sono ao autocarro de focinho longo nas Preces...) e faço café como ela, Cardinale, na brasa, para vos receber como essa assumida mulher de família na dignidade irlandesa.
Antes deste deitar que se anuncia nos olhos, vou pelos menos ver esses 19 minutos do começo... já vejo sem ainda ver a mosca no cano do rifle... já ouço sem ainda ouvir a água a cair, dura, na aba do chapéu...
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