crash
ontem vi-te e o mundo parou. não é imaginação minha, foi sempre assim. conheci-te em frente a um doente, dos nossos primeiros, e a noite (a música, a multidão, as luzes, a festa) desapareceu. os teus olhos de desamparo a instalarem um estado de emergência do desejo, saber quem eras e sofrer o trauma do impossível. desde então, se te vejo, sucedem-se as catástrofes. às vezes é nos telejornais, a tua beleza trágica e exasperante a disparar sirenes e alarmes e a deixar-me na boca o gosto do sangue quente. outras vezes, entro em coma e quando acordo estou em casa e não sei se voltarei a ver-te. noutras ainda, como ontem (não foi imaginação minha), duas ambulâncias a moverem-se lentíssimas e toda a rua à espera. tu a conversares e a rires ao telefone e eu a ver-te. os teus olhos que os anos todos que passaram tornaram ainda mais fundos e perigosos (capazes de me encarcerar em vácuo), o teu riso (senhor de me cegar). quando te perdi de vista, numa vertigem (de terror e vontade), acelerei o carro em direcção à parede mais próxima, certa de que me socorrerias e de que, no momento em que te tornasse a olhar, como sempre, tudo o resto acabaria.
Etiquetas: amor
3 Comments:
:) Lindo!!!
Também acho.
Um grande momento
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