«voltar para férias»
Quem tem o privilégio de fazer o que gosta e ser pago por isso (avalia-se com o tempo!), as férias são um interregno sem valor essencial. São descanso de rotina, tipo fazer a revisão ao motor e mudar o óleo e a correia de transmissão.
Sinto esse privilégio em cada dia que passa. Gosto do que faço. Tenho consciência que sou dos poucos neste mundo que o podem afirmar e tenho isso como uma dádiva da vida. Por isso, «partir para férias» não me traz um legado de prémio ou desejo, obriga-me a conjugar «partir» como quem o faz com nostalgia.
O que procuramos nas férias tenho no trabalho em abundância. Novas gentes, novos lugares, ler e escrever muito, desafiar, propor, descansar quando o corpo o pede cúmplice. E um copo e prato certos em fins-de-tarde onde aclaramos o mundo e a vida com quem gostamos. Partilha.
Então digo «voltar para férias».
E conjugo «voltar» no duplo sentido de ir, sabendo que o regresso é premiado.
Até um dia perverso?
posted by David (em Coimbra B) @ 00:26
2 Comments:
que mau que tu és, a fazer-me inveja! é que eu gosto do meu trabalho... quando lá estou porque depois... fico tão bem longe dele. era capaz de ficar de férias 2 anos (como na série dos anos 70, lembras-te?)
o quê ao certo nas férias? dormir sonos densos, acordar devagar ao sabor dos dias, comer a comida espantosa que é a que não cozinhamos e cuja louça não lavamos, ver as crianças horas a fio, as mil e uma coisas que elas fazem no que seria uma tarde de trabalho instantânea, amar devagar, pele contra pele, sol sol e mais sol e, claro, ler por atacado, de preferência ar livre, mas também no sofá, na cama, sem a contabilidade mesquinha das horas que faltam para a manhã seguinte, ler de manhã, à tarde e à noite, ler histórias, sagas, crónicas, contos, jornais, embrenhar-me pela escrita dentro...
era capaz de viver assim, para sempre.
Espero que repouses e te divirtas, M. Com H (já viste o desafio?)manteremos a linha em grande. Run rabbitt, run... se nos queres apanhar...
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