terça-feira, abril 11, 2006

os comboios, Alice Vieira e Tolstoi


Alice Vieira gosta de comboios, dos filmes a preto e branco em cenários ferroviários, de "pequenos restaurantes, de soalhos a cheirar a sabão e cera, de mesas de ferro e madeira, e melancólicos criados que nos deixavam nas mesas grandes chávenas de chocolate quente, que agarrávamos com ambas as mãos para que o frio passasse mais depressa. Aí sonhávamos com os nossos heróis do cinema, esperando que chegassem no próximo comboio (....) o tempo da paixão, que começa e acaba entre um comboio que chega e um comboio que parte, com muitos violinos em música de fundo. E fumo. Nuvens e nuvens de fumo."

Neste livro (Bica Escaldada), na crónica "Dantes os comboios", Alice Vieira espraia-se neste imaginário de encontros, gares e personagens, e conta-nos que Tolstoi (o escritor que também era médico) um dia, já velho, saiu de casa, apanhou um comboio, apeou-se numa pequena gare longínqua (Astapovo) e aí se deixou morrer sozinho. Alice Vieira comenta que lhe pareceu "a maneira mais digna de morrer - sobretudo, como era o caso, aos 80 anos, depois de já se terem apanhado e perdido todos os comboios essenciais da vida."

nota: actualizei, com uma correcção e alguns links úteis o post "foi assim"

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