segunda-feira, agosto 24, 2009

romaria




Há em mim, às vezes, um lado exuberante e festivo que mais não é do que o meu sangue minhoto a manifestar-se. Direi que na minha vida errante de lugares se me cruzaram vários rios e bocados de serra de xisto, mas sempre houve o Lima, o rio, como lugar de origem e retorno. O leito do jeito.

Num ímpeto de Agosto quente a pedir festa, meti-me no comboio e atravessado o país pequeno cheguei a tempo das festas. Festas da Sr.ª da Agonia. Perdi o mar e a devoção dos pescadores que em procissão de traineiras levam a santa à foz do rio.




Mas cheguei a tempo da festa e nela, a tempo dos bombos na Praça da República. Todos os dias da festa, ao meio-dia, se juntam na praça os diversos grupos de bombos que acompanhados pelos gigantones e cabeçudos entram num despique feroz, quase profano, que ensurdece a alma e o lajedo de granito até ao rio. Nada me trás mais de dentro este sentimento forte de festa e pertença do que este desafio de bombos sobre o calor tórrido de Agosto, acompanhado pela dança irreal e colorida dos gigantones e cabeçudos. O insuportável belo da vida.







O cortejo histórico e etnográfico, de uma beleza imensa e variada, é uma história que se conta e uma história que se gosta sempre de saber. Feita de gente autêntica, feita da beleza das mulheres do Minho e do ardono do ouro, feita da variedade de trajes, feita da historia e do orgulho, feita do mar e das serranias. É sem dúvida alguma um cortejo muito interessante e rico. Talvez único.

Mas a festa acontece nas gentes que se ouram e vestem para sair à rua, no grupo de amigos que com concertina ou acordeão espontaneamente fazem uma tocata, no canto da Praça, no fim do jardim. A festa acontece nos grupos que vem da aldeia e se sentam no jardim ou para os lados do Campo da Sr.ª da Agonia e merenda e cantam ao desafio. A festa faz-se nas ruas, exuberante, sem programa, molenga de calor e vinho tinto.


Viana torna-se feliz como nunca, celebra a alegria na cor e no ouro, canta e desafia e em três dias mostra tudo o que guarda no nevoeiro dos Invernos, no frio que se entranha pela pedra e na sirene dos barcos à entrada do porto. Se Viana se recata todo o ano, Viana se exulta nestes dias de festa.

Não é uma festa, é verdadeiramente uma romaria. Que se desvenda como foguete: bonita, exuberante e estridente.





1 Comments:

At 1:23 da manhã, Blogger David (em Coimbra B) said...

Que saudades da «Volta ao Minho», dos King Ficher's Band e da tolice da Maria Alice...

 

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