Sábado a Oriente
Habita a casa ao lado um funcionário da embaixada Líbia em Lisboa. ( Só por acaso, um simpatiquíssimo casal jordano à alguns anos radicados em Portugal, no andar de cima). Restringimo-nos ao trato cordato dos cruzamentos matinais da semana. Acontece que ao sábado, depois de almoço, ao primeiro cheiro de sol, para além dos tapetes todos pendurados na varanda, a música exala da casa, sobre a qual ainda se ouve o cantarolar do dono, a entrar-me pela portada da varanda. De repente, ouço o mundo como se ele viesse todo do Oriente. A facilidade de sentir o cheiro a especiarias, o buliço das ruas e do trânsito, a estranheza indecifrável do linguarejar dos vendedores, o som das mesquitas , quando apenas tenho este canto da casa, a chávena do café forte e me preparo para folhear os semanários. De repente o mundo lá fora pode ser rente ao Mediterrâneo, eu possso acreditar que tenho chá na mesa e me preparo para folhaer o Alcorão, que sopra o siroco quente e seco e a poeira me faz fechar as portadas. De repente estou em Tripoli. Tudo isto sem me mexer da cadeira. Tudo isto com a certeza do Atlântico.
2 Comments:
Mundos à borla sem ter de fazer a viagem!
Adoro a maneira como acabaste este texto.
beijos, H.
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