segunda-feira, agosto 10, 2009

desterro


há lugares a que se regressa como se se nascesse de novo (sangue, dor, deslumbramento) ou como se o próprio mundo voltasse ao seu princípio (vácuo, luz, infinito). há histórias enterradas em nós, transmutadas em ossos. bocados de rio que nos invadiram o sangue. pedaços de nós (retalhos de pele, células da retina, fibras nervosas) que ali ficaram e se remexem, telúricos, quando voltamos.


vi a casa das Mimosas, cá de baixo, da central da EDP, olhando orgulhosa os zigue-zagues ao abandono. tão perturbante que não a consegui prender a uma fotografia. fiz uma promessa: hei-de voltar. subir a estrada de terra batida a seguir à última capela, sentir a temperatura a mudar de encosta para encosta à medida que se sobre, passar a fonte onde nos encontrávamos à noite, procurar a cerejeira brava que anunciava a casa, já ali. abraçar a montanha da varanda da sala. e continuar a subir, e continuar a andar. andar e andar, com o Alva lá em baixo, passar a Lagoa, ir mais uma vez à torre. eu hei-de ir, juro que hei-de ir.

tocar outra vez tudo o que lá deixei. renomear tudo o que de lá em mim vive. eu hei-ir.

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3 Comments:

At 2:07 da tarde, Blogger P. Páscoa said...

Este comentário foi removido pelo autor.

 
At 5:54 da tarde, Blogger P. Páscoa said...

Fantástico post…. Repleto de sensações, sadias recordações enfim, nostalgias de um tempo passado, suficientemente marcante para perdurar até ao culminar das vidas. Conheço intimamente todos esses nirvanicos locais de que falas, afinal eu nasci e cresci em plena comunhão com eles … fazem parte de mim assim como eu faço parte deles.

Foi com muito agrado que li o teu comentário no “Metamorfoses Vividas”. Deduziste bem, sou um dos “Páscoa” e sim, é claro que todos nos lembramos de ti, tenho a certeza que já nos cruzámos (pelo menos) num dos campos.
Existe efectivamente uma outra geração de “Páscoas” ainda activa no Mocamfe, são as minhas sobrinhas (Marta e Raquel) filhas do meu irmão Carlos.
Infelizmente os imprevistos da vida fizeram-me suspender (temporariamente eu espero), o meu percurso no Mocamfe mas quiçá um dia consiga regressar … e, se não for eu, talvez um dia a minha filha (agora c/ 2 anos) possa ingressar nesse movimento que foi (e julgo continuar a ser) um modelador de bons caracteres e um amplificador de sensações.

Um até breve… e espero que consigas cumprir a tua promessa de um dia voltar à Serra.

Abraço
Paulo Páscoa

 
At 1:01 da manhã, Blogger David (em Coimbra B) said...

Ai o que dizer. Desterro a que nos vamos habituando desse Desterro. Agora até era gajo para trepar já os zigue-zagues...

 

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