segunda-feira, setembro 08, 2008

caderno de duas linhas IX - FIM

Sim, ainda aqui estou à espera como um farol que ilumina o destino dos barcos ao Porto certo. Ela vive agora num círculo de giz, disse-me à pressa ao telefone o Labitinha (que a contactou) e disse, entre um «volta, deixa lá, bem a Coimbra B beber um copo!», que criou raízes num perímetro cada vez mais estreito e suspeito, razão íntima para o nosso eterno desassossego. Não apareceu hoje. Pronto, tenho que acreditar que anda doidinha para aparecer como um astro novo no firmamento. Sinto que estou perdido. Estamos perdidos. Quando fomos abelhas e tínhamos asas e essa mobilidade que nos dava dez reis de juventude, sabíamos o sítio onde nos encontraríamos em busca do pólen necessário. Vivemos agora numa linha dúctil, que de tão forte se parte, porque partimos. Mas há uma energia mínima que nos acende o desejo. Segredos que só nós sabemos e que não posso contar-vos no seu todo. Contamos aos poucos por aqui…
Apanho o primeiro comboio que passa. Desço para o Sul onde os ossos ganham cálcio, os olhos novos lugares e os dedos se apertam durante a noite, uns entre os outros, como as contas contadas num rosário.
«Vai entrar na linha 2 o comboio procedente do Porto, Campanhã com destino a Lisboa, Sta. Apolónia. Atenção à sua passagem!»
Ouvi e saí. Campanhã e Sta. Apolónia. Se fosse homem de fado diria, diria ao Labitinha - que já estava à espera na plataforma de calções - «ouve, perdi por momentos o risco dos meus amores, que só o são na sua essência!».
Mas nada disse. Saltei para a plataforma de Coimbra B, apertei a mão ao Labitinha e dirigi-me para o bar.
«Pago um copo! Meteste-te com mulheres velozes, foi o que foi!» - disse ele, ajeitando-me a cadeira do canto.
Não comentei. Olhei de frente para o balcão e pedi à Cristina um gin tónico e um vinho do Porto.
«Estás doido?»
Acho que ainda disse. É por estes copos que me desassossego com as duas. Uma partiu. Outra ficou. Bebi os copos de um trago, saí para o carro e voltei a casa, pensativo. Que húmus temos ainda em comum? Lembrei-me do poeta «nunca estivemos tão perto de ser música…», queres ver que só as tornarei a ter, assim, presentes como um presente, num caderno de música?
Deixarei andar o tempo. Lá para o Verão, verão, haverá outro caderno de duas linhas… mas o que eu queria, confesso, era no entretanto do tempo um copo a três!

2 Comments:

At 2:45 da tarde, Blogger Cristina Gomes da Silva said...

O balanço das perdas é também o balanço dos ganhos! :)
Abraço da linha do Sado

 
At 3:15 da tarde, Blogger Mónica (em Campanhã) said...

a fto está tragicamente bela

agrada-me a ideia de um caderno de música, era capaz de correr melhor esta escrita ao desafio...

 

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