terça-feira, outubro 17, 2006

digitar


Acabo de conferir uma inevitabilidade. Preciso de escrever, ponto, parágrafo.
Fui disso sabendo com o tempo em vários formatos, muito para mim, tendencialmente para distintos destinatários. Percebi também que uma das mais-valias que me reserva o emprego é, mais do que as ideias ou a sua resolução, saber escrevê-las. Se no primeiro caso me empenho com alguma exigência (trabalhos da palavra), no emprego não há critério literário - e que sei eu disso! -, há uma oferta que sei rara para quem me lê: objectividade e bom senso.

No primeiro acto ainda pego no lápis ou na caneta, (a oponência do polegar que nos distingue dos macacos) acendo os olhos para a minha letra – ou brilha a minha letra nos meus olhos – e cada frase que desta forma escrevo, inscreve-se na memória da escola, das cartas, dos bilhetinhos certeiros que desafiavam vidas lá longe, muitas agora pequenas e insignificantes como polegares.

No segundo acto os dedos identificam ritmadamente as letras no teclado QWERT como os cegos a imaginária paleta das cores. Aqui tenho dedos cegos, cada vez maiores para as teclas disponíveis, apurado tacto da escrita.

Por vezes, porque os dois se necessitam como os barcos dependem das rotas no alto mar, confundo-me apenas.
Ponto e vírgula.

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